24 de setembro de 2019

Como se deixa as rivais longe, muito longe? Compete-se sem ciclocomputador

(Imagem: print screen)
Annemiek van Vleuten é bicampeã do mundo de contra-relógio (2016 e 2017). Anna van der Breggen é a campeã mundial de estrada em título e nos últimos dois anos só foi batida no contra-relógio pela compatriota. Ambas são duas das principais referências do ciclismo feminino, com currículos de respeito. Porém, em Yorkshire só não se pode dizer que foram banalizadas, pois perante a superioridade da nova campeã, ficar a menos de dois minutos quando mais ninguém o conseguiu fazer, quase se pode dizer que foi um mal menor. Quase, porque o que Chloe Dygert fez foi de pura classe, pura potência e pura crença nas suas capacidades. A americana destruiu a concorrência e o segredo pode muito bem ter sido ter competido sem utilizar o seu ciclocomputador.

Dygert não quis pensar na informação desta pequena tecnologia, que muitos ciclistas não conseguem viver sem. Para a americana, o melhor foi competido segundo as suas sensações. "Acho que a minha maior vantagem foi ter corrido sem o potenciómetro. No início deste ano fiz uma corrida numa altura em que estava a recuperar as minhas forças. Lembro-me de olhar para o potenciómetro e pensar que estava a ir muito forte e que precisava de reduzir a intensidade. Por isso, não tive hoje o ciclocomputador, para não olhar para aqueles números e dizer a mim própria 'hey, tem calma', foi mais em ir a todo o gás desde o início", explicou a ciclista de 22 anos.

Admitiu que talvez tivesse pedalado forte de mais no início, mas conseguiu aguentar o alucinante ritmo, concluindo os 30,3 quilómetros com uma média de 43,10 quilómetros/hora, o que se traduziu em 42:11 minutos. Van der Breggen somou novo segundo lugar, ficando a uns inesperados 1:32 minutos de diferença e Van Vleuten a 1:52. A meteorologia foi muito complicada nesta terça-feira e o contra-relógio feminino chegou a ser adiado devido à chuva. Porém, as três primeiras classificadas enfrentaram condições idênticas, pelo que a diferença foi mesmo na exibição de Dygert que deixou todas as rivais longe. Muito longe. A quarta classificada, a também americana, Amber Neben (44 anos e continua entre as melhores) ficou a 2:28. A alemã Lisa Klein a 2:40 e a suíça Marlen Reusser a 3:02.

Dygert é ainda sub-23, escalão que não existe na vertente feminina nos Mundiais. Nem sequer aposta muito na estrada e esteve vários meses afastada depois de uma queda na Volta à Califórnia no ano passado. Depois da exibição no contra-relógio, impôs-se a pergunta se não pretende vir correr para a Europa. "Teremos de ver o que eu vou querer fazer depois de Tóquio", respondeu, admitindo que adoraria competir na Europa, mas para já quer continuar concentrada na pista, a pensar nos Jogos Olímpicos e na estrada será no contra-relógio que mais se concentrará.

Em 2015 foi campeã do mundo de juniores em contra-relógio e na prova em linha e já é uma das fortes candidatas a fazer a dobradinha em Yorkshire, agora como elite. Depois da performance desta terça-feira, vai ter muitas rivais atentas e principalmente uma Holanda desejosa de mostrar a sua teórica superioridade.

(O texto continua por baixo das classificações, via FirstCycling.)



Mikkel Bjerg para a história

A exibição de Dygert surgiu depois de mais uma performance para a história dos Mundiais. Os sub-23 masculinos tiveram de competir em condições dantescas, com a intensa chuva a formar "piscinas" que provocaram muitos problemas aos corredores e momentos insólitos como este em baixo.


Alheio a tudo pareceu estar o dinamarquês que promete ser o próximo grande contra-relogista. Para já tornou-se no primeiro a alcançar três títulos mundiais consecutivos em sub-23, sendo que nunca sequer alguém tinha conquistado dois. O dinamarquês da Hagens Berman Axeon - que está a caminho da UAE Team Emirates - completou os 30,3 quilómetros em 40:20 minutos, deixando a dupla americana Ian Garrison e Brandon McNulty a 27 e 28 segundos, respectivamente. McNulty vai ser companheiro de Bjerg na equipa do World Tour.

(Fotografia; © Federação Portuguesa de Ciclismo)
Quanto à presença portuguesa, João Almeida caiu na fase inicial do contra-relógio e apesar de fazer uma primeira parte muito forte, ficando entre os melhores, acabou por quebrar e ficou na 28ª posição, a 2:50 minutos. "Tinha acabado de avisar o João para ter cuidado com a acumulação de água na estrada, de modo a que escolhesse os locais menos alagados. Mas, logo a seguir a uma curva à direita, foi confrontado com uma altura de água de vários centímetros e era impossível evitar a queda", explicou o seleccionador José Poeira, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

João Almeida referiu: "O ciclocomputador deixou de funcionar. Fiquei sem qualquer dado, velocidade, pulso, potência, distância… Acabei por ter de fazer grande parte da prova condicionado, mas as sensações eram boas." O ciclista não deverá ter lesões graves, o que será uma boa notícia, visto que aposta forte na prova em linha. André Carvalho sentiu dificuldades perante o mau tempo, terminando na 42ª posição, a 3:41 minutos.

Esta quarta-feira partirá uma das maiores esperanças de medalha para Portugal. Nelson Oliveira enfrentará 54 quilómetros muitos duros entre Northallerton e Harrogate, partindo às 14:36.30 horas. O primeiro ciclista a sair será Ramunas Navardauskas às 13:18.30, com o campeão em título, Rohan Dennis, a arrancar às 14:42.30. 90 segundos antes sairá Victor Campenaerts e depois do vencedor da Vuelta Primoz Roglic, outro dos principais favoritos. A prova será transmitida no Eurosport 1.

Classificações do contra-relógio de sub-23, via FirstCycling.


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