Adepto provocou queda de López que reagiu (Imagem: print screen) |
Já neste Giro se tinha visto um adepto dar um trambolhão ao tentar correr ao lado dos ciclistas. Felizmente estava já um pouco para trás do grupo e acabou por ser apenas um momento que ficará bem no programa Watts do Eurosport. O momento de López será um que exemplificará toda a frustração de quem vê uma etapa estragada por quem não sabe ser adepto. Ganhar a tirada seria complicado numa fase em que o colombiano da Astana tinha perdido contacto com o grupo de Richard Carapaz. Mas ainda estava em jogo melhorar a classificação na geral.
Faltavam cerca de cinco quilómetros para o final da última montanha da Volta a Itália. Ambiente espectacular, uma multidão a apoiar os ciclistas. Numa zona que parecia ser um pouco mais tranquila, um adepto provoca a queda de López quando estava a correr ao lado dos ciclistas e ficou sem espaço porque havia mais espectadores na berma, parados, "apenas" a aplaudir. Como deve ser. López reagiu com fúria. Agrediu com umas chapadas o homem. Meses a preparar uma corrida como esta, para num instante tudo ficar estragado. López não ia ganhar o Giro, mas ainda tinha objectivos. O colombiano perdeu 1:49 para o vencedor, o companheiro Pello Bilbao. Menos quatro segundos para Carapaz, o líder do Giro.
🇨🇴@SupermanlopezN crashed in stage 20 of 🇮🇹@giroditalia because of a spectator who is more busy with himself then with the race #unbelievable #giro #giro102 (📺@Eurosport_UK) pic.twitter.com/3ptiTSLzLI— World Cycling Stats (@wcsbike) 1 June 2019
A reacção de López até se pode dizer que é compreensível, contudo, não deixa de ser errada, pelo que rapidamente surgiram os rumores de uma possível expulsão da Volta a Itália. O regulamento da UCI assim o prevê, com o acréscimo de uma multa de 200 francos suíços, cerca de 178 euros. Porém, segundo o Cycling Weekly, os comissários terão considerado que López teve uma reacção humana e o ciclista da Astana vai poder terminar o Giro. Se assim for, ainda bem.
O ciclista da Astana já pediu desculpa, mas não escondeu o descontentamento pelo sucedido, pedindo respeito e realçando o grave que uma situação destas pode ser se se fractura algo e se é obrigado a ir para casa. Foi o que aconteceu com Nibali no Tour, numa queda provocada por um adepto que lhe estragou a restante temporada.
López bem pode dizer que lhe aconteceu de tudo numa Volta a Itália que queria tanto conquistar. Furos, avarias mecânicas, quebras físicas, um adepto a atirá-lo ao chão... Também teve bons momentos, mas sairá do Giro sem uma vitória de etapa, sem a camisola rosa e sem pódio. Isto no que diz respeito à geral, pois subirá ao pódio para levar novamente a camisola branca da juventude, a não ser que faça um péssimo contra-relógio, pois, mesmo com a queda, ficou com 1:53 minutos para gerir sobre Pavel Sivakov (Ineos).
Já Primoz Roglic não recebeu benevolência alguma dos comissários. Não é preciso provocar quedas para estragar corridas. Empurrar ciclistas mais uma vez só porque sim, também faz estragos. Não é inédito corredores receberem ajudas do público, principalmente quando estão longe da frente da corrida e a tentar sobreviver às etapas de montanha. Muitos deles são sprinters. Não é legal, mas tem sido algo que se fecha os olhos.
🇸🇮@rogla of 🇳🇱@JumboVismaRoad has been given a 10 second time penalty after receiving a long pushes by spectators in stage 20 of 🇮🇹@giroditalia #giro #giro102 (📺@Eurosport_IT) pic.twitter.com/ufOReZ9YVw— World Cycling Stats (@wcsbike) 1 June 2019
Porém, quando em directo se empurra um dos candidatos à geral, tem tudo para correr mal para o ciclista visado. Durante vários segundos Roglic foi empurrado por um adepto, que foi "rendido" por outro. O esloveno da Jumbo-Visma não fez qualquer gesto para afastar os dois homens e isso foi fatal. Dez segundos de penalização até acaba por ser simpático, mas ao juntar ao tempo perdido na estrada, significa que está a 3:16 de Richard Carapaz e a vitória no Giro está longe de depender só da sua classe como contra-relogista. Além disso, saiu do pódio, apesar dos 23 segundos para Mikel Landa certamente não assustarem Roglic.
Atenção aos empurrões aos ciclistas, podem prejudicar como aconteceu a Roglic e podem, em casos mais graves, provocar quedas, pois muitas vezes não estão à espera e a mudança de velocidade pode desequilibrar o atleta.
Há ainda mais um exemplo de mau comportamento. Recuando uma semana, Marco Haller tinha andado em fuga, estava esgotado e quando tentava passar pela confusão que é sempre a zona da chegada, com adeptos, staff da organização, das equipas, jornalistas, o ciclista da Katusha-Alpecin tinha o bidão seguro pelos dentes quando um homem lhe tenta tirá-lo. Pequena dica: normalmente basta pedir! Se o ciclista não precisar da bebida, costuma aceder ao pedido. Haller reagiu também com fúria, sendo muito pouco simpático e com razão.
O ciclismo sem adeptos na estrada é uma modalidade triste - será difícil esquecer aquele ambiente desolador do Mundial do Qatar, por exemplo -, mas com adeptos a estragar corridas, o ciclismo vive muito bem sem eles. Respeito, por favor!
Giro à vista
(Fotografia: Giro d'Italia) |
Dezassete quilómetros para que em Verona possa tornar-se no primeiro equatoriano a ganhar uma grande volta e a dar uma saudável dor de cabeça à equipa. Todos os líderes estão em final de contrato, tal como Carapaz. Em quem Eusebio Unzué irá apostar? É certo que Alejandro Valverde terá sempre lugar na equipa até se retirar, mas também já não é ciclista para discutir grandes voltas, salvo uma surpresa. A pressão aumenta para Nairo Quintana na Volta a França... E também mantém-se a incógnita com Landa.
Carapaz tem 1:54 para segurar a maglia rosa sobre Vincenzo Nibali. O italiano da Bahrain-Merida é melhor do que o equatoriano nesta vertente, mas em condições normais será muito complicado haver uma última reviravolta. Mikel Landa também dificilmente cumprirá o objectivo de pelo menos chegar ao pódio, mas depois de uma má primeira semana, o espanhol foi dos mais activos e quando foi preciso, soube ser um verdadeiro companheiro de equipa. Desta vez, colocou mesmo de lado os seus interesses em prol de Carapaz.
Ganhou a Movistar que está toda de parabéns! Funcionou como um colectivo coeso, sem divisões e eis a diferença para o que tem acontecido nos últimos dois anos: está perto de conquistar novamente uma grande volta.
Roglic seria uma preocupação, mas os 3:16 são de mais. Mas claro, o imprevisto acontece. O esloveno só tem de ir a fundo para fechar pelo menos no pódio e esperar que Carapaz tenha um mau dia. Depois do que já se viu neste Giro, é de pensar que tudo pode acontecer.
Como curiosidade, por três vezes o Giro assistiu a uma mudança de líder no contra-relógio da derradeira etapa: 1984, de Laurent Fignon para Francesco Moser; 2012, de Joaquim Rodriguez para Ryder Hesjedal e em 2017, de Nairo Quintana para Tom Dumoulin.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
Como curiosidade, por três vezes o Giro assistiu a uma mudança de líder no contra-relógio da derradeira etapa: 1984, de Laurent Fignon para Francesco Moser; 2012, de Joaquim Rodriguez para Ryder Hesjedal e em 2017, de Nairo Quintana para Tom Dumoulin.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
21ª e última etapa: Verona - Verona (contra-relógio), 17 quilómetros
E assim chegamos ao fim de três semanas de competição. As forças já não são muitas, mas há um contra-relógio individual para completar, com uma subida de 4,5 quilómetros, com uma pendente média de 5% pelo meio. Será um contra-relógio com fases algo técnicas devido às estradas estreitas, curvas que exigem atenção e cuidado para não se perder muito tempo nelas.
»»Chaves volta a sorrir um ano depois««
»»Ao ataque««
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