Zakarin realizou uma excelente temporada (Fotografia: Facebook Katusha-Alpecin) |
Foi o cortar com as raízes russas. José Azevedo tem um enorme desafio pela frente e em 2017 conseguiu um dos seus objectivos como director geral da Katusha-Alpecin: Ilnur Zakarin confirmou credenciais e subiu ao pódio de uma grande volta. Porém, confirmou-se também uma perspectiva negativa: Alexander Kristoff perdeu a chama de vencedor nas principais corridas. É o autor de mais de metade das vitórias deste ano da Katusha-Alpecin, mas só duas foram no World Tour, nas clássicas Eschborn-Frankfurt e Prudential RideLondon-Surrey. Ser campeão da Europa não tem o estatuto de uma vitória no Tour ou num monumento e o norueguês viu ainda Peter Sagan frustrar-lhe a tentativa de ser campeão do mundo no seu país. Tony Martin foi uma das principais contratações da temporada, mas não rendeu nada do que era esperado. Os portugueses Tiago Machado e José Gonçalves fizeram uma temporada muito positiva e viram os seus contratos serem renovados.
A Katusha deixou de ser a equipa de referência da Rússia e não só trocou de nacionalidade - é agora suíça - como entrou um novo patrocinador, a Alpecin, como também terminou com a ligação a muitos ciclistas russos, tornando-se mais internacional. Como curiosidade, um deles, Egor Silin, assinou pela Rádio Popular-Boavista. Tony Martin foi o grande investimento. Depois de cinco anos na estrutura da actual Quick-Step Floors, o quatro vezes campeão do mundo de contra-relógio queria um novo desafio, mas não esteve à altura. Até começou o ano a ganhar na segunda etapa da Volta à Comunidade Valenciana. Depois... nada. Nem exibições à Martin, nem vitórias nos contra-relógios. Salvou-se o título nacional da especialidade.
Se de Martin esperava-se mais, de Alexander Kristoff então, nem se fala. A Katusha-Alpecin construiu dois blocos: um para apoiar o norueguês nos sprints e nas clássicas e outro para proteger Ilnur Zakarin. As exibições de Kristoff chegaram a ser penosas de ver, como quando o seu lançador, Rick Zabel, trabalhou muito bem para o seu líder, que depois nem o conseguiu passar para discutir o sprint. Zabel - e o apelido não engana, é mesmo filho Erik Zabel - foi outra das contratações e poderá ser uma aposta ganha num futuro próximo. Tem 23 anos, muito para progredir e vai estar ao lado de Marcel Kittel, podendo muito bem aprender com um mestre do sprint. Nas clássicas, a oportunidade poderá chegar já em 2018.
Com o passar dos meses e com Kristoff a falhar todas as principais metas, o mal-estar começou a ser difícil de esconder. O norueguês chegou a admitir publicamente que lhe tinha dito que estava com peso a mais, com o ciclista a garantir que estava igual a outros anos. Ficou claro que a porta de saída estava aberta. Kristoff assinou pela UAE Team Emirates.
Com o passar dos meses e com Kristoff a falhar todas as principais metas, o mal-estar começou a ser difícil de esconder. O norueguês chegou a admitir publicamente que lhe tinha dito que estava com peso a mais, com o ciclista a garantir que estava igual a outros anos. Ficou claro que a porta de saída estava aberta. Kristoff assinou pela UAE Team Emirates.
Ranking: 11º (5619 pontos)
Vitórias: 17 (incluindo a Eschborn-Frankfurt e uma etapa e a geral na Volta à Suíça e a Prudential RideLondon-Surrey)
Ciclista com mais triunfos: Alexander Kristoff (9)
Com Kristoff a ganhar em corridas secundárias - Volta a Omã, ou Artic Race, por exemplo -, a pressão de bons resultados recaiu em Ilnur Zakarin. O potencial estava lá, mas o russo parecia ser algo perseguido por algum azar. Ainda assim, já tinha uma etapa no Giro e outra no Tour. Porém, este russo queria um pódio, queria até estar na luta por uma vitória numa grande volta. Itália assenta bem a Zakarin e mais uma vez apareceu em alta. Desta feita não houve incidentes que ditassem o abandono - ainda que tivesse perdido algum tempo muito cedo na corrida - e acabou em quinto, sendo ainda três vezes segundo em etapas. Os resultados renovaram a confiança do russo.
Saltou o Tour para apostar na Vuelta e em boa hora o fez. Grande corrida, quase sempre na frente, na discussão. Ainda não esteve ao nível de debater-se em pé de igualdade com Froome, mas conseguiu um muito esforçado terceiro lugar. É caso para dizer que Zakarin está no ponto. E foi ainda campeão nacional de contra-relógio. Em 2018 é possível que regresse ao Tour, mas ganhar uma das três principais corridas de três semanas é agora claramente o objectivo. Falta saber qual será a preferida.
Quanto aos portugueses, é uma pena não se poder ver mais Tiago Machado naquela sua versão de homem de ataque, que mexe nas corridas e procura vitórias. Teve liberdade na Liège-Bastogne-Liège, mas apesar de inicialmente o seu grupo de fugitivos ter ganho uma vantagem de respeito, a tentativa não resultou. No resto do ano, Machado foi aquele ciclista que a Katusha tanto aprecia. É de confiança ao lado dos líderes, trabalhador incansável que cumpre à risca o que lhe é pedido. O Tour foi prova disso. Muito se viu o português na frente do pelotão sempre a pensar em Kristoff. José Azevedo renovou por mais um ano com Machado, que teve um resultado que até pode ter passado despercebido, mas foi um de destaque individual: 11º no Tour de Yorkshire.
Já José Gonçalves foi premiado com dois anos de contrato. Finalmente fez a estreia ao mais alto nível e tal como Tiago Machado, já não pode ser aquele ciclista irreverente, que está sempre pronto a atacar. No entanto, teve mais liberdade do que o compatriota. Aquela Strade Bianche será para recordar. Gonçalves integrou a fuga e conseguiu manter-se na frente quando esta terminou. Ficou à porta do top dez (11º) e o próprio admitiu que lhe faltou experiência para talvez conseguir ainda melhor. Porém, ficou o sinal claro que a Katusha-Alpecin tem ciclista para procurar triunfos em algumas corridas. E só para não restarem dúvidas foi à Holanda ganhar a Ster ZLM, além de uma etapa.
No mês antes tinha sido um dos ciclistas mais importantes no trabalho a Ilnur Zakarin na Volta a Itália. Como gregário passou um teste de fogo e na Vuelta lá estava Gonçalves novamente entre os eleitos. Infelizmente acabou por abandonar na sexta etapa devido a uma queda. No entanto, não estragou uma temporada convincente. José Gonçalves conseguiu no seu primeiro ano no World Tour ganhar um lugar de destaque na Katusha-Alpecin.
Para 2018, chega então Kittel para dar as vitórias que Kristoff não foi capaz, mas José Azevedo não se ficou pelo sprinter alemão. Foi buscar Ian Boswell à Sky, ciclista que será um apoio importante para Zakarin, tal como Alex Dowsett (Movistar). O primeiro terá uma missão de apoio na montanha, mas ambos vão ser importantes no contra-relógio. Se a aposta for o Tour - haverá inevitavelmente uma divisão de atenção entre Zakarin e Kittel -, juntamos Tony Martin e o contra-relógio colectivo poderá ser um dia bom para a Katusha-Alpecin. Da Dimension Data chega o australiano Nathan Haas que além das corridas por etapas, será um bom reforço para as clássicas. O sul-africano Willie Smit é a contratação mais desconhecida, sendo mais um jovem (24 anos) que a equipa quererá desenvolver.
O plantel para a próxima temporada é forte: Jhonathan Restrepo, Maurits Lammertink, Mads Würtz Schmidt, Marco Mathis ou os mais experientes Baptiste Planckaert e Simon Špilak (venceu a Volta a Suíça) continuam na Katusha-Alpecin. A equipa de José Azevedo quer atingir outro patamar e reforçou-se bem para alcançar esse objectivo.
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