24 de dezembro de 2017

Ficou sem equipa, continuou a treinar, angariou 40 mil euros e recebeu uma prenda de Natal: um contrato

(Fotografia:
Jérémy-Günther-Heinz Jähnick/Wikimedia Commons)
O corte no financiamento do Ministério da Defesa  francês obrigou a Armée de Terre a mudar a sua estrutura. Passa a amadora e irá apostar na formação de jovens ciclistas daquele país. Quem tinha contrato além de 2017 ficou com continuidade garantida até ao final do vínculo, mas os reforços ficaram sem efeito e as renovações também foram travadas. Romain Le Roux é um destes últimos casos. Depois de três anos na equipa francesa ficou com o futuro indefinido. Não desistiu. Continuou a treinar e virou-se para uma plataforma de crowdfunding para angariar dinheiro, de forma a assegurar o lugar numa equipa. Conseguiu 40 mil euros e juntamente com a sua perseverança chamou a atenção da Fortuneo-Oscaro, formação Profissional Continental que contratou Warren Barguil (Sunweb), rei da montanha e vencedor de duas etapas no último Tour.

Le Roux tinha colocado o Natal como limite para conseguir uma colocação antes de começar a pensar em alternativas para a sua vida. E recebeu mesmo uma prenda: o desejado contrato! "Não saberia se iria conseguir, mas queria tentar tudo para não me arrepender", disse o ciclista, de 25 anos, sobre a escolha do crowdfunding. Foi um amigo quem lhe falhou da plataforma e este ano já são duas histórias no ciclismo profissional que se cruzam com esta estratégia de angariar dinheiro. A Cannondale-Drapac também o fez para tentar salvar a equipa. Reuniu mais de 500 mil euros, muito longe do necessário, mas chamou a atenção de um patrocinador que assegurou a sobrevivência da formação americana: a EF Education First.

Le Roux não precisava de tanto, mas os 40 mil euros não cobrem o custo que a Fortuneo-Oscaro irá ter com o ciclista. Porém, o responsável da equipa francesa afirmou que, perante a atitude de Le Roux, está disposto a gastar os 20 mil que faltam. Emmanuel Hubert realçou ter ficado sensibilizado pela abordagem do corredor. "Tínhamos de encontrar uma solução com ele", disse, elogiando as capacidades atléticas de Le Roux e acreditando que poderá ser uma ajuda importante para os líderes em 2018.

No entanto, esta contratação levanta algumas questões que têm sido problemáticas em Itália, por exemplo. Naquele país foi denunciado um esquema em que os ciclistas pagariam para competir em certas equipas, pelo que levar 40 mil euros e assim garantir um contrato, fez recordar essa situação polémica.

Porém, Romain Le Roux só vê a questão como a forma encontrada para prosseguir a sua carreira, com o bónus de até ir competir num escalão superior.  "É um alívio e um prazer assinar pela Fortuneo-Oscaro", desabafou em declarações publicadas no site da equipa. O ciclista já tinha conversado com Emmanuel Hubert e confessou que tinha "o desejo secreto" de que pudesse resultar em algo positivo para si. Olivier Le Gac (FDJ) e Laurent Pichon - que será agora seu companheiro - motivaram Le Roux a continuar a treinar como se estivesse a fazer uma pré-época, esforço que permitirá entrar rapidamente no ritmo necessário.

O contrato é de um ano, mas o francês quer mostrar que não só pode ser importante ao lado de um líder, como espera ter alguma oportunidade para mostrar as suas qualidades. Este não foi o primeiro obstáculo que encontrou na sua carreira de atleta. Começou como ginasta, mas aos 13 anos uma lesão obrigou-o a escolher outra modalidade. Optou pelo ciclismo e foi na pista que começou a dar nas vistas. A Armée de Terre abriu-lhe as portas para um nível mais competitivo na estrada. Contudo, logo no ano de estreia, em 2015, uma queda assustou, mas Le Roux prometeu desde logo regressar mais forte. No ano seguinte foi suspenso durante seis meses depois de acusar positivo num teste anti-doping. O médico da equipa deu-lhe um medicamento para as alergias e uma das substâncias não era permitida.

2017 estava a ser um ano sem incidentes, com Le Roux a competir maioritariamente no calendário francês, passando pela Bélgica e também Portugal, no Troféu Joaquim Agostinho (terminou no 33º lugar). Em Novembro chegou a confirmação do corte do financiamento do Ministério da Defesa (era 50% do orçamento) e de uma equipa que aspirava até subir em breve ao escalão Profissional Continental, passou a uma de formação de jovens e amadora.

Le Roux terá como companheiros além de Barguil (Sunweb) e Pichon, ciclistas como Maxime Bouet (ex-AG2R e Etixx-QuickStep), Amaël Moinard (que esteve sete anos na BMC), Anthony Delaplace, Brice Feillu, Florian Vachon e do luso-francês Armindo Fonseca. A Fortuneo-Oscaro só conta com três corredores que não são franceses, até ao momento, e tem como principal objectivo colocar Warren Barguil entre os candidatos a discutir a Volta a França, mesmo sendo uma estrutura do segundo escalão.



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