O caso Sagan no Tour acabou por levar à aplicação do VAR em 2018 (Imagem: print screen) |
A UCI não perdeu tempo. Em três semanas passou das palavras à prática e 2018 irá marcar a estreia do vídeo-árbitro. A opção de implementar este sistema foi anunciada quando foi enterrado o machado de guerra com a Bora-Hansgrohe. A expulsão de Peter Sagan do último Tour, após ter estado envolvido na violenta queda de Mark Cavendish durante um sprint, esteve no centro de uma das grandes polémicas do ano. Apesar de não ter sido assumido publicamente que a sanção terá sido demasiado severa, foi então decidido aplicar o sistema conhecido por VAR (sigla em inglês para video assistant referee, isto é, árbitro assistente de vídeo).
Ao contrário do que tem acontecido no futebol, por exemplo, os testes vão ser feitos logo nas principais corridas, ou seja, nas três grandes voltas (Giro, Tour e Vuelta), em quatro dos cinco monumentos (Milano-Sanremo, Volta a Flandres, Paris-Roubaix e Liège-Bastogne-Liège, ficando a Il Lombardia de fora) e nos Mundiais de Innsbruck, na Áustria. E como vai funcionar? Para começar foram eleitos quatro árbitros: um belga, um espanhol, um francês e um italiano. Um deles será sempre escolhido para completar a equipa de quatro juízes. Ficará responsável por verificar através das imagens captadas pelas câmaras da transmissão televisiva se há irregularidades.
Porém, haverá uma grande diferença comparativamente com o que acontece no futebol. Nesta modalidade a decisão final pertence sempre ao árbitro principal, mas no ciclismo, o juiz que tiver a função de ver as imagens terá poder de decisão. Por exemplo, Gianni Moscon recuperou tempo perdido quando ficou "agarrado" à garrafa que lhe era dada do carro de apoio. Esta "boleia" foi mostrada pouco depois em várias repetições, mas Moscon só foi desclassificado mais tarde. Com o vídeo-árbitro, o comissário que estiver na estrada é avisado e pode de imediato retirar o ciclista da prova. Desrespeitar a cancela de uma passagem de nível, ou uma outra atitude que viole as regras pode agora ser sancionada de imediato. O comissário que analisará as imagens terá o seu "estúdio" montado junto à meta.
Com esta medida espera-se uma maior defesa da verdade desportiva, mas a UCI quer ir mais longe, estando a negociar com as cadeias de televisão que fazem as transmissão a colocação de mais câmaras na zona da meta. É sempre uma fase delicada da corrida, ainda mais quando se decide ao sprint. Afinal, foi uma destas situações que acabou por contribuir para se tornar realidade um projecto já anteriormente falado, mas que não tinha saído da gaveta.
Peter Sagan ficará ligado assim ao VAR no ciclismo. O seu sprint irregular causou uma revolta dividida entre o cotovelo que Sagan levantou, com Cavendish a cair - de referir que o ciclista da Dimension Data tentou forçar a passagem junto às barreiras, o que provocou alguma discussão - e a sanção que acabou por ser considerada por muitos como demasiado pesada. Inicialmente o eslovaco da Bora-Hansgrohe foi desclassificado na etapa e perdeu pontos na classificação da camisola verde. O que parecia ser a decisão natural, acabou por ser transformada numa expulsão definitiva do Tour. E esta sanção mais pesada foi justificada precisamente pelas imagens televisivas, com os comissários a considerarem que Sagan colocou em causa a integridade física de Cavendish e de outros ciclistas (mais dois caíram ao não conseguirem desviar-se do britânico da Dimension Data). Em situações idênticas com outros corredores como protagonistas, a pena é normalmente a desclassificação na etapa e não a expulsão.
As imagens da meta são normalmente sempre de frente (além da câmara no risco para o photofinish) e do helicóptero. A UCI quer agora mais, para assim ter uma visão mais ampla de tudo o que se passa e analisar ao pormenor o que acontece numa altura sempre potencialmente caótica dada a velocidade que se atinge e ao número de ciclistas que procura a melhor colocação.
Se os testes forem positivos, então a UCI pondera integrar o VAR em todas as corridas que tenham transmissão televisiva. No futebol, o vídeo-árbitro não sido o elemento apaziguador de polémicas como se esperava, até tem criado novas - na Alemanha um juiz foi afastado acusado de beneficiar a sua equipa -, pelo que se aguarda com expectativa para ver o que de melhor poderá trazer ao ciclismo.
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