12 de setembro de 2019

Da vitória no Alentejo à conquista de Espanha

(Fotografia: © La Vuelta)
Sergio Higuita chegou ao World Tour em Maio e não perdeu tempo para deixar a sua marca. Era esse o seu objectivo, pois o pequeno colombiano é grande em ambição e ainda maior na dedicação a trabalhar para alcançar o topo. Cerca de um mês antes de disputar a Volta a Califórnia com Tadej Pogacar, Higuita esteve na Volta ao Alentejo, tendo ganho na etapa que terminou em Portalegre. Meio ano depois atingiu o ponto mais alto da sua curta carreira. Até agora, claro, pois a vitória na 18ª tirada da Vuelta é apenas o início de um caminho que muito promete para este jovem colombiano.

Higuita é mais um dos ciclistas da nova geração que está a afirmar-se muito rapidamente ao mais alto nível. Foi um dos atletas que conseguiu na Manzana Postobón mostrar o seu talento, convencendo os responsáveis da EF Education First. No entanto, a equipa americana preferiu colocar o ciclista na Fundação Euskadi na primeira parte do ano, de forma a permitir uma maior adaptação à realidade europeia. Numa entrevista ao Volta ao Ciclismo, Higuita afirmava que estava a ser uma uma experiência positiva, principalmente para se adaptar ao Inverno na Europa, já que pela Manzana Postobón tinha realizado algumas corridas no Velho Continente.

A aposta da EF Education First em colocá-lo na formação espanhola foi acertada. Higuita evoluiu o suficiente para entrar pela porta grande no World Tour. Higuita sabia que a sua estreia seria na Volta à Califórnia. Logo então ficou bem clara a ambição do jovem colombiano, que queria apresentar-se forte na nova equipa. Foi segundo, a 16 segundos de Pogacar (UAE Team Emirates). Estava feita a apresentação no World Tour. Foi quarto na Volta à Polónia e chegou à Vuelta com direito a receber muita atenção, numa equipa com Rigoberto Uran e Daniel Martínez, dois compatriotas, um já veterano e outro também visto como grande promessa.

Aos 22 anos, Higuita enfrentou a Vuelta como enfrentou a sua chegada ao World Tour. Sem medo, com vontade de mostrar-se, com ainda mais vontade de vencer. A sua impetuosidade já lhe criou alguns dissabores, pois por vezes desgasta-se desnecessariamente. Porém, a Vuelta também está para aprender. É por isso que está com liberdade e sem responsabilidade. Mas também é verdade que a mesma impetuosidade teve um papel importante na sua vitória de etapa esta quinta-feira, em Becerril de la Sierra.

O jovem colombiano esteve ao ataque praticamente desde o primeiro quilómetro. Não teve problema em trabalhar para tentar manter a fuga, no que poderia parecer que estava novamente a desperdiçar forças. Mas desta feita encontrou as que precisava para aproveitar a vantagem que ganhou na descida antes da última subida do dia. Como a etapa não terminava em alto, ainda teve quase 30 quilómetros em plano ou em descida para manter à distância (15 segundos na meta) o quarteto de perseguidores: Primoz Roglic, Alejandro Valverde, Miguel Ángel López e Rafal Majka.

Foram 178,2 quilómetros que Higuita não esquecerá, mesmo que pela frente lhe esperem grandes conquistas. E a EF Education First também se irá lembrar como o jovem que chegou a meio da época garantiu a única vitória de etapa numa grande volta em 2019 para a equipa. A aposta na Vuelta foi forte, mas a queda na sexta etapa deixou Uran no hospital (está a recuperar de graves lesões) e também Hugh Carthy abandonou. Tejay van Garderen sofreria outra queda que o levaria a deixar a corrida no dia seguinte. Higuita também caiu com Uran e Carthy, mas aí está ele, a transformar a sua enorme ambição em vitórias.

Já se pode mostrar optimismo

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
Foi Primoz Roglic quem admitiu que pode mostrar algum optimismo, mas acrescenta de imediato que é necessário manter a concentração. A louca etapa de quarta-feira deixou marcas em todos e, sem surpresa, principalmente em Nairo Quintana. Depois de recuperar mais de cinco minutos, o colombiano perdeu um. Ainda está no pódio, mas foi novamente ultrapassado pelo companheiro da Movistar, Alejandro Valverde. Porém, mais uma vez, Quintana falhou onde deveria ser mais forte: na montanha.

Foi Miguel Ángel López quem tentou assustar Roglic. A Astana jogou as cartas na perfeição, mas o esloveno da Jumbo-Visma não se assusta facilmente nesta Volta a Espanha, não revela qualquer debilidade, apenas mostra a capacidade de manter a calma quando é atacado e, ao seu ritmo, não deixa os rivais escapar. Foi assim com López. O colombiano chegou a ganhar uma vantagem que nunca foi muito além dos 20 segundos, mas Roglic manteve-se com Valverde e acabaria por apanhar López.

Faltam apenas dois dias para a Movistar e a Astana encontrarem forma de quebrar Roglic. A tirada desta sexta-feira começa com uma terceira categoria, tem algum sobe e desce, mas sem subidas muitos complicadas ou categorizadas. O vento poderá marcar presença, pelo que a Jumbo-Visma terá de estar atenta para não deixar Roglic sozinho, como aconteceu na quarta-feira, caso alguma equipa tente partir o pelotão. Com as forças a escassearem, também é possível que se guarde os últimos ataques para sábado, para as derradeiras montanhas.

Valverde está a 2:50 minutos de Roglic, Quintana a 3:31 e López a 4:17. Trabalhou tanto na 18ª etapa, mas Roglic até foi segundo e bonificou seis segundos. Para o colombiano o esforço valeu a pena para recuperar a liderança da juventude. Ultrapassou Pogacar, que ficou agora a 32 segundos de López.


Classificações completas, via ProCyclingStats.

19ª etapa: Ávila - Toledo (165,2 quilómetros)


Tem tudo para ser uma etapa para os sprinters, mas atenção ao vento e ao quilómetro final. Será em subida e em empedrado, pelo que trará uma dificuldade extra para a preparação do sprint, caso não seja uma fuga a triunfar, como tem sido tão habitual na Vuelta.




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