7 de dezembro de 2017

"Estamos confiantes que poderemos criar a curto prazo um projecto muito forte no ciclismo"

(Fotografia: Vito-Feirense-BlackJack)
Se há um ano se celebrava o regresso de alguns ciclistas que permitiram fortalecer e dar outro mediatismo ao pelotão nacional, agora o ciclismo português dá mais um passo rumo a uma consolidação, depois de anos de crise. A Vito-Feirense-BlackJack será uma das responsáveis. É um novo projecto que traz de volta à elite um nome bem conhecido da modalidade: Joaquim Andrade, agora no papel de director desportivo de uma formação Continental. O coincidir de três vontades permitiu que nascesse esta equipa, que quer já em 2018 lutar pela Volta a Portugal e contribuir durante o ano para que a hegemonia da W52-FC Porto comece a ser quebrada.

É um novo desafio que entusiasma Joaquim Andrade, mesmo que os começos sejam sempre difíceis. "Penso que estamos num bom caminho. Estamos confiantes que poderemos criar a curto prazo um projecto muito forte no ciclismo", salientou o responsável ao Volta ao Ciclismo. Esta confiança advém do facto da Vito-Feirense-BlackJack ter herdado parte dos ciclistas que constituíram a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack em 2017, como Edgar Pinto e a revelação na Volta a Portugal e no ciclismo de pista, João Matias, mas também por dar a oportunidade a jovens talentos do Sport Ciclismo São João de Ver de serem profissionais.

Joaquim Andrade explicou que no São João de Ver havia a ideia de criar uma equipa Continental, de forma a dar continuidade ao trabalho de formação. Numa viagem até à Volta a Portugal, um amigo e membro da direcção do Feirense, comentou o desejo do clube de futebol em ter uma equipa de ciclismo para celebrar o centenário. Primeiro foram as conversas com o presidente do Feirense, Rodrigo Nunes, mais tarde surgiu a oportunidade de ficar com parte da estrutura da LA Alumínios-Metalusa-BlackJack. Mais uma conversa, agora com Fernando Pinto da formação de ciclismo, e: "Em pouco tempo chegámos a um consenso. Juntámos as três partes para atingir os nossos objectivos."

"Conheço o trajecto dele [Soufiane Haddi] e sei que é um ciclista com enorme potencial. Vai dar um grande contributo à equipa"

O sonho do São João de Ver em ter uma equipa Continental não era para ser concretizado tão cedo, mas a oportunidade não podia ser desperdiçada. Juntar aos jovens Bernardo Saavedra, Gonçalo Santos e João Santos, ciclistas como Edgar Pinto, Hugo Sancho, Luís Afonso e João Matias - que estavam na LA - "foi a forma de fazer a transição mais sustentada", segundo Joaquim Andrade. A este grupo junta-se Ricardo Vale (Rádio Popular-Boavista), Leonel Coutinho (G.D. Supermercados Froiz) e ainda o marroquino Soufiane Haddi. "Foi colega do Edgar na Skydive Dubai e já correu em Portugal, na Volta ao Algarve e no Troféu Joaquim Agostinho. Conheço o trajecto dele e sei que é um ciclista com enorme potencial", referiu o responsável, frisando que Haddi "vai dar um grande contributo à equipa". "Esteve para integrar a equipa da LA, mas teve um problema com o visto porque já tinha um passado para o Dubai e não foi possível vir", disse.

Elogios aos ciclistas que farão parte da equipa não faltam. A começar pelos jovens que farão a estreia como profissionais:

"O João Santos é um ciclista que tem já uma escola muito grande. Embora seja o primeiro ano, creio que será muito útil. Já sabe o que é trabalhar para uma equipa e é também rápido. Por isso é que digo que ele pode estar na ajuda aos corredores mais rápidos [João Matias e Leonel Coutinho]";

"O Gonçalo Santos é da mesma idade do João [22], mas tem pouca escola de ciclismo de estrada. Penso que será um ano de algum crescimento e amadurecimento, contudo, também tem muita qualidade. Poderá surpreender um pouco as pessoas que não o conhecem muito bem";

"O Bernardo Saavedra é o mais jovem deles todos e ainda vai para a sua segunda época como sub-23. Está a completar os estudos e iremos dar-lhe alguma liberdade. Vamos com mais calma com ele. Mas é um atleta que tem demonstrado capacidade para vir a ser um bom ciclista no futuro."

A época de Ricardo Vale foi marcada por uma lesão, mas Joaquim Andrade afirmou ter "muito potencial". Hugo Sancho e Luís Afonso oferecem qualidade ao do bloco que estará ao lado de um Edgar Pinto que a Vito-Feirense-BlackJack quer ver lutar pela Volta a Portugal. Já João Matias é um ciclista de quem o responsável espera muito e irá continuar a poder conjugar a estrada com a pista.

Leonel Coutinho está de regresso a Portugal, depois de um ano por Espanha. Joaquim Andrade considera que, tal como aconteceu com João Matias, a experiência poderá revelar-se ser muito importante. "Penso que o poderá ajudar a encarar esta época com uma maior motivação e acredito que se poderá impor. Fizemos algumas provas em Espanha com o Leonel e agradou-me muito a forma como ele encarava as corridas, como fez as provas. Ganhou algumas e ajudou a ganhar outras", salientou.

Discutir a Volta a Portugal e quebrar uma hegemonia

Joaquim Andrade teve uma carreira com mais de 20 anos, detém o recorde de 21 Voltas a Portugal consecutivas, passou por muito, mas admite que uma hegemonia como o da W52-FC Porto não é muito normal. "O ciclismo foi sempre marcado por domínios. Quando eu comecei a correr havia a Sicasal - de que fiz parte - que dominava grande parte das épocas, mas normalmente na Volta a Portugal as coisas equilibravam um pouco mais. Não tem acontecido com a equipa da W52-FC Porto", recordou.

O responsável considera que as restantes equipas do pelotão reforçaram-se bem e que poderá verificar-se um maior equilíbrio, ainda que é provável que se mantenha um pouco a tendência de superioridade da formação do Sobrado. O facto de conseguir ter mais opções, ajuda a que o director desportivo Nuno Ribeiro consiga manter um nível de vencedor nas diferentes corridas. Mas como é que se pode ganhar à W52-FC Porto? "Não é fácil! Temos de ir aproveitando os pontos fracos que eles tenham ao longo do ano e começar a estudar uma forma de os derrotar. A melhor forma é a união e aproveitar o melhor que temos para que durante a temporada se possa contrariar esse domínio."

"Havendo uma equipa a dar esse passo importante [para o escalão Profissional Continental] poderá haver outras empresas a querer seguir esse caminho"

Edgar Pinto está já a preparar-se para estar na luta na Volta a Portugal. O ciclista ainda não está a 100% depois da queda que o atirou para fora da corrida na última edição, mas já treina. Este ano apareceu bem na Volta ao Algarve, algo que poderá não acontecer em 2018: "Vamos com um pouco mais de calma para não haver sobressaltos mais tarde." Apesar de querer disputar outras corridas e ganhá-las, até porque realçou que sempre foi assim que enfrentou o ciclismo, Joaquim Andrade coloca a Volta a Portugal como o principal objectivo.

Depois de deixar a vida de ciclista, o agora director da Vito-Feirense-BlackJack liderou a Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, voltou para a estrada, mas como responsável da Maia, antes aceitar o cargo no Sport Ciclismo São João de Ver. Sente-se motivado para este novo desafio, para esta nova responsabilidade, num projecto que deixará de contar com a equipa de sub-23. Não podendo ter duas formações a competir no mesmo pelotão, o calendário exclusivo do escalão é curto para manter a estrutura. Porém, manter-se-á os juniores, precisamente com o plano de lhes dar uma eventual oportunidade ao mais alto nível em Portugal.

Com o pelotão nacional a crescer com equipas Continentais - também o Miranda-Mortágua e a Liberty Seguros-Carglass seguem esse caminho - Joaquim Andrade acredita que "os anos mais difíceis já passaram". "Estamos numa fase de consolidação", frisou. Ter duas ou três equipas no escalão Profissional Continental seria o ideal na opinião do responsável, até porque acredita que a mentalidade está a mudar e as empresas estão a constatar que associarem-se ao ciclismo poderá ser rentável: "Havendo uma equipa a dar esse passo importante poderá haver outras empresas a querer seguir esse caminho."

Joaquim Andrade está determinado a arrancar em força com este novo projecto e permitir que este se torne num exemplo de como é possível abrir portas a jovens formados no clube e ter uma equipa forte e competitiva ao mais alto nível em Portugal.


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