11 de setembro de 2019

A etapa de loucos que recolocou Quintana na luta pela geral

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
Se na segunda-feira assistiu-se a uma das etapas de montanha mais aborrecida das grandes voltas este ano, esta quarta-feira assistiu-se a uma das melhores sem montanha de 2019 e de há muito tempo! Foi simplesmente um dia de loucos, palavra utilizada por muitos dos ciclistas, que estão de acordo ao considerarem que viveram um momento inesquecível e talvez até único numa carreira. Philippe Gilbert, o vencedor da etapa, é há 17 anos profissional e admitiu que nunca tinha visto algo igual. Foram 219,6 quilómetros - a tirada mais longa da Volta a Espanha - feitos a uma média de 50,63 quilómetros por hora! Entre a velocidade e o vento foi o caos. E até houve algum pânico, principalmente na Jumbo-Visma e houve também mais uma reviravolta: Nairo Quintana está de regresso na luta pela vitória.

É de deixar qualquer adepto da modalidade ainda mais apaixonado ao ver que na terceira grande volta do ano, com os ciclistas com tantos quilómetros já feitos, há vontade (e força) para dar um espectáculo destes, numa etapa que poderia muito bem ter sido encarada como uma para fazer com calma, um dia para os sprinters, com os homens da geral a pensar mais no que aí vem amanhã, quinta-feira. Poderia, mas não foi.

O vento fazia-se sentir na partida em Aranda de Duero e desde logo se percebeu no pelotão que alguém iria aproveitar esse factor. Talvez não se pensasse que ainda nem estivessem decorridos cinco quilómetros e já estavam 40 corredores a fugir, incluindo Quintana, acompanhado por três ciclistas da Movistar, entre eles Nelson Oliveira. O outro destaque era para os seis homens da Deceuninck-QuickStep que foram os principais responsáveis pelo ritmo alto, com a ajuda de equipas como a Movistar e Sunweb, por exemplo.

Lá atrás, Primoz Roglic acabou por ter um teste surpresa. O esloveno passou, a equipa nem por isso. É certo que houve um desgaste na perseguição e para garantir que Roglic ficava com Alejandro Valverde (Movistar), Miguel Ángel López (Astana) e Tadej Pogacar (UAE Team Emirates). Porém, numa subida não categorizada (não houve nenhuma nesta 17ª etapa), a Movistar acelerou e toda a Jumbo-Visma ficou para trás. Roglic ficou isolado e bem pode agradecer à Astana por provavelmente ainda estar de vermelho.

Quintana começou o dia a 7:43 minutos de Roglic. Estava mais do que afastado da luta pela vitória. Terminou a 2:24! Foi a Astana que assumiu o grupo, mais pequeno do que aquele que estava na frente (entretanto já reduzido a cerca de metade), e com a ajuda de um ciclista da Bora-Hansgrohe evitou o pior para Roglic, ainda que não tenha evitado que o seu próprio líder, López, caísse para quinto e tivesse agora mais um rival com quem se preocupar na luta pelos menos pelo pódio. A Astana ainda viu o seu líder a ser sancionado com dez segundos, tal como Jakob Fuglsang. Segundo a Marca, o dinamarquês terá empurrado o seu companheiro, numa ajuda ao colombiano e os comissários castigaram os dois. López está agora a 4:09 minutos de Roglic. Em quarto está Pogacar, líder da juventude - está em luta com López -, a 3:42.

Houve algum pânico entre os responsáveis da Jumbo-Visma e ficou a certeza que a equipa não pode deixar Roglic abandonado como aconteceu esta quarta-feira. Quando a etapa de loucos chegou ao fim em Guadalajara, não houve ciclista que não precisasse de recuperar o fôlego. Falta saber se vão recuperar para esta quinta-feira aguentar a muita montanha que o pelotão terá pela frente.

Roglic acabou por não perder assim tanto tempo. Quintana passou Valverde, que continua a 2:48, mas são ainda mais de dois minutos para o esloveno gerir. E Quintana tem falhado na montanha, tendo ganho uma etapa num dia com poucas dificuldades. Ou seja, as suas melhores exibições aconteceram em terrenos que não eram os mais propícios para as suas características, mas acaba por fraquejar nas etapas que deveria estar bem.

Porém, deixar o colombiano reentrar nas contas dá uma arma importante à Movistar, que tem duas cartas para jogar. O líder da Jumbo-Visma continua bem encaminhado para uma vitória histórica, mas nada está garantido e qualquer um dos candidatos pode pagar caro o enorme esforço da etapa de hoje, depois do dia descanso.

Neste dia de loucos, Wilco Kelderman da Sunweb (a 5:05 minutos) e James Knox da Deceuninck-QuickStep (a 8:03) entraram no top dez, de onde saíram Nicolas Edet (Cofidis) e Hermann Pernsteiner (Bahrain-Merida). Quem também não teve um dia fácil foi Ruben Guerreiro (Katusha-Alpecin), que chegou mais de 23 minutos depois de Gilbert. Desceu quatro posições na geral, sendo 19º a 35:33, numa altura em que se fala que a Lotto Soudal estará interessada no português.

(Fotografia: © La Vuelta)
Para a história ficará a terceira etapa mais rápida de sempre na Vuelta, que Lawson Craddock chamou de "etapa que viverá na infâmia" quando colocou os seus dados no Strava. E claro, ficará também para a história a sétima vitória de etapa em Espanha de um Philippe Gilbert em grande forma aos 37 anos, pois foi o seu segundo triunfo na corrida. Sam Bennett (Bora-Hansgrohe) tentou sozinho contrariar o trabalho de seis ciclistas da Deceuninck-QuickStep, mas estava escrito que seria um dia para a equipa belga e para o grande ciclista que é Gilbert.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

18ª etapa: Comunidad de Madrid. Colmenar Viejo - Becerril de la Sierra (177,5 quilómetros)


É uma etapa com percurso idêntico àquela que proporcionou uma reviravolta na classificação em 2015, quando Fabio Aru tirou a liderança a Tom Dumoulin, acabando por conquistar aquela que é a sua única grande volta. O italiano já abandonou, o holandês está a recuperar da lesão no joelho contraída no Giro.

Os actores principais serão outros e terão quatro primeiras categorias para ultrapassar, com a etapa a não ter chegada em alto, ao contrário do que tem sido normal, apesar de terminar com uma pequena subida. Qualquer uma das subidas categorizadas acaba acima ou dos 1700 ou dos 1800 metros de altitude. Não haverá aquelas pendentes brutais de 20%, mas serão subidas longas e desgastantes. Puerto de Navacerrada: 11,8 quilómetros a 6,3% de pendente média; Puerto de la Morcuera: 13,2 a 5%; Puerto de la Morcuera: 10,4 a 6,7%; Puerto de Cotos: 13,9 a 4,8%.




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