29 de setembro de 2019

Um campeão mundial improvável que comprovou 2019 como o ano da nova geração

(Imagem: print screen)
Eram muitos os favoritos, mas só um apareceu. Mathieu van der Poel fez o ataque que se esperava, mas aconteceu algo inesperado: quebrou por completo (acabou a mais de 10 minutos). Com outros dos grandes nomes ou a abandonarem ou a não seguirem a roda do holandês para chegar à frente da corrida - neste último caso foi o exemplo de Peter Sagan e Greg van Avermaet -, ficou em aberto uma surpresa. E assim foi. Mads Pedersen confirmou como 2019 é mesmo o ano em que os mais novos afirmam que estão mais do que preparados para ser as principais figuras. O dinamarquês já não era um total desconhecido, mas agora garantiu que todos o conhecem e reconhecem definitivamente o seu valor.

Chuva, vento, frio... Yorkshire recebeu os Mundiais com uma meteorologia muito agreste. A prova de elite deste domingo foi encurtada de 280 para 261,8 quilómetros. Foram eliminadas duas subidas numa fase inicial e para compensar um pouco, houve mais duas voltas ao circuito final. As dificuldades foram menores, a nível de subidas, mas o tempo prejudicou muito os ciclistas que tentavam sempre estarem bem colocados, em estradas estreitas e extremamente escorregadias.

As ausências daquelas duas subidas também retiraram a possibilidade de ser feita uma selecção de candidatos mais cedo. Sem surpresa foram muitos os incidentes e entre quedas, quebras físicas ou até a admissão que não dava para suportar o frio. Entre os desistentes estiveram o campeão em título até este domingo, Alejandro Valverde, Philippe Gilbert, Remco Evenepoel, Pascal Ackermann, Sam Bennett, Richard Carapaz, Bob Jungels, Dan Martin... Foram 149 abandonos, incluindo os portugueses José Gonçalves, Nelson Oliveira, Rui Oliveira e Ruben Guerreiro. Fizeram o seu trabalho para colocar Rui Costa, que finalizou com o ambicionado top dez (10º a 1:10 minutos de Pedersen). Para dar outra perspectiva, terminaram 46 ciclistas e é preciso recuar a 1999 para se descobrir um número tão baixo: 49. Foi em Verona, com Óscar Freire a ser o campeão naquele ano.

Mas fiquemos por 2019 e há que falar de Mads Pedersen. Em 2018, surpreendeu a própria equipa, a Trek-Segafredo, ao realizar uma temporada fortíssima de clássicas do pavé, principalmente com o segundo lugar na Volta a Flandres. A Trek-Segafredo sabia que ciclista tinha contratado, mas a sua juventude fazia com que a expectativa fosse que precisaria de mais algum tempo para se adaptar e traduzir em resultados o seu potencial. 2019 não decorreu tão bem. Pedersen não confirmou a expectativa que havia aumentada, mas é caso para dizer que deixou o melhor para o fim.

Há uma semana ganhou o Grand Prix d'Isbergues, em França, mas não foi uma corrida que o colocasse no radar para os Mundiais. Nem ele próprio pensava sair de Inglaterra de arco-íris vestido. "É inacreditável. Não esperava isto quando comecei esta manhã. Foi um dia inacreditável", desabafou Pedersen. O dinamarquês não escondeu como sofreu durante as mais de seis horas de prova, mas só esperava que ao ver a meta, todo o sofrimento desaparecesse e pudesse fazer um bom sprint.

Matteo Trentin era o favorito do trio, que contava com o suíço Stefan Kung (terceiro). Gianni Moscon trabalhou mais para poupar o compatriota italiano. Trentin tentou atacar cedo, mas rapidamente ficou sentado naqueles metros finais que coroaram um campeão improvável, mas que ajuda a "refrescar" o ciclismo, que ganha assim uma nova figura, de apenas 23 anos.

A Trek-Segafredo também ganha um novo relevo, poucos dias depois de ter garantido os dois dos campeões mundiais de juniores de Yorkshire, o americano Quinn Simmons (prova em linha) e o italiano Antonio Tiberi (contra-relógio), tem agora um de elite. Mads Pedersen receberá agora outra atenção, da equipa e dos outros ciclistas, sendo um corredor que a Trek-Segafredo mais do que nunca vai esperar que possa tornar-se num homem de clássicas de respeito, na intensa procura pelo sucessor de Fabian Cancellara. A questão será agora perceber como irá reagir Pedersen a inevitável pressão de ser o campeão do mundo, ainda que seja também um ano para desfrutar.

Classificações via First Cycling.





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