5 de setembro de 2019

Philippe Gilbert mostra como se reage a uma desilusão

(Fotografia: © Sarah Meyssonnier/La Vuelta)
Como se encara uma desilusão? Olha-se em frente, estabelece-se um novo objectivo e empenha-se todas as forças no que se quer ganhar e não no que se perdeu. Assim mostrou Philippe Gilbert na 12ª etapa da Vuelta. O belga nunca escondeu como ficou desiludido ao não ser incluído no oito eleito pela Deceuninck-QuickStep para a Volta a França. Mas conseguiu tirar uma motivação extra para pensar nos Mundiais, com uma Volta a Espanha pelo meio. Entretanto, anunciou que está de saída da equipa, mas para que não existam dúvidas do seu profissionalismo, foi à procura de uma vitória nesta grande volta. E alcançou-a bem aos seu estilo. Há muito que não é um ciclista de muitos triunfos, mas quando vence, é quase sempre nos grandes palcos e de uma forma que demonstra o ciclista de enorme nível que é.

Gilbert cortou a meta em Bilbau de mãos bem abertas. Sinalizava as dez vitórias de etapas em grandes voltas, seis na Vuelta, três no Giro e uma no Tour. E se só isto já seria um marco na carreira da maioria dos ciclistas, na do belga estes triunfos são apenas o início de um lista impressionante. Ganhou quatro dos cinco monumentos (falta a Milano-Sanremo), a Lombardia duas vezes.  Fez a tripla das Ardenas, vencendo a Amstel Gold Race quatro vezes. Foi ainda campeão do mundo em 2012, numa lista que conta com mais de 70 vitórias.

Aos 37 anos está dedicado em vestir novamente a camisola do arco-íris, que agora está com Alejandro Valverde (Movistar). Gilbert sabe bem o que é estar em alta e depois viver momentos maus e que testam a resistência física e mental de um ciclista. Foi assim quando se mudou para a BMC, depois de três anos fenomenais na Lotto. Na BMC, Gilbert até foi campeão do mundo, mas não viveu uma fase de sucesso com aquela desejada camisola vestida. Só venceu por uma vez, precisamente na Vuelta.

O percurso de Yorkshire tem vários ingredientes que agradam a Gilbert. Qualquer ciclista de clássicas, seja do pavé, seja das Ardenas - e o belga dá-se bem nos dois terrenos - gosta do que o espera a 29 de Setembro. Gilbert admitiu que estava a preparar um pico de forma para o Tour, depois de ter ganho o Paris-Roubaix. A sua exclusão da grande volta francesa, mudou-lhe os planos. "Tive de começar de novo, passar de novo pelo processo [de ganhar forma] e de fazer todas aqueles sacrifícios necessários para estar em forma. Foi complicado. Mas encontrei a motivação pensando na oportunidade de ser campeão do mundo este ano", admitiu.

Podia deixar passar as semanas e começar a pensar no regresso à equipa na qual viveu a maioria dos seus principais momentos da carreira: Lotto-Soudal. Assinou por três anos, mas não quis despedir-se de uma Deceuninck-QuickStep de costas voltadas para os responsáveis e para os companheiros. Afinal foi esta equipa que lhe permitiu regressar ao topo.

Foi a Espanha a querer ganhar e esta quinta-feira, com a preciosa ajuda de Tim Declerq. O companheiro ajudou-o a estar confortável na fuga e a não perder contacto quando houve ataques. Gilbert fez o resto na última e complicada subida do dia (2,2 quilómetros a 12,2% de pendente média) deixando toda a concorrência para trás. Depois foi dar tudo nos últimos quilómetros até à meta para não ser apanhado por dois espanhóis ávidos em vencer: Alex Aranburu (terceiro segundo lugar para a Caja Rural e segundo para este corredor) e Fernando Barceló (Euskadi-Murias).

Já vai falando em tom de despedida da formação belga, mas mesmo triste por não ter ido ao Tour, ficam os elogios de Gilbert: "Penso que fomos inovadores durante três ou quatro anos. Penso que desde 2017, quando eu cheguei, esta equipa mudou a forma de correr, competindo com muitos líderes que se sacrificavam uns pelos outros", salientou. Considera que as equipas vêem agora como esta táctica funciona e os números fabulosos de vitórias, muitas delas nas principais corridas em clássicas ou por etapas, são a prova disso mesmo.

Agora Gilbert quer continuar a pensar nos Mundiais e depois do que se viu na etapa que terminou no País Basco, há que ter o belga muito em conta para Yorkshire.

13ª etapa: Bilbau - Los Machucos. Monumento Vaca Pasiega (166,4 quilómetros)


Depois dos 171,4 quilómetros entre o Circuito de Navarra e Bilbau, a 45,5 de média (não houve tanto descanso para o pelotão como na quarta-feira) chega mais uma etapa que pode ser muito importante. Será o primeiro grande teste à liderança de Primoz Roglic (Jumbo-Visma). Serão sete contagens de montanha em 166,4 quilómetros, com pouco tempo para recuperar entre elas.

A questão será se Astana e Movistar vão tentar isolar Primoz Roglic antes da subida de categoria especial de Los Machucos (gráfico à direita), ou se todos se guardarão para 6,8 quilómetros finais. Estes começam logo com quase 18% de pendente e depois de uma pequena fase de descanso, os ciclistas enfrentarão 19%, 25% e tirando as fases que dará para respirar um pouco, o mais fácil será a 10%. Perto do final haverá novamente uma parte a 25%.

Subida dura, onde quem quer estar na luta pela Volta a Espanha está proibido de falhar.

Classificações completas, via ProCyclingStats.




»»A vitória que poderá dar um empurrão à continuidade da equipa««

»»Tem a palavra Primoz Roglic««

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