8 de setembro de 2019

Kuss e Roglic em dia perfeito para a Jumbo-Visma. Mas Ruben Guerreiro é cada vez mais uma figura da Vuelta

(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Primoz Roglic deu um passo talvez não de gigante, mas bastante grande para ganhar a Vuelta. Porém, é impossível não começar por Ruben Guerreiro. Afinal, não é todos os dias que se tem um português estreante em provas de três semanas a ficar no segundo lugar de uma etapa, sendo novamente destaque numa corrida em que os mais novos vão brilhando, enquanto Roglic faz da experiência uma arma para se aproximar de um triunfo que há dois anos ainda se duvidava ser possível.

Se Ruben Guerreiro não tiver um contrato a surgir-lhe em breve (se é que já não apareceu) então será de estranhar. O ciclista português pode ter duas temporadas iniciais de World Tour algo inconstantes, mas é bem conhecido o seu talento e potencial. Na terceira época, eis a estreia fabulosa numa em grandes voltas. Já tinha sido quarto na oitava tirada e foi 11º do difícil subida de Los Machucos, na sexta-feira. As boas exibições estão a ser constantes e reflectem-se também na geral. É 16º, ainda que a mais de 16 minutos de Primoz Roglic. A diferença não perturbará em nada Guerreiro, que assim poderá continuar a ter liberdade para entrar em mais alguma fuga (ou fugas) até ao final da Vuelta.

As performances do corredor da Katusha-Alpecin estão a chamar a atenção de todos, incluindo dos meios de comunicação social (só é pena não aparecerem fotografias do português nas melhores do dia da organização). O desentendimento com Tao Geoghegan Hart no final da etapa ajudou a chamar mais a atenção, mas já antes os jornalistas "perseguiam" o português para o ouvir. Ruben Guerreiro destacou como não é um trepador puro, mas que está em boa forma. E nota-se. O ciclista de 25 anos tem estado em grande nível na maioria das principais subidas da Vuelta.

O contrato com a Katusha-Alpecin está a chegar ao fim e há que não esquecer que a equipa não tem continuidade garantida para 2020. Custou, mas Ruben Guerreiro está a mostrar na Vuelta o potencial que o levou até à Hagens Berman Axeon (nome actual da formação americana), dando depois o salto para o World Tour, então para a Trek-Segafredo. Não foi por acaso que em 2017 foi considerado por muitos um dos jovens a seguir com atenção. Na Vuelta já não há ninguém que não esteja atento.

Valverde atacou e acabou a aliar-se com Roglic


(Fotografia: © PhotoGomezSport/La Vuelta)
Num dia com quatro primeiras categorias em 154,4 quilómetros entre Tineo e Santuario del Acebo, a luta pela geral ficou guardada para a última das subidas. Entretanto, a Movistar e a Astana tinham feito a jogada habitual de colocar homens na fuga para depois ajudarem os líderes, com a Jumbo-Visma a optar por fazer o mesmo, com Sepp Kuss. Contudo, com Roglic tão forte, a equipa holandesa deu-se ao luxo de dar liberdade ao americano, que, aos 24 anos, aproveitou a oportunidade para conquistar a sua primeira vitória no World Tour, numa das etapas mais difíceis da Volta a Espanha.

Kuss deixou a concorrência a 39 segundos, com Guerreiro e Hart a não reagirem de imediato ao ataque do americano e depois tornou-se numa missão impossível apanhá-lo. O ciclista até teve tempo para celebrar a vitória com o público nos últimos metros da subida.

Enquanto na frente da corrida era o espectáculo Kuss, um pouco mais atrás era o espectáculo Roglic. Desta feita aliou-se com Valverde. Ou melhor, o espanhol percebeu que era melhor aliar-se com o esloveno, já que não ia conseguir quebrá-lo. O líder da Movistar atacou e Roglic até fez parecer fácil seguir na roda do campeão do mundo, ao contrário de Nairo Quintana que ficou para trás e nem Tadej Pogacar conseguiu desta vez manter-se ao lado do compatriota, talvez com a queda da véspera a ter influência na sua condição física.


Roglic está simplesmente mais forte do que todos e se Valverde manteve os 2:25 minutos de diferença, Pogacar (UAE Team Emirates) está agora a 3:42, após os 41 segundos perdidos neste domingo. Miguel Ángel López (Astana) não quis aliar-se ao esloveno, o que se percebe já que ambos estão na luta pela juventude. Porém, pagaram um preço caro na luta pela geral. Para Pogacar o terceiro lugar será sempre uma grande vitória, já López vê esta Vuelta começar a tornar-se num pesadelo. 3:59 minutos para recuperar já deverá ser de mais, a não ser que Roglic tenha uma quebra enorme.

Se já não é fácil ver López como candidato à camisola vermelha, Quintana ficou fora da corrida ao perder mais de um minuto. Já são 5:09 para Roglic.

Nesta edição da Vuelta, a folga é só na terça-feira e apesar de ainda haver pela frente mais duas importantes etapas de montanha na última semana, se alguém quiser fazer frente a Roglic tem de cortar tempo na 16ª tirada, ou então ficará muito dependente de algo ter de acontecer ao esloveno. E para já, o Roglic e a Jumbo-Visma têm a Vuelta muito bem controlada.

Para Valverde foi um mal menor ter terminado a etapa com o rival. Pelo menos ganhou tempo a Pogacar e López, estando assim mais perto de um novo pódio numa grande volta e de segurar o segundo lugar. Mas ainda não quer deixar Roglic descansado.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

16ª etapa: Pravia - Alto de la Cubilla (144,4 quilómetros)



A tirada de segunda-feira terá a última categoria especial da Volta a Espanha. Estar de vermelho no Alto de la Cubilla poderá ser um passo de gigante rumo à vitória final. Não é das maiores dificuldades da Vuelta, numa perspectiva de ter pendentes muito complicadas. Não chega aos 10% de máxima, mas depois de tantos quilómetros, tantas montanhas, o desgaste é enorme e pode pesar numa subida tão longa como esta. Depois de uns primeiros quilómetros mais planos, são pouco mais de 100 sempre a subir e descer e qualquer uma das subidas a acabar sempre acima dos mil metros de altitude. Puerto de San Lorenzo: 10 quilómetros com 8,5% de pendente média; Alto de Cobertoria, 8,3 a 8,2%; Alto de la Cubilla, 17,8 a 6,2%.




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