25 de setembro de 2019

Rohan Dennis recorreu a bicicleta da BMC para ser campeão pela segunda vez

(Fotografia: © Twitter UCI)
Rohan Dennis reapareceu e foi o contra-relogista de classe superior que se conhece. Desde que estranhamente abandonou a Volta a França, no dia antes do contra-relógio para o qual era o favorito a ganhar, que o campeão do mundo se resguardou em casa, junto da sua família, enquanto treinou para o que acabou por ser o principal objectivo de uma fraca temporada. Deu uma única entrevista neste período de tempo, na qual não explicou o que o levou a deixar o Tour, limitando-se a dizer que tudo que se tinha dito e escrito havia sido exagerado. Dennis regressou e voltou a deixar a concorrência longe nos Mundiais e, no entanto, a difícil relação com a sua equipa continua a ser tema depois de não ter utilizado uma bicicleta Merida, mas sim da marca que lhe deu alguns dos seus maiores triunfos: BMC. Dennis é agora um bicampeão do mundo de contra-relógio, mas a incerteza quanto ao seu futuro é grande.

Por altura em que se publica este texto, ainda não há qualquer reacção da Bahrain-Merida quanto à conquista do seu ciclista. A Deceuninck-QuickStep e a Ineos, por exemplo, rapidamente colocaram nas redes sociais menções às conquistas de Remco Evenepoel e Filippo Ganna, medalha de prata e bronze, respectivamente.

Dennis desapareceu na 12º etapa do Tour - por momentos nem a equipa sabia o que tinha acontecido - e uma das razões adiantas nos meios de comunicação social para o abandono foi um possível descontentamento com o material que a Merida lhe estava a disponibilizar para o contra-relógio. O australiano nunca confirmou essa versão e numa entrevista ao The Advertiser, garantiu que nunca disse mal de nenhum patrocinador. Não corria desde 18 de Julho e reapareceu esta quarta-feira com uma BMC e não uma bicicleta da Merida. A bicicleta destes Mundiais foi pintada toda de preto, sem menção à marca.

O próprio ciclista admitiu a troca, referindo que foram os responsáveis da selecção australiana que determinaram que seria o melhor para ele, que aquela bicicleta seria a mais indicada para a sua posição corporal. Questionado se teria problemas com a Bahrain-Merida, limitou-se a dizer que teriam de perguntar à equipa, mas realçou como a escolha na selecção supera a da equipa que representa durante o ano. Os regulamentos permitem que ao representar o seu país nos Mundiais, os ciclistas possam escolher o seu equipamento, o que não significa que não vá ter problemas com quem lhe paga o salário.

As marcas apostam forte em ter ciclistas de renome a utilizarem as suas bicicletas. Para a Merida foi a oportunidade de ter novamente um campeão do mundo, depois de Rui Costa ter-se mudado para a então Lampre. No entanto, ao ver Dennis ser novamente campeão sem que se tenha visto a marca Merida em destaque durante a transmissão televisiva é um rude golpe mediático.

Rohan Dennis tem mais um ano de contrato com a Bahrain-Merida, equipa que escolheu depois do final da BMC. Esteve longe de ser um ano fantástico para o australiano, mas que até apareceu bem na Volta à Suíça, sendo segundo atrás de Egan Bernal (Ineos). Uma classificação algo surpreendente, mas que abriu expectativas para o Tour. Contudo, foi o Dennis do costume, com as temporadas a passar e o tal voltista em que prometeu tornar-se não se ver.

A Bahrain-Merida já contratou Mikel Landa e Wout Poels e poderá muito bem apostar mais num Dylan Teuns que se destacou tanto no Tour como na Vuelta. O problema de Dennis é que pode ser bicampeão do mundo de contra-relógio, mas o papel que poderá desempenhar numa equipa não é nesta fase da sua carreira claro. Não é um líder que dê garantias e não se tem apresentado disponível para ser gregário. Aos 29 anos, o australiano prepara-se para enfrentar um 2020 muito importante para definir o que resta da sua carreira.

Remco Evenepoel espectacular

O belga não quis competir em sub-23 - escalão a que ascendeu este ano - por respeito aos adversários. Dada a experiência que pôde viver na Deceuninck-QuickStep em 2019, Remco Evenepoel considerou mais justo saltar o escalão e ir directamente dos juniores para a elite nos Mundiais. Há um ano ganhou os títulos no contra-relógio e na prova de estrada e esta quarta-feira só um Rohan Dennis fortíssimo não permitiu um autêntico conto de fadas. Ainda assim, aos 19 anos, Evenepoel foi segundo, a 1:09 minutos, deixando atrás de si alguns dos principais nomes da especialidade, como Nelson Oliveira.

(Fotografia: © Federação Portuguesa de Ciclismo)
O português chegou a estar numa posição de conquistar finalmente uma medalha em Mundiais, mas uma ligeira quebra na fase final fê-lo perder o pódio por menos de 15 segundos. Com os ciclistas separados por pequenas diferenças, Nelson caiu de um potencial terceiro posto para oitavo, mas foi mais um excelente resultado e o quarto top dez em Mundiais de elite.

Nelson Oliveira vai continuar a perseguir a medalha que lhe tem escapado, enquanto de Remco Evenepoel se espera que mais cedo ou mais tarde vista a camisola de campeão do mundo de elite no contra-relógio e muito provavelmente numa prova de estrada, que vai participar no domingo.

De referir que Primoz Roglic teve um dia para esquecer. O esloveno esteve longe do ciclista que foi medalha de prata nos Mundiais de Bergen, há dois anos, com a Vuelta a ter o seu peso numa prestação que o fez ser ultrapassado por Rohan Dennis, que partiu três minutos depois! Tony Martin fechou mais um top dez, mas parece cada vez mais difícil que venha a conseguir o ambicionado quinto título. O recordista da hora Victor Campenaerts caiu, teve de trocar de bicicleta... outro corredor que teve um dia para esquecer. Já Alex Dowsett vai recordá-lo, pois a correr em casa foi quinto, na sua melhor classificação de sempre em Mundiais.

(O texto continua por baixo da classificação, via FirstCycling.)


Virar de página em Yorkshire
(Fotografia: © Federação Portuguesa de Ciclismo)
A partir desta quinta-feira arrancam as provas em linha, com a prova de juniores masculinos (12:10, com transmissão no Eurosport 1). Os portugueses André Domingues (dorsal 114) e João Carvalho (113) vão marcar presença na corrida de 148,1 quilómetros, com partida em Richmond e chegada em Harrogate, onde o pelotão irá cumprir três voltas ao circuito urbano. Antes os corredores vão ultrapassar duas subidas que deverão encurtar o grupo principal. Em Kidstones, ao quilómetro 44,7 há uma escalada de 3900 metros, com inclinação média de 4,3% e máxima de 11,3%. Em Summerscales (87,4), a subida terá 6,4 quilómetros, com pendente média de 3,9%.

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