8 de dezembro de 2017

Tudo por Contador, muito por Degenkolb e uma época feita no Angliru

A despedida de Contador acabou por marcar a época da equipa
(Fotografia: Facebook Trek-Segafredo)
Se há equipa que pode dizer que pouco ou nada correu como gostaria em 2017 é a Trek-Segafredo. A saída de Fabian Cancellara permitiu alguma folga financeira para reforçar a equipa com ciclistas de qualidade, com John Degenkolb a ter a missão de fazer esquecer o suíço nas clássicas. Claro que houve uma outra aposta que se sabia que seria a curto prazo, dois anos no máximo, mas que colocaria a equipa novamente a ser muito falada na Volta a França e não só. O efeito Alberto Contador começou pelo mediatismo e acabou com uma grande vitória no Angliru. Mas pelo meio houve muita desilusão. A formação americana reforçou-se ainda com dois portugueses. André Cardoso dava garantias que o espanhol teria um bom homem trabalho a seu lado, enquanto Ruben Guerreiro chegou ao World Tour com o estatuto de um dos ciclistas a seguir com atenção.

Começando pelos portugueses. O jovem Ruben Guerreiro, agora com 23 anos, começou 2017 em grande no Tour Down Under, na Austrália. Não quis esperar para se mostrar e aproveitou a primeira oportunidade que lhe foi dada. Bons resultados nas primeiras etapas, liderou a classificação da juventude, tendo acabado em terceiro e 18º na geral. Infelizmente para Ruben Guerreiro, um problema nos dentes estragou-lhe o início de época. Ainda esteve na Volta ao Algarve, mas nem terminou e teve mesmo de parar cerca de um mês. A Trek-Segafredo não pressionou o seu jovem talento e o ciclista foi recuperando a forma. Foi nono na Volta à Bélgica e quase ganhou uma etapa. No regresso a Portugal saiu com o título de campeão nacional de elite, na primeira vez que participou na corrida neste escalão. Novos problemas de saúde afastaram-no da Volta à Polónia e dos Europeus e até final do ano o destaque vai para o sexto lugar na Bretagne Classic-Ouest-France . É caso para dizer que foi um arranque no World Tour "aos soluços", mas com tempo para mostrar um pouco da sua qualidade. Um dos objectivos para o próximo ano será certamente alcançar uma maior regularidade, pois Guerreiro mantém intacto o estatuto de ciclista a seguir.

Experiência não faltava a André Cardoso e Alberto Contador preparava-se para ter mais um português ao seu lado, depois de anos com Sérgio Paulinho como fiel escudeiro. O ciclista de Gondomar - que desenhou o circuito dos Nacionais no qual Guerreiro se sagrou campeão - preparava-se para cumprir um sonho de carreira: estar na Volta a França. Cardoso parecia estar num bom momento de forma, realizando um Critérium du Dauphiné promissor. Foi 19º e esteve sempre perto do seu líder. Porém, a poucos dias do arranque do Tour, sai a notícia que o ciclista tinha dado positivo por EPO num teste anti-doping. Foi suspenso preventivamente e num caso que se prolonga desde Junho, continua-se sem saber o futuro de André Cardoso. Surgiram notícias que a contra-análise teria sido negativa, o que ilibaria o português. Contudo, oficialmente mantém-se o silêncio.

Ranking: 5º (7934 pontos)
Vitórias: 18 (incluindo uma etapa no Tour e na Vuelta e o título nacional de Ruben Guerreiro)
Ciclista com mais triunfos: Mads Pedersen (5)

Regressando ao início da temporada, a Trek-Segafredo queria continuar a apostar forte nas clássicas, mesmo já não contando com uma das maiores estrelas da última década. Degenkolb optou por mudar de ares para tentar recuperar uma alegria que parecia difícil de reaparecer depois de quase ter perdido um dedo num atropelamento durante a pré-época, quando estava na então Giant-Alpecin (actual Sunweb). Apareceu com vontade de voltar às grandes vitórias e continuar a somar monumentos, depois da Milano-Sanremo e Paris-Roubaix em 2015. Mas este Degenkolb não é o mesmo. Esteve sempre na discussão, é certo, terminou nos primeiros lugares nas principais clássicas em que participou, no entanto, faltou-lhe sempre o que um responsável chamaria de "instinto matador" que Cancellara tinha.

Degenkolb mostrava-se competitivo, mas naquele instante que acabaria por ser decisivo para o resultado da corrida, o alemão jogava sempre à defesa e nunca se saiu bem. Esteve discreto no Tour, abandonou na Vuelta e em Setembro colocou um ponto final na temporada de forma a fazer exames médicos e recuperar de um problema de saúde que o estava a limitar. Degenkolb somou uma vitória em 2017, numa etapa à Volta ao Dubai, a 2 de Fevereiro. Muito pouco para um ciclista do seu nível.

A Trek-Segafredo não teve só Degenkolb a render pouco. Giacomo Nizzolo realizou uma época para esquecer, de Fabio Felline e Jasper Stuyven também se esperava bem melhor. Era altura da equipa se concentrar nas grandes voltas, na esperança que as grandes vitórias chegassem.

Remetido a segunda figura com a chegada de Contador, Bauke Mollema foi ao Giro como líder, pois no Tour teria de ajudar o espanhol. O holandês esteve muito bem. Terminou em sétimo e nas etapas de montanha esteve na discussão, mas naqueles momentos decisivos (novamente o problema das clássicas, mas com outro ciclista) foi perdendo segundos que lhe custaram um lugar bem mais interessante. A partir da Volta a Itália quase só se falou de Contador na Trek-Segafredo. A equipa deixou o ciclista fazer o calendário que quis e a preparação que preferiu. Expectativas altas, mas mesmo numa equipa em que não tem um patrão que mais parecia um inimigo - Oleg Tinkov -, o espanhol não conseguiu estar ao nível necessário para seguir Chris Froome, Romain Bardet e os restantes favoritos. Tentou a etapa sem sucesso, ficando em nono na geral. É um top dez de sabor amargo para Contador. Salvou-se Mollema que deu uma etapa à formação americana.

Restava a Vuelta. Sim, porque nesta altura o espanhol já tinha anunciado que não renovaria o contrato por mais um ano, como a Trek-Segafredo pretendia. Até haveria planos de levar Contador ao Giro e à Volta a Espanha em 2018. O ciclista considerou que tinha chegado o momento do adeus. Agora é que era mesmo tudo por Contador. Na terceira etapa o objectivo da geral terminou, mas o ciclista lutou para que a sua última grande volta tivesse um significado bem mais memorável. Acabou por ser uma das figuras da corrida e aquele dia no Angliru foi épico. Um derradeiro disparo de El Pistolero, que não só permitiu uma despedida como Contador merecia, mas como acabou por quase fazer a temporada da Trek-Segafredo. Apenas uma vitória em 2017 sabe a tão pouco, mas pelo menos foi uma para a posteridade. Um dos grandes ciclista da história da modalidade saiu de cena, num momento que marcou o ano.

A aposta em dois ciclistas não compensou como se esperaria e não ajudou o sub-rendimento de outros. Por outro lado, Jarlinson Pantano acabou por estar muito preso na ajuda ao líder e o colombiano dá mostras que pode render mais se tiver liberdade, que poderá chegar em 2018. A boa notícia chamou-se Mads Pedersen. Este dinamarquês tem apenas 21 anos e é outro ciclista a seguir, como Ruben Guerreiro. Participou no Giro e numa ou outra corrida mais importante para ganhar experiência, mas depois foi sendo aposta numas menos mediáticas, ganhando quatro. Também ele é campeão nacional.

E para o próximo ano, Gianluca Brambilla irá reforçar a estrutura das três semanas, mas há outro ciclista que tem gerado curiosidade e a ver vamos se confirma o seu potencial na Trek-Segafredo, depois de duas épocas na Cannondale-Drapac. O letão Toms Skujins poderá ser importante para as clássicas, além de também ter valor para as corridas por etapas.

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