9 de dezembro de 2017

O ano da confirmação de Dumoulin e da mudança de objectivos da Sunweb

(Fotografia: Giro d'Italia)
A Sunweb tornou-se um exemplo de como é possível construir uma equipa e trabalhar numa evolução que a poderá colocar entre as mais fortes no que diz respeito às grandes voltas. Começou por apostar nos sprints, evoluiu para as clássicas e aos poucos foi preparando um jovem Tom Dumoulin para se tornar num voltista. Há dois/três anos pensar-se-ia ser impossível ver esta equipa ganhar uma corrida de três semanas. Para se perceber como de facto é um fenómeno recente basta ver como, no historial da equipa, Marcel Kittel e John Degenkolb detém juntos mais de metade das vitórias. Esta estrutura alemã criou um projecto sólido e com objectivos de tal forma definidos, que não se importou quando Kittel quis sair e também não se preocupou com a mudança de Degenkolb. O primeiro rendeu muitas vitórias de etapas no Tour, o segundo conquistou também dois monumentos. Tom Dumoulin ganhou a Volta a Itália em 2017!

O holandês tinha potencial para lutar por um pódio, mas ganhar acabou por ser uma pequena surpresa. As duas vitórias de etapa na Vuelta em 2015, mais a liderança, só perdida na última etapa de montanha, elevaram, e de que maneira, as expectativas. Excelente contra-relogista, Dumoulin demonstrava que tinha de melhorar na alta montanha. Em 2016 foi mais discreto a nível de geral, mas foi ao Giro ganhar o prólogo e no Tour ganhou duas etapas, uma à custa de Rui Costa. Além de individualmente levantar dúvidas se poderia enfrentar um Nairo Quintana, Alberto Contador ou Chris Froome, havia ainda o pormenor da Sunweb não ter a equipa mais forte para ajudar o seu jovem líder em ascensão.

2017 é o ano em que a mudança da estrutura foi concluída. Agora é lutar pelas grandes voltas. Dumoulin apareceu fantástico no Giro e mesmo perdendo Wilco Kelderman muito cedo, resistiu a todos os ataques quase sozinho e nem uma dor de barriga durante uma etapa o desviou de na última etapa ficar com uma camisola rosa que lhe assentou muito bem. Para a Volta a Itália, esta Sunweb chegou, mas para fazer frente à Sky era claro que não. O holandês não foi ao Tour e optou por saltar a Vuelta e pensar só nos mundiais. E foi a Bergen ser campeão de contra-relógio, batendo Primoz Roglic e Chris Froome. Estão abertas as hostilidades e espera-se que tenha sido o início de uma bonita rivalidade com o britânico. Antes Dumoulin tinha ajudado a Sunweb a conquistar o mesmo título, mas no contra-relógio colectivo. Froome e a Sky foram terceiros.


Ranking: 4º (8033 pontos)
Vitórias: 19 (incluindo duas etapas no Giro e a geral, quatro etapas no Tour e o contra-relógio colectivo nos Mundiais)
Ciclista com mais triunfos: Tom Dumoulin (5, mais o título mundial de contra-relógio individual)

Dumoulin e Froome tem encontro marcado para 2017, falta saber se já no Giro. A Sunweb precisa de garantir que o seu líder tem um apoio mais significativo. Kelderman esteve muito bem na Vuelta (foi quarto) e deverá ter outra oportunidade, até porque é claramente mais um ciclista em crescimento para as grandes voltas, mas não se livrará de ser o braço direito (e provavelmente esquerdo) de Dumoulin. Da Lotto Soudal vem Louis Vervaeke para certamente reforçar o bloco em redor do holandês.

Apesar de não esconder que ganhar o Tour é o maior dos planos, a Sunweb não está a concentrar-se apenas em Dumoulin. A contratação de Michael Matthews foi para garantir um homem para sprints - ainda que dificilmente para bater Kittel ou Gaviria -, para continuar a ter uma forte presença nas clássicas e o australiano já deu um grande bónus à equipa: a camisola verde no Tour. O bom de Matthews é que é um ciclista que não precisa de ter um forte apoio de colegas, sabendo aproveitar bem o que a corrida lhe proporciona. Também ajuda estar altamente motivado - nunca escondeu que a saída da Orica-Scott se deveu à necessidade de ter um novo desafio -, ao contrário do que acontecia com Degenkolb. Após o atropelamento durante o estágio, o alemão nunca mais foi o mesmo, nem mesmo na Trek-Segafredo, para onde foi este ano.

Matthews encontrou na Sunweb o espaço que procurava para assumir-se como candidato em determinadas corridas. Correspondeu com quatro vitórias, duas no Tour, mais a classificação dos pontos e deu indicações que poderá estar só a aquecer, principalmente ao que diz respeito nas clássicas. Nestas competições quer muito mais e melhor do que um quarto lugar na Liège-Bastogne-Liège.

Outro ponto que ficou claro em 2017: na Sunweb não há espaço para o "eu quero assim". Warren Barguil achou que as duas vitórias de etapa e a camisola da montanha no Tour lhe tinham dado estatuto para se sobrepor aos objectivos da equipa. Sem Dumoulin em França, o gaulês teve de facto liberdade para procurar o seu resultado, mas na Vuelta o líder era Kelderman. Barguil poderia lutar novamente etapas, mas tinha de estar ao lado do holandês. Não quis e foi mandado para casa. Por essa altura já se sabia que estava de malas feitas para a Fortuneo-Oscaro, tendo o ciclista preferido quebrar contrato com a Sunweb (que terminava no final de 2018) para ser líder indiscutível na estrutura francesa Profissional Continental. Ainda assim, ser excluído de uma grande volta pela atitude que teve, não lhe ficou nada bem. Mais uma vez, a equipa não se importou de perder um ciclista importante. O conjunto está acima da individualidade.

Para todos os efeitos, Barguil foi também ele um dos ciclistas que ajudou a que a temporada nas grandes voltas da Sunweb fosse muito acima do esperado. Só faltou uma etapa em Espanha à equipa. Agora é ver como irá a formação alemã lidar com um novo estatuto no pelotão. A responsabilidade e exigência será outra. O historial da equipa indica que é tudo tão pensado, que a Sunweb estará preparada para dar uma boa resposta.

»»Tudo por Contador, muito por Degenkolb e uma época feita no Angliru ««

»»Um fantástico meio ano de Valverde e o desmoronar de Quintana««

»»Faltou Chaves, um pouco mais dos Yates, mas houve muito Ewan««

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