1 de setembro de 2019

Na Vuelta das nações, domingo foi dia da Eslovénia

Pogacar conquistou a sua primeira vitória numa grande volta e logo na estreia
(Fotografia: © Luiz Angel Gomez/PhotoGomezSport/La Vuelta)
Ainda a Volta a Espanha não tinha começado e muito se falava da Colômbia. E praticamente todos os dias um colombiano é assunto. Depois houve uma curta fase em que Irlanda se destacou, com Nicolas Roche como líder e Sam Bennett a ganhar uma etapa. Agora é a vez da Eslovénia. Um dos miúdos maravilhas da nova geração venceu uma etapa na sua estreia numa grande volta, Tadej Pogacar - uma daquelas vitórias que se recordará durante muito tempo -, e Primoz Roglic fez mais uma exibição de se tirar o chapéu. 

E um bom chapéu de chuva teria dado jeito, pois Pogacar conquistou uma daquelas etapas com ingredientes a torná-la épica. Curta, apenas 94,4 quilómetros entre Andorra la Vella e Cortals d’Encamp, com cinco subidas: duas de primeira (uma a começar e outra a fechar), uma especial e duas de segunda categoria. E depois houve um temporal só para tornar tudo um pouco mais dramático, com direito a granizo! Pogacar está habituado a competir com e é o primeiro a admitir que até fica contente quando as previsões dão chuva. Talvez não fosse precisa tanta! Quando em Fevereiro ganhou no Alto da Fóia, na Volta ao Algarve, também não estava nada agradável

Foi uma exibição de enorme nível, com um ataque final que deixou Quintana sentado. A estreia numa grande volta era suposto só acontecer em 2020, mas perante os resultados - além da Algarvia, venceu a Volta à Califórnia e obteve outras boas classificações - a UAE Team Emirates levou-o a Espanha. Há que não esquecer: este é o seu primeiro ano como profissional e no World Tour.

Não tem pressão e nem a vitória de etapa e o quinto lugar na geral a 1:42 minutos da liderança vai mudar essa postura. Pogacar e a equipa têm tudo a ganhar com isso, pois há que não esquecer que tem apenas 20 anos e não sabe como o corpo vai reagir a três semanas de competição Mas claro, depois do que fez hoje, já todos pensam cuidado com ele. Se não fosse aquela queda colectiva no contra-relógio, a diferença até seria menor. Perdeu 1:07 minutos para a então vencedora Astana de Miguel Ángel López e 51 segundos para a Movistar de Nairo Quintana, o novo camisola vermelha da Vuelta.

No ano em que Roglic, de 29 anos, se está a afirmar como líder para as grandes voltas, ficou um pouco ofuscado por Pogacar na etapa deste domingo. Porém, fez mais uma boa prestação na montanha, ainda mais tendo em conta que caiu. Uma moto parou num local pouco recomendável, segundo a Jumbo-Visma, e Roglic caiu numa fase em que o piso era em terra e antes da subida final. Não entrou em pânico quando perdeu contacto com os mais directos rivais e acabou por bater todos menos Nairo Quintana. Foi terceiro, bonificou mais quatro segundos e os seis segundos que o separam do colombiano não preocupam muito o ciclista da Jumbo-Visma, que depois do contra-relógio de terça-feira poderá ficar como o grande favorito. 

Quintana também esteve muito bem dentro de uma Movistar que é simplesmente uma trapalhada. Até trabalharam bem inicialmente, mas depois foi Quintana a atacar, Alejandro Valverde a contra-atacar e ainda se assistiu ao momento que não esconde que não se vive o mais saudável dos ambientes na Movistar. Marc Soler protestou à vista de todos por ter de esperar por Quintana e abdicar de ganhar a etapa. Percebe-se a frustração a três quilómetros da meta, mas ficou muito mal a Soler e à Movistar aquela atitude. 

Nairo Quintana é o novo líder da Volta a Espanha e a sensação que fica é que na Movistar não se festeja particularmente a camisola vermelha, ainda mais se for verdade que Valverde havia sido nomeado o líder, como Quintana disse há uns dias. No Giro, Richard Carapaz foi contra a hierarquia que colocava Mikel Landa como líder e conseguiu unir a equipa em seu redor para vencer a corrida. Não será fácil Quintana fazer o mesmo, mas só depois do contra-relógio é que se perceberá se Quintana pode mesmo discutir a Vuelta. Mas é o líder e isso motiva-o.

Quintana fez com que a Colômbia fosse novamente falada, já que Miguel Ángel López passou de potencial grande figura do dia, ao maior derrotado. Quando finalmente a Astana esteve forte, sendo quase perfeita na táctica, e quando López fazia jus à alcunha de Super-Homem na penúltima subida do dia, lá veio o momento "kryptonite". Caiu na zona de terra, quando o temporal tornou a etapa ainda mais complicada. Perdeu uma vantagem de mais de meio minuto e na meta viu os três rivais passarem à sua frente. Está a 17 segundos de Quintana, mas a principal preocupação é saber se ficou bem fisicamente, pois estava a sangrar de um braço e pareceu estar mais "mal tratado" do que Roglic. A fechar o quarteto da frente está Alejandro Valverde a 20 segundos do companheiro/rival de equipa.

Está uma Vuelta animada ao fim da primeira semana. O quarteto de candidatos está mais do que formado, mas ficar-se-á à espera de ver se Pogacar mantém o nível e a UAE Team Emirates bem espera que sim, pois Fabio Aru afundou-se na classificação, ficando a mais de 35 minutos de Quintana.. O dia de folga acaba por chegar numa boa altura, principalmente para López, a precisar talvez de recuperar da queda. 

Há que aproveitar o descanso, pois terça-feira haverá o único contra-relógio da corrida. Na Vuelta o esforço individual não é tão valorizado pela organização como no Tour ou Giro. Contudo, dada a distância de 36,2 quilómetros, poderá ser um dia essencial para as pretensões de Roglic. Mesmo estando bem na montanha até agora, ganhar uma vantagem acima dos dois minutos na sua sua especialidade será importante para precaver alguma quebra, que sabe que pode acontecer, pois viveu essa experiência no Giro.



A Vuelta andará por França, com o contra-relógio a acabar em Pau, precisamente o local do mesmo tipo de etapa do Tour. Roglic é o favorito à vitória, mas na fase em que a Eslovénia é notícia, atenção a Pogacar, que tem qualidades de contra-relogista, sendo o campeão nacional, ainda que não tenha havido um confronto directo com Roglic.




Classificações completas, via ProCyclingStats.

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