1 de dezembro de 2017

Rui Costa com início em grande numa UAE Team Emirates que começou cedo a pensar alto mas para 2018

(Fotografia: Facebook UAE Team Emirates)
Esteve para ser chinesa, mas foi dos Emirados Árabes Unidos que chegou a salvação para uma das equipas mais antigas do pelotão. Itália deixou assim de ter uma representante ao mais alto nível no ciclismo. Os patrocínios por ali escasseiam, mas 2017 acabou por ser o ano em que os petrodólares entraram em força na modalidade, agora para as equipas, depois da aposta na organização de corridas. O projecto Bahrain-Merida era há muito conhecido, mas o apoio dos Emirados chegou bem mais tarde e depois de uma enorme indefinição. O apoio chinês falhou mesmo após um anúncio com pompa e circunstância, contudo, Rui Costa viu garantida a continuidade da sua equipa, mas com a sede a mudar-se para outro lado do globo. Novo nome, nova imagem, nova nacionalidade. Não foi um começar do zero, mas a UAE Team Emirates acabou mesmo por ter uma espécie de ano zero.

Enquanto na estrada Rui Costa começou a temporada em grande, à equipa foram chegando patrocinadores que reforçaram o inicial investimento. A companhia aérea, Emirates, juntou-se já com a época a decorrer - inicialmente o nome da formação era UAE Abu Dhabi - e pouco depois um dos principais bancos do Dubai fez o mesmo. Após o grande susto e de arrancar a temporada com um dos orçamentos mais baixos, a estrutura garantiu que poderia pensar cedo em preparar 2018. Não demorou muito a que o discurso passasse a ser em colocar a UAE Team Emirates entre as melhores do mundo num prazo de três anos.

O ciclista português manteve intocável o estatuto de líder, mas optou por alterar o seu habitual calendário, depois de dois anos algo frustrantes na procura por um top dez na Volta a França e o último a procurar etapas, sem sucesso. Rui Costa escolheu fazer a sua estreia no Giro, o que implicou ter também um início de temporada diferente. E que grande início foi. Logo em Janeiro foi à Argentinha ganhar a etapa rainha da Volta a San Juan. Seguiu para Omã onde foi segundo na geral, mas em Abu Dhabi deixou a sua equipa muito feliz: venceu a principal etapa e a geral. As vitórias foram ainda mais importantes tendo em conta que a sede da equipa é em Abu Dhabi e foi também o primeiro ano em que a corrida fez parte do calendário World Tour.

Eram os resultados que Rui Costa precisava para garantir que era uma boa aposta para o Giro e também já a pensar no futuro. A passagem pelas clássicas das Ardenas não foi tão auspiciosa como noutros anos, mas ainda foi fazer 14ª na Liège-Bastogne-Liège. Em 2016 tinha subido ao pódio e continua a ser uma daquelas corridas que Rui Costa tem na sua lista de preferidas. Entrou na Volta a Itália como claro candidato a ser um ciclista que animaria a competição. Inicialmente ainda espreitou a possibilidade de apontar a um top dez, contudo, acabou por se cingir ao plano inicial: ganhar etapas. Três segundos lugares! Pela corrida que fez, merecia mais.


Ranking: 12º (5494 pontos)
Vitórias: 19 (incluindo uma etapa no Giro e uma na Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: Diego Ulissi e Sacha Modolo (4)

Entretanto foi aparecendo um corredor que deve ser seguido com atenção. Jan Polanc venceu no Etna e mostrou ser homem para o top dez. Na entrada da sequência de alta montanha fraquejou um pouco, mas foi em crescendo até final. Um péssimo contra-relógio retirou-lhe a oportunidade de chegar ao 10ª lugar. Polanc (25 anos) é mais um esloveno a aparecer. Tanto Rui Costa como Polanc foram também à Vuelta. O português - que também se estreou nesta grande volta - apenas apareceu mais perto do final, enquanto Polanc não ganhou, mas deixou garantias para em 2018 ser um ciclista importante na montanha. Rui Costa não mais conseguiu repetir a forma do início do ano, nem nos Mundiais de Bergen. E o futuro deixou de parecer tão auspicioso com as confirmações dos reforços para a próxima temporada.

A UAE Team Emirates pode ter começado de uma forma tremida, mas perante o plantel, esperava-se um pouco mais. Diego Ulissi mudou igualmente o seu calendário, apostando no Tour como grande volta. Com a excepção de um segundo lugar, passou as restantes etapas a ter saudades do "seu" Giro, onde já conquistou seis etapas. Terminou a temporada a ganhar em Montreal e na Turquia, mas Ulissi é ciclista para resultados mais destacados.

Ainda assim, comparado com Ben Swift... Que desilusão foi o britânico. Deixou a Sky para ter o seu espaço e andou praticamente um ano perdido no meio do pelotão. O melhor momento foi quando quase ganhou a etapa do Alpe d'Huez no Critérium du Dauphiné. Não rendeu no seu terreno (sprints e clássicas) e esteve perto de vencer na alta montanha! Mas a época de Swift foi basicamente aquele dia.

Houve mais ciclistas em claro sub-rendimento: Sacha Modolo desapareceu nas grandes corridas e ficou sem crédito para continuar na equipa em 2018 - vai para a EF Education First-Drapac powered by Cannondale - mesmo tendo somado quatro vitórias em provas secundárias; John Darwin Atapuma teve como principal missão apoiar Louis Meintjes, mas não se mostrou como noutros anos, ainda que comprovasse ser o ciclista que quase ganha uma etapa numa grande volta... mas fica pelo quase.

Meintjes cumpriu o objectivo do top dez no Tour (oitavo), ficou aquém na Vuelta (12º). Não ganhou em 2017, mas é de uma regularidade impressionante nas gerais das principais competições. Está a ganhar maturidade, contudo, a UAE Team Emirates optou por virar-se para ciclistas mais mediáticos em 2018. Qualidade não falta a Fabio Aru e Daniel Martin e encaixam melhor no plano de rapidamente chegar ao topo do World Tour do que Meintjes. O sul-africano ainda terá mais um ou dois anos de evolução pela frente ante de o vermos a bater-se com os melhores ciclistas e pelos melhores resultados dia após dia. O mesmo aconteceu com Matej Mohoric, mais um esloveno talentoso, que ganhou na Vuelta, mas aos 23 anos ainda há que esperar para ver mostrar todo o seu potencial. Vai para a Bahrain-Merida.

Além de Aru e Martin, a UAE Team Emirates contratou um Alexander Kristoff a precisar desesperadamente de algo novo que o possa ajudar a recuperar a sua versão ganhadora. Também da Katusha-Alpecin chega o jovem norueguês (25 anos) Sven Erik Bystrom, enquanto da Movistar vem o veterano (35) Rory Sutherland, um homem de trabalho por excelência. Depois de um ano a tentar o melhor na estrada, mas a pensar mais no que quer para o próximo, a equipa vai entrar numa fase diferente e de maior responsabilidade.

De equipa com futuro incerto, em 2018 terá então três dos grandes nomes do ciclismo actual a juntar a Rui Costa que, no entanto, irá perder o estatuto de líder, principalmente nas corridas de três semanas. Não podemos esquecer que estamos a falar de um campeão do mundo, vencedor de etapas no Tour e com um currículo de respeito. Porém, o português entrará numa nova fase da carreira perante os corredores que vão ser seus colegas. Só falta perceber qual será de facto o seu papel e qual aquele que quer ter além de Dezembro de 2018, quando o seu contrato terminar.

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