11 de dezembro de 2017

Quick-Step Floors, aquela máquina de ganhar

(Fotografia: Quick-Step Floors)
Ganhar, ganhar, ganhar. É a palavra de ordem na Quick-Step Floors que ano após ano habituou o ciclismo mundial a ter uma equipa com vários corredores com elevada capacidade para conquistar vitórias. E a maioria comprova as expectativas. Marcel Kittel e Fernando Gaviria foram as estrelas que mais se destacaram, contudo, os 56 triunfos da formação belga foram distribuídos por 14 ciclistas. O curioso é que este até foi o pior ano desde 2012. Desde então que a equipa somou sempre 60 ou mais vitórias! Porém, 2017 teve um valor acrescentado: a Quick-Step Floors voltou a ser grande nas clássicas, depois de duas temporadas mais discretas. Inclusivamente conquistou novamente um monumento com um Philippe Gilbert, que recuperou a sua melhor versão. Quem não o conseguiu foi Tom Boonen que terminou a carreira no "seu" Paris-Roubaix, mas sem uma histórica quinta vitória.

Num ano avassalador em triunfos nas principais corridas, a despedida de Boonen foi um dos momentos de 2017, não só para a equipa, mas para o ciclismo, que viu sair mais um dos principais homens das clássicas dos últimos 15 anos. Meses depois de Fabian Cancellara ter-se retirado, seguiu-lhe o exemplo aquele com quem animou tantas corridas. Tom Boonen (agora com 37 anos) arrancou a época determinado a ter um adeus memorável. Logo em San Juan, na Argentina, ganhou uma etapa, tornando-se no primeiro ciclista a vencer utilizando uma bicicleta com travões de disco. Uma nota de rodapé para o objectivo do ano: Paris-Roubaix... mas a Volta a Flandres também estava na lista (ganhou-a por três vezes).

Boonen tinha vindo a perder fôlego com o aparecimento da nova geração de corredores de clássicas, liderada por Peter Sagan e com um Greg van Avermaet, um pouco mais velho que o eslovaco, que começou tarde a ganhar, mas mais do que a tempo de construir um bonito currículo. O oitavo lugar na E3 Harelbeke e o sexto na Gent-Wevelgem eram animadores para Boonen. Porém, na semana do adeus, na Volta a Flandres um problema mecânico tirou-o da discussão, ainda que claramente aquele era o dia do colega Philippe Gilbert (já lá iremos). Não se desgastou na Scheldeprijs (43º) e quando chegou o Paris-Roubaix a expectativa era enorme.

O final de conto de fadas não era impossível, mas Boonen acabou por não conseguir entrar na luta decisiva. Ao não poder ganhar ou sequer ir ao pódio, nem sprintou por um top dez. 13º lugar soube a pouco, mas o lugar na história deste belga já estava há muito confirmado. Não houve um final de sonho, mas a carreira coloca Boonen como um dos ciclistas que muito se há-de falar quando, principalmente, estiver a decorrer uma Volta a Flandres ou Paris-Roubaix.

Saiu Boonen, reapareceu um Gilbert que mais parecia estar a caminho de seguir o caminho do compatriota. Aos 34 anos, entretanto 35, o belga mostrou que aquele ciclista que parecia só saber ganhar no início da década ainda não tinha desaparecido por completo. Gilbert eclipsou-se quase por completo nos anos em que esteve na BMC. Lefevere estendeu-lhe a mão e o belga aproveitou. Aquela Volta a Flandres foi épica. Atacou a 50 quilómetros da meta e venceu isolado. Somou outras vitórias, destacando-se a Amstel Gold Race. E são quatro triunfos nesta prova, a última havia sido em 2014. Recuperou de tal forma a sua confiança, que Gilbert tem novamente a ambição de ganhar os cinco monumentos, faltando-lhe a Milano-Sanremo e o Paris-Roubaix.

Ranking: 2º (12.652 pontos)
Vitórias: 56 (incluindo a Volta a Flandres, cinco etapas no Giro, cinco no Tour, seis na Vuelta e duas na Volta ao Algarve)
Ciclista com mais triunfos: Fernando Gaviria (14)

Entrou-se depois na fase do ano em que Fernando Gaviria e Marcel Kittel disputaram, de certa forma, o título de melhor sprinter. O colombiano estreou-se numa grande volta com quatro etapas e a camisola dos pontos no Giro. Kittel também foi outro ciclista que reapareceu em grande em 2017: cinco tiradas no Tour e a camisola verde parecia estar bem encaminhada, mas uma queda obrigou o alemão e ir para casa mais cedo. Gaviria terminou o ano com 14 vitórias, Kittel com 12.

Ficou claro que seria difícil manter estes dois ciclistas na mesma equipa. O alemão não quis arriscar ser segunda escolha e perder o Tour, por exemplo. Foi para a Katusha-Alpecin de José Azevedo. Aos 29 anos, Kittel ainda tem muito para dar, mas Gaviria tem apenas 23. Se continuar este ritmo de triunfos, poder-se-á estar perante um "monstro" do sprint.

Habituado a ter de trabalhar para os líderes, Matteo Trentin sempre demonstrou que tinha capacidade para mais e lá foi aproveitando algumas oportunidades. Contava com duas etapas no Tour e uma no Giro. No entanto, 2017 foi de facto um ano de mudança para alguns dos ciclistas da Quick-Step Floors e Trentin é mais um exemplo. O italiano (28 anos) somou sete triunfos, quatro na Vuelta. A equipa belga não só venceu nas três grandes voltas, como dominou nos sprints. Acrescenta-se o top dez de Bob Jungels no Giro, mais uma etapa e a classificação da juventude e Daniel Martin foi sexto no Tour.

Yves Lampaert ganhou uma etapa na Vuelta, antes de começar o espectáculo Trentin. O belga (26) realizou uma boa temporada e será um ciclista que está preparado para mais responsabilidades. Julian Alaphilippe viu uma lesão estragar-lhe parte da temporada. Perdeu a semana das Ardenas e a Volta a França, mas regressou para um final de ano que deixa o aviso: cuidado com o francês em 2018. Ganhou uma etapa na Vuelta e foi fazer segundo na Il Lombardia. Antes do problema físico tinha ganho uma tirada no Paris-Nice.

Apesar de durante vários meses pairar a incerteza sobre o futuro da equipa - Patrick Lefevere chegou a colocar o Tour como prazo para conseguir mais um patrocinador -, com todos os ciclistas a terem o contrato a terminar em Dezembro, a concentração manteve-se intacta em ganhar, ganhar, ganhar.  Aos poucos os vínculos foram sendo renovados e os reforços anunciados. Michael Morkov vem da Katusha-Alpecin e Florian Sénéchal da Cofidis para reforçarem o bloco tanto das clássicas como dos sprints de Gaviria. O próprio colombiano deverá ser mais visto em corridas de um dia, com a Milano-Sanremo nos planos, assim como as clássicas do pavé.

O holandês Fabio Jakobsen dará o salto do escalão Continental e com 21 anos terá uma época para se adaptar a outra realidade. Gosta das provas de um dia. O mesmo acontecerá com o equatoriano Jhonatan Narvaez (20), que chega com o selo de qualidade da Axeon Hagens Berman. Para corridas por etapas, o britânico de 22 anos James Knox (Team Wiggins) será uma possível aposta para um futuro próximo, juntando-se assim a um Laurens de Plus, que já começou a dar os primeiros sinais que está a aparecer mais um ciclista a ter em atenção, tal como o espanhol Enric Mas. Ambos estão na estrutura belga desde 2016 e 2017, respectivamente.

A contratação mais sonante é Elia Viviani. O ciclista deu o dito por não dito e quebrou contrato com a Sky, equipa que o deixou de fora de todas as grandes voltas este ano. O italiano quer relançar a carreira, mas também saberá que será sempre o segundo sprinter na hierarquia, atrás de Gaviria. No entanto, com o colombiano a ter definido o Tour como corrida principal em 2018, Viviani tem a porta escancarada para ir ao Giro, como pretende.

David de la Cruz, Daniel Martin, Gianluca Brambilla, Matteo Trentin e Marcel Kittel optaram por novos desafios. A Quick-Step Floors irá apresentar-se mais pequena - como muitas das equipas, devido à redução de corredores nas competições, determinada pela UCI -, mas a saída de uns abrirá espaço para outros aparecerem e qualidade continua a não faltar nesta formação belga.



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