6 de setembro de 2019

A aliança perfeita. Até quando?

(Fotografia: © Bettiniphoto/UAE Team Emirates)
Fabio Aru abandonou a Vuelta. E no entanto, nem na própria equipa se pensa muito nessa saída. A UAE Team Emirates tem a sua nova estrela, uma que está a confirmar e até a superar as expectativas na corrida. Tem apenas 20 anos (faz 21 a 21 de Setembro), está na sua primeira grande volta, ganhou a sua segunda etapa, subiu a terceiro na geral e é difícil não pensar que vai olhar mais para cima. Tadej Pogacar só não é o centro das atençōes na Volta a Espanha porque Primoz Roglic está igualmente fenomenal. Contudo, na equipa dos Emirados não há dúvidas que Pogacar receberá toda a atenção, agora e no futuro.

Aru vai ter uma concorrência forte em 2020. Terá mesmo de produzir boas exibições e alcançar resultados de nota rapidamente se quiser tentar manter estatuto de líder, ainda que seja inevitável partilhá-lo com Pogacar. Mas há tanto tempo que não se vê o melhor de Aru... Na Vuelta em que queria mostrar que o pior já tinha passado - foi operado a uma perna, num problema que o estaria a limitar fisicamente - acaba por sair devido a uma lesão muscular. Ainda se mostrou após a queda no contra-relógio colectivo que afectou quase toda a equipa, mas acabou por se "apagar" por completo. Por outro lado, Pogacar - que até estava previsto estrear-se em provas de três semanas apenas 2020 - está a ser mais um dos jovens talentos com muito futuro a tornar-se numa figura do presente, à imagem de Egan Bernal, Mathieu van der Poel, Wout van Aert, Remco Evenepoel... E já se sabe como esta lista é longa e com tanta qualidade.

Depois de vencer em Cortals d’Encamp, na difícil de etapa de Andorra, foi rei em Los Machucos, uma daquelas subidas que quebra o melhor dos trepadores. Que o diga Miguel Ángel López! Houve uma aliança entre Pogacar e Roglic (Jumbo-Visma), dois ciclistas que estão a colocar a Eslovénia cada vez mais no mapa do ciclismo. Roglic nem tentou disputar a vitória de etapa nos metros finais, mas tal não retira mérito a Pogacar, que foi quem lançou o ataque que deixou todos os rivais para trás e levou Roglic na roda durante bastante tempo.

Uma ajuda preciosa ao camisola vermelha, que também acelerou e fez o seu trabalho para aumentar uma vantagem que os rivais tanto falavam em querer reduzir, naquele que diziam ser o seu terreno. O problema para López, Nairo Quintana e Alejandro Valverde é que a montanha é também cada vez mais o terreno de Roglic, além do contra-relógio.

A aliança eslovena levou ainda Pogacar à liderança na juventude e deixa Roglic com 2:25 minutos de vantagem sobre Alejandro Valverde e 3:33 sobre Nairo Quintana. Os corredores da Movistar perderam 27 segundos nos Los Machucos, mas o maior derrotado foi López. O colombiano perdeu 1:01 depois da Astana ter assumido a corrida, numa perseguição a alta velocidade que, não só não quebrou a Jumbo-Visma como pretendia, como talvez tenha desgastado o próprio líder. López saiu do pódio e tem de recuperar 3:18 minutos para Roglic.

A aliança Roglic/Pogacar até foi "anunciada" no final da etapa de quinta-feira, em Bilbau. A cumplicidade entre ambos foi demonstrada ao cortarem a meta, com um cumprimento e uma animada troca de palavras. Em Los Machucos, Roglic foi cumprimentar Pogacar (e se lhe agradeceu, fez muito bem), mas, e agora? Se Pogacar mantiver a forma, até quando vai durar esta aliança? Quando irá Pogacar atacar o compatriota?

As etapas de domingo e segunda-feira serão mais duas muito complicadas. Os eslovenos podem ter mais uma oportunidade de deixar a concorrência para trás antes de eventualmente se tornarem rivais. Pogacar afirmou querer ficar no pódio com Roglic, contudo, a competir assim, vai querer mais do que um terceiro ou segundo posto, ocupado por Valverde. A concorrência é que levou um rude golpe. Este Roglic, não é o ciclista do Giro e vai dando mostras de estar em crescendo na Vuelta. 

Ninguém vai desistir, pois na Volta a Espanha basta um dia mau para que haja nova reviravolta na geral. Mas lá que Roglic está bem encaminhado para um vitória histórica para o seu país, isso é difícil não começar a pensar. "Só" falta saber se aguenta a condição física e se Pogacar não se vai tornar ou não numa preocupação. Se Roglic não falhar e se Pogacar mantiver o nível, López terá mesmo de ser um Super-Homem para ganhar, com Quintana e Valverde a também precisarem de super poderes.

Da Eslovénia até Portugal. Não se pode deixar de referir mais uma excelente prestação de Ruben Guerreiro. Integrou novamente a fuga que desta feita não singrou, mas fez uma boa subida em Los Machucos, terminando na 11ª posição, a 1:13 minutos de Pogacar. Esta é uma subida com pendentes de 25%, com o mais fácil a rondar os 10%, salvo umas curtas fases de descanso. O português da Katusha-Alpecin subiu uma posição na geral, sendo 19º a 18:13 minutos de Roglic. Que Vuelta tão positiva está a fazer Guerreiro, na sua primeira grande volta. Assim, é bem provável que um novo contrato no World Tour esteja a caminho.

Classificações completas, via ProCyclingStats.


14ª etapa: San Vincente de la Barquera - Oviedo (188 quilómetros)


Antes de duas etapas muito importantes na luta pela geral, a organização da Vuelta vai deixar os sprinters terem novamente o seu momento. Será preciso haver força nas equipas destes ciclistas para perseguir a fuga, mas tendo em conta que as oportunidades são tão escassas, até a terceira categoria que não podia faltar para dificultar um pouco as coisas, poderá não afastar Sam Bennett, Fabio Jakobsen e Fernando Gaviria, por exemplo, de lutar pela vitória.




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