30 de agosto de 2019

Um filme que já se viu

(Fotografia: © La Vuelta)
Este é um filme já visto. Alejandro Valverde tem tendência a ser figura na Volta a Espanha. Começa forte, até ganha etapas, vai espreitando a liderança, mas acaba por ter o momento de quebra que o tira da luta e até do pódio. Talvez seja por isso que, apesar da exibição bem ao estilo do espanhol e de ter batido aqueles que são vistos como os dois principais candidatos, Miguel Ángel López e Primoz Roglic, a desconfiança mantém-se.

Nos 4,1 quilómetros de Mas de la Costa, com pendentes quase sempre acima dos 10% e com fases acima dos 20%, Valverde quase cedeu num dos ataques de Nairo Quintana, o seu companheiro da Movistar, ou provavelmente mais um rival. Porém, aguentou-se e nos metros finais, a 17%, ainda teve de preocupar-se um pouco com Roglic, mas não muito. Neste tipo de subidas, curtas e bem difíceis, nunca é bom para um ciclista ter Valverde a seu lado no momento de sprintar pela vitória.

Valverde começar a Vuelta forte não é novidade nenhuma. Esclarecido que está que é o espanhol o líder da equipa, pelo menos segundo Nairo Quintana, então fica afastado o suposto plano para o espanhol de perseguir etapas. Já tem uma e vai atacar a geral. Olhando para as edições mais recentes - não esquecendo que a Vuelta foi a única grande volta que Valverde ganhou, em 2009 - o ciclista andou a rondar a camisola vermelha, ainda que não a vista desde 2014, até que tem um ou dois dias em que deita tudo a perder (de recordar que falhou a edição de 2017 devido a lesão)

Talvez por isso, apesar da vitória de Valverde na sétima etapa (Onda - Mas de la Costa, 183,2 quilómetros), seja Primoz Roglic um dos focos de maior atenção. O líder da Jumbo-Visma foi o único a aguentar a pedalada final do espanhol, ainda que não tenha tido de capacidade de contrariar o rival no sprint até à meta. Mas ganhou seis segundos a Miguel Ángel López, mais seis de bonificação e na geral está a... seis do colombiano, que é novamente o líder da Vuelta.

Na terça-feira há um contra-relógio de 36,2 quilómetros que tem todas as características para que Roglic ganhe tempo à concorrência, ainda que no domingo haverá uma etapa muito complicada para os pretendentes à vitória na Volta a Espanha e pode ser muito importante para a classificação geral. López, Valverde e Quintana sabem que têm de ganhar tempo na montanha aos esloveno.

Nem Roglic, nem López têm o currículo de Valverde, mas são neste momento dois dos ciclistas em melhor forma e com equipas capazes de fazer a diferença. A Astana não tem andado muito bem nesta primeira semana de Vuelta, mas ainda há muita corrida pela frente.

Valverde ficou a 16 segundos de López, Quintana a 27. Rafal Majka (Bora-Hansgrohe) já está a 1:58 minutos e todos os outros estão a mais de 2:30. Uma etapa como a de domingo pode até mudar o panorama, mas o quarteto que está na frente dá indicações de estar demasiado forte para a concorrência. Eis o que espera aos ciclistas: duas primeiras categorias (a última a finalizar o dia), duas de segunda e uma de categoria especial em apenas 94,4 quilómetros, entre Andorra la Vella e Cortals d'Encamp.

Antes, este sábado, será o momento para preparar precisamente a difícil etapa de domingo, com uma tirada que até pode ser para os sprinters, caso passem a segunda categoria que termina a menos de 30 quilómetros da meta. Serão 166,9 quilómetros entre Valls e Igualada.

Será também uma boa oportunidade para Miguel Ángel López conseguir algo inédito para ele nesta Vuelta: aguentar mais do que um dia a camisola vermelha. É a terceira vez que a veste e nas duas anteriores perdeu no dia seguinte, muito porque a equipa não está interessada em ter de controlar a Vuelta desde tão cedo. Contudo, a não ser que uma fuga triunfe e alguém volte a tirar a liderança ao colombiano, a Astana poderá mesmo de ter de se preparar para tomar as rédeas no domingo. Dylan Teuns (Bahrain-Merida) teve o seu momento de glória, mas nem por um top dez irá lutar. Perdeu a vermelha e vai pensar em tentar ganhar uma etapa.

Quanto a Valverde, a ver vamos se encontra um final mais feliz na Vuelta para o filme que se tem repetido nos últimos anos. Para já, não há muita euforia em redor do espanhol.


Classificações completas, via ProCyclingStats.



Sem comentários:

Enviar um comentário