31 de dezembro de 2017

"Nunca pensei... É uma grande oportunidade e assim já ficam as portas abertas para o futuro"

Há um meses, Francisco Moreira celebrava uma vitória no arranque da Taça de Portugal de juniores. E não há muito tempo andava pelo ski a somar títulos nacionais e a representar o país numa modalidade com pouca tradição, mas pelo qual não perdeu o gosto. Agora é o ciclismo que recebe a sua total atenção e o talento não passou despercebido a José Santos que, apesar do ciclista ter apenas 18 anos, contratou-o para a Rádio Popular-Boavista. O jovem de Manteigas não imaginava que tão rapidamente estaria a competir com a elite nacional, mas enfrenta o desafio motivado e dedicado a não saltar passos na sua evolução, para assim singrar no pelotão nacional.

"Nunca pensei... É uma grande oportunidade e assim já ficam as portas abertas para o futuro. É um grande salto para o mundo do ciclismo", salientou Francisco Moreira ao Volta ao Ciclismo. A pretensão de construir uma equipa de sub-23 esbarrou nos regulamentos, pois não poderia haver duas formações do Boavista numa corrida (as formações deste escalão fazem grande parte do seu calendário juntamente com a elite). O que poderia parecer um entrave, acabou por ser um passo em frente para o jovem ciclista, que assim completa um plantel que conta com nomes como Filipe Cardoso, João Benta, Domingos Gonçalves (campeão nacional de contra-relógio), David Rodrigues (conterrâneo de Francisco Moreira) e o russo Egor Silin. "Só estava habituados a vê-los na televisão. São pessoas que estavam lá no cimo e agora tê-los como colegas de equipa... É um bocado esquisito", admitiu.

É o salto directamente para a elite, mas que foi muito ponderado. Francisco Moreira aconselhou-se com a família e conta ainda com o apoio do também ciclista João Matias. Apesar de não passar por uma equipa de sub-23, Moreira realçou que o director desportivo da Rádio Popular-Boavista, José Santos, conversou com ele sobre o que pretende para 2018 e não haverá a pressão de alcançar desde logo resultados. "Disse-me sobretudo para ir com calma, sem stress e ir aprendendo", referiu. O jovem ciclista irá ter a oportunidade de disputar algumas corridas e lutar, por exemplo, pela classificação da juventude. O seu calendário ainda não está definido, contudo, além de corridas em Portugal, também poderá ir a alguma prova lá fora.

"Como eu sou lá da neve antes de conhecer o ciclismo enveredei primeiro pelo ski. Mas Portugal é um país que em termos de neve é um bocado limitado e eu acabei por mudar"

A contratação de Francisco Moreira permite à Rádio Popular-Boavista ficar mais opções, ou seja, poderá haver uma maior gestão na utilização dos ciclistas. A Volta a Portugal não entra já nos horizontes de Moreira, mas a época dirá se até poderá tornar-se realidade o sonho de estar na principal corrida para o pelotão nacional. Porém, o jovem corredor só pensa em aproveitar ao máximo as oportunidades que lhe forem sendo dadas e, claro, aprender ao máximo com ciclistas que admira.

Não se cansa de dizer que está no ciclismo há apenas três anos, pelo que tudo lhe parece estar a acontecer muito rapidamente. Sorriu quando lhe é questionado sobre a fase do ski e recordou como até é um passado que também marca bons ciclistas da actualidade, como Primoz Roglic (Lotto-Jumbo), que venceu a última Volta ao Algarve. No caso do esloveno a especialidade eram os saltos. "Como eu sou lá da neve antes de conhecer o ciclismo enveredei primeiro pelo ski. Em Manteigas [de onde é] há uma pista sintética e comecei por lá. Depois o seleccionador falou comigo e comecei a representar Portugal e fui campeão nacional. Mas Portugal é um país que em termos de neve é um bocado limitado e eu acabei por mudar. O meu pai já era amante de ciclismo e do BTT e eu comecei a vê-lo. Não estamos tão dependentes da neve!"

Esta época começou com uma vitória que Francisco Moreira não esperava que chegasse tão cedo e que ainda hoje a revive: "É um momento marcante e que me dá motivação porque mostra que sou capaz e que consigo andar com os melhores. Recordo no fim de abraçar o professor Matias. Se não fosse ele eu não andava no ciclismo. Devo-lhe tudo o que sou. Aquele momento que ataquei e fui isolado para a meta... depois estar com o senhor Poeira [seleccionador nacional]... Foi tudo muito bom!" E não foi um resultado positivo esporádico. A época ficou marcada por uma grande regularidade, com top 10 e 20.

Agora a realidade será outra, mas o ciclista demonstra estar bem ciente do que irá encontrar e do que tem de fazer. "É um passo muito grande. É sobretudo mudar um bocado o chip, mudar a mentalidade, não se pode querer ser logo o melhor em sub-23 de modo a crescer gradualmente, de forma sustentada para assim progredir devagar e bem. Será um andamento completamente diferente, a quilometragem, o ritmo... mas espero que corra bem", disse.

"Sou algo possante fisicamente, ando bem no contra-relógio, mas também já demonstrei que me adapto bem a provas por etapas e que consigo defender-me na montanha... Bom, também venho da Serra da Estrela!"

Francisco Moreira começou a tirar o curso de Reabilitação Psico-Motora, na Faculdade de Motricidade Humana, em Oeiras, e quer conciliar os estudos com o ciclismo. "Dizem muito que quem vai para a faculdade perde-se um bocado, mas acho que se tiver cabeça e fazer as coisas certas é possível e eu nem tenho um horário muito carregado, o que me permite conciliar bem o ciclismo", frisou. Acrescentou que está numa modalidade que exige "muito rigor" e que está dedicado em fazer o que é necessário para ser um bom ciclista: "Às vezes vou logo treinar às seis da manhã e às vezes tenho 2 horas de almoço e uma e meia é passada no ginásio. É preciso deitar cedo, comer bem e tudo junto é que faz o bolo."

O ano ficou ainda marcado por idas à selecção nacional e a pista também entrou e irá continuar a entrar nos planos de Francisco Moreira. No futuro, gostaria de fazer uma Volta a França, mas não só: "Seduz-me sobretudo fazer um dia clássicas porque eu sou mais entroncado, rolo bem e gosto do pavé. Sou algo possante fisicamente, ando bem no contra-relógio, mas também já demonstrei que me adapto bem a provas por etapas e que consigo defender-me na montanha... Bom, também venho da Serra da Estrela!"

Agora que se prepara para deixar a ACR Roriz, destacou como a equipa sempre incutiu nos seus ciclistas a prática de várias vertentes, de forma a estimular os jovens na prática da modalidade não só na estrada, mas também no BTT, ciclocrosse e pista. E sobre esta última vertente, a influência de João Matias é natural e Francisco Moreira destacou como é importante para a sua evolução: "A pista é uma excelente preparação. Como ando há pouco tempo no ciclismo, dá-me técnica para progredir melhor, já que eu não estive nas escolinhas e nas camadas jovens."

Começa um enorme desafio para Francisco Moreira, que dificilmente poderia estar mais entusiasmado e motivado para dar o seu melhor. João Matias, que tanto o tem ajudado e continuará a ser um forte apoio, é ciclista da Vito-Feirense-BlackJack e o jovem corredor afirmou, deixando escapar uma pequena gargalhada: "Ele avisou-me, amigos, amigos, negócio à parte."


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