2 de setembro de 2019

Arkéa-Samsic aposta em Quintana para cumprir objectivo ambicioso

(Fotografia: © Bettiniphoto/Movistar Team)
De equipa amadora a uma ganhadora de uma grande volta. O objectivo está traçado e a Arkéa-Samsic até vai cortar um pouco com as suas raízes para o tentar concretizar. Nascida na Bretanha, a equipa rende-se aos encantos colombianos, mas aposta num ciclista experiente e que há muito entrou no lote das desilusões depois de muito prometer. É a mudança que Nairo Quintana procurava para se afastar de uma Movistar onde se tem passado mais tempo a lutar por estatuto do que por grandes voltas. Falta agora saber se para a Arkéa-Samsic é contratação certa, pois os dois principais investimentos feitos, estão longe de rentabilizar.

Contratar Quintana é um risco assumido da equipa francesa, com ambições de chegar a World Tour em 2020. A história começa nos anos 90, quando Jean Floc’h criou a equipa Bernard Sport Team. Chegou a servir de trampolim para alguns ciclistas chegarem ao profissionalismo, até que em 2005 a estrutura deu o passo para adquirir a licença Continental. Em 2011 subiu mais um escalão, para em 2014 fazer a sua estreia no Tour. Foi crescendo, sendo agora uma equipa com saúde financeira. 

Quintana irá carregar grande parte da ambição da Arkéa-Samsic. Foi um jovem promissor, aquele que se acreditava vir a ser o primeiro colombiano a ganhar o Tour. Ganhou o Giro e a Vuelta, fez três pódios no Tour, mas nos últimos três anos as suas prestações arrancam mais críticas do que elogios. O director da Arkéa-Samsic, Emmanuel Hubert, acredita que a equipa está a caminho de se tornar numa das melhores do mundo. E que não restem dúvidas, é isso que pretende: "Isso vai exigir rigor e profissionalismo. Já não somos uma equipa familiar pequena, mas vamos continuar a colocar a pessoa no centro do nosso projecto."

Hubert considera que o plantel que irá apresentar para 2020 não irá ficar nada a atrás de uma equipa World Tour, deixando uma garantia: "Demos a nós próprios três temporadas para levar o projecto mais além, com uma vitória numa grande volta."

Com Quintana - que assinou até 2022 - irá da Movistar um dos seus braços direitos: Winner Anacona (até 2021). Também o mais novo dos Quintana se vai juntar novamente ao irmão. A equipa espanhola não renovou com Dayer, que assim se separou de Nairo e foi prosseguir a carreira em Itália, na Neri Sottoli-Selle Italia-KTM. Porém, a Arkeá-Samsic irá juntá-los novamente. Diego Rosa deixará a Ineos para integrar o bloco da Arkéa-Samsic até 2021. Ainda durante este mês, Hubert deverá anunciar mais um reforço com algum peso, mas para o sprint. Nacer Bouhanni estará a caminho da estrutura, finda que está há muito a relação com a Cofidis.

Desde que em 2018 estes dois patrocinadores reforçaram substancialmente o orçamento da então mais conhecida por Fortuneo ou, recuando mais um pouco, Bretagne (foi variando o segundo nome), que começaram a entrar nomes fortes do ciclismo. O primeiro foi Warren Barguil, seguindo-se em 2019 André Greipel. Nem um, nem outro rendeu perto do esperado.

Barguil, um bretão, chegou como herói do Tour, com duas vitórias de etapas e uma camisola da montanha. Mas foram más prestações atrás de más prestações, até o título francês em Junho. Provavelmente foi uma conquista que salvou a carreira de Barguil, que admitiu que ponderou colocar um ponto final. Foi à Volta a França terminar no 10º lugar. Melhor, é certo, mas ainda assim, pouco para a ambição da Arkéa-Samsic e para o investimento que foi feito no ciclista. Se Barguil demorou a mostrar serviço, Greipel nem se vê, mas tem mais um ano de contrato. Aos 37 anos, já pouco se espera do alemão.

Se Bouhanni chegar, não deverá, por isso, haver problemas com Greipel. Porém, o entendimento entre Barguil e Quintana gera dúvidas. Hubert afirmou que quer os dois a trabalharem juntos. O senão, é que o colombiano gosta de ser o líder único. Aliás, tem sido esse um dos problemas na Movistar.

Na folga de uma Vuelta que Quintana lidera, fica confirmado um futuro há muito conhecido. A UAE Team Emirates ainda chegou a ser apontada como possibilidade, mas o colombiano escolheu a Arkéa-Samsic. Considera que é lá que vai "florescer profissionalmente". Contudo, quando tiver 30 anos (fará a 4 de Fevereiro), Quintana estará muito provavelmente numa equipa Profissional Continental, muito dependente de convites para grandes corridas.

A Arkéa-Samsic quer subir de escalão, mas as duas licenças - além das 18 para as equipas actuais - que a UCI deverá atribuir a mais, estarão provavelmente nas mãos da Cofidis e Total Direct Energie. Nada está confirmado, mas se assim for e com as licenças a passarem a ser por três anos, Quintana poderá ficar afastado de um Giro e Vuelta, já que no Tour é provável que se mantenha o convite da organização, mas dificilmente acontecerá nas outras corridas de três semanas.

Quando foi conhecida a difícil situação da Katusha-Alpecin, ainda foi noticiado o possível interesse da Arkéa-Samsic em procurar uma solução como a da CCC, que ficou com a BMC. Tal permitiria subir a World Tour. No entanto, a notícia foi desmentida pela equipa francesa.

Há espaço para novidades, num plantel que será de 28 ciclistas e que tem apenas 15 garantidos, entre eles jovens muito interessantes como Thibault Guernalec (que recentemente se mostrou na Volta a Portugal), Élie Gesbert ou o britânico Connor Swift. Está publicamente definido um objectivo ambicioso, mas esta Arkéa-Samsic continua envolta em muitos pontos de interrogação. As apostas em Barguil e Greipel falharam e Quintana não convence. Mas quem sabe, talvez o que o colombiano esteja a precisar é de uma mudança, mesmo que tenha de descer de escalão.

Richard Carapaz também sai da Movistar

É a debandada da equipa espanhola. Mikel Landa está a caminho da Bahrain-Merida, Quintana da Arkéa-Samsic e a Movistar também não conseguiu agarrar o ciclista que quebrou o jejum de grandes voltas da a formação espanhol no último Giro. A Ineos continua à caça dos maiores talentos e vai juntar Richard Carapaz a Egan Bernal, Chris Froome, Geraint Thomas, Pavel Sivakov... E a lista continua...

O equatoriano assinou até 2022 e de uma assentada só, a Movistar perdeu três dos seus quatro líderes. Sobrou o veterano Alejandro Valverde. Enric Mas irá entrar para ocupar esse posto. Estão também dois italianos da Astana a caminho: Dario Cataldo e Davide Villella. O jovem britânico Gabriel Cullaigh (SEG Racing) e o colombiano Juan Diego Alba (Coldeportes Zenu) serão igualmente reforços na equipa que conta com o português Nelson Oliveira. O ciclista de Anadia renovou por mais dois anos durante o Tour.


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