22 de junho de 2019

Que venha a nova geração

Egan Bernal em boa forma na Volta à Suíça (Fotografia: © Team Ineos)
Se há uma coisa que já se pode dizer de 2019 é que a nova geração está aí e pronta para agarrar o lugar de destaque. Estamos em plena renovação do pelotão. Esta semana Egan Bernal (22 anos) está a proporcionar mais um daqueles espectáculos de ciclismo que tanto se adora e que já se percebeu que o colombiano adora dar. Bernal, que este domingo poderá conquistar a Volta à Suíça, é simplesmente um prodígio rumo a uma grande carreira. A confirmação do seu talento está mais do que feita, agora é esperar por uma vitória numa grande volta e que parece estar tão perto... Bernal (Ineos) poderá ter uma tendência a "roubar" manchetes, mas cada vez mais se cria expectativa para o ver frente-a-frente com os próximos grandes voltistas.

Por agora apenas se pode imaginar o que será um Bernal a disputar uma corrida com outro ciclista com um potencial, e esta é a expressão que mais vem à cabeça, brutal! Tadej Pogacar venceu a Volta ao Algarve e foi depois tornar-se no ciclista mais novo a ganhar uma corrida World Tour por etapas. 20 anos e a fazer a UAE Team Emirates sonhar bem alto. O esloveno é diferente de Bernal, mais calculista. Mas quando aumenta a velocidade., deixa todos a "sufocar". Que grande rivalidade poderá ser esta se se mantiverem em equipas diferentes!

Remco Evenepoel tem apenas 19 anos e a par de Bernal tem sido o ciclista jovem sobre quem mais se fala. Muito devido ao facto de em júnior praticamente não ter sabido o que era perder corridas, principalmente no seu último ano, e de já estar numa das melhores equipas World Tour. A Deceuninck-QuickStep é uma estrutura de clássicas por excelência, mas Patrick Lefevere até está disposto a mudar um pouco só para manter Enric Mas no plantel. Portanto, não vai ter problemas em optar por construir um bloco forte em redor de Evenepoel em breve. Alguma ansiedade e erros normais de um jovem ciclista estavam a adiar a primeira vitória do belga. Mas nada como correr em casa para conquistar a sua primeira corrida por etapas. Muitos bons ciclistas não conseguiram fazer no profissionalismo o que prometiam nos escalões jovens. Evenepoel não vai ser um deles.

Bernal, Pogacar, Evenepoel... todos em boa forma e não há que resistir na grande volta em que se enfrentarem e noutras corridas, claro!

E juntemos Sergio Higuita. Talvez ainda um pouco desconhecido, mas foi segundo na Volta à Califórnia, na estreia pela EF Education First. Esteve uns meses a rodar na Fundação Euskadi antes de ingressar na equipa americana. O colombiano de 21 anos bem avisou que queria deixar um impacto imediato, depois de ter ganho uma etapa na Volta a Alentejo, ainda na formação espanhola. Já se está de olho nele. Segue um pouco a "escola" Bernal, no fundo a "escola" colombiana, na forma de correr. Há que esperar mais um pouco, mas que Higuita promete, lá isso promete. Na mesma equipa, mais um colombiano, Daniel Martínez. Está lesionado e vai falhar o Tour, mas tendo apenas 23 anos, a EF Education First tem dois potenciais excelentes líderes para as três semanas.

Outros nomes. Sam Oomen não convenceu esta época, mas um problema na artéria ilíaca (na perna) prejudicou as suas performances. Não vai correr mais esta temporada para recuperar e regressar em 2020 para tentar comprovar o que mais se espera dele. É o sucessor de Tom Dumoulin, mas com melhores características de trepador, menos de contra-relogista. Deseja-se que de facto possa recuperar a sua melhor forma, pois é mais um ciclista de potencial e com apenas 23 anos. Fez top dez no Giro de 2018.

Iván Ramiro Sosa ganhou este sábado a etapa na Volta à Occitânia. Mais um colombiano de talento, mas que poderá perder protagonismo por estar na Ineos. A equipa britânica não se pode dar ao luxo de apostar tudo em Bernal no futuro próximo, mas Sosa arrisca ficar muito na sombra do compatriota ou então ter de esperar pelas decisões de Bernal, para depois ter ele as suas oportunidades.

Na sombra de Bernal e de Pavel Sivakov. Não se pode esquecer este russo. É completamente diferente dos restantes ciclistas aqui falados. Vai muito a ritmo, não é nada dado a "safanões", mas quando mete uma velocidade alta, é complicado apanhá-lo. O top dez no Giro e a vitória na Volta aos Alpes foram as primeiras indicações do que este corredor de 21 anos pode fazer.

Tao Geoghegan Hart (Ineos, 24 anos), Eddie Dunbar (Ineos, 22), Jhonatan Narváez (Ineos, 22) - a equipa britânica tem vários valores em processo de amadurecimento e seria interessante que não ficassem presos ao papel de gregários - David Gaudu (Groupama-FDJ, 22), Mark Padum (Bahrain-Merida, 22) e Max Schachmann (Bora-Hansgrohe, 25) são outros ciclistas a ter em conta, ainda que este último ainda se tenha de perceber se vai mesmo optar por lutar pelas gerais nas grandes voltas.

E para fechar, dois ciclistas. Primeiro um que pode ser um sucessor de Vincenzo Nibali que Fabio Aru não foi, pelo menos até agora. Talvez até mais, porque não pensar de forma ambiciosa! 
Giulio Ciccone, 24 anos, mostrou potencial na Bardiani-CSF e no Giro, com a Trek-Segafredo, demonstrou que não pode ser gregário de ninguém. Excelente ciclista, sem medo de arriscar, talvez a precisar de evoluir um pouco tacticamente, pois é dado ao risco. O que é bom para o espectáculo, é certo!

O outro é Enric Mas. O espanhol também se pode dizer que será um sucessor, neste caso de Alberto Contador e Espanha bem espera que Mas (24 anos) confirme o que demonstrou na Vuelta em 2018 - uma vitória de etapa e segundo na geral -, tal é o receio no país que não se consiga igualar os feitos de Contador, Joaquim Rodríguez e Alejandro Valverde.

A nova geração também se estende às clássicas e sprints, mas com a Volta a França a aproximar-se, é de voltistas que nesta fase mais se fala e o Tour pode esperar por uma geração de enorme qualidade que vai "cruzar" com valor já confirmados, como é o caso dos gémeos Yates, Adam e Simon (Mitchelton-Scott), Miguel Ángel López (Astana) e claro, Richard Carapaz, o equatoriano que está prestes a tirar o espaço a Nairo Quintana na Movistar.

Romain Bardet (AG2R), Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), Primoz Roglic (Jumbo-Visma) e mesmo Quintana caminham para se tornarem nos veteranos do pelotão quando esta jovem geração se afirmar definitivamente. Nibali, Chris Froome, Geraint Thomas e Richie Porte - ainda que o australiano não tenha conseguido sequer um pódio - vão-se preparando para passar o testemunho, mas até lá, ainda podem mostrar aos mais novos a vantagem da experiência.

Ou não, pois, voltando ao primeiro parágrafo, Bernal está a subir na cotação entre os fortes candidatos no Tour. Falhou o Giro devido a uma queda poucos dias antes num treino (partiu a clavícula), mas na Suíça está a revelar boa forma e sem Froome, só não fica estendida a passadeira vermelha para a liderança da Ineos, porque Thomas é o vencedor de 2018 e merece esse estatuto, ainda que não esteja a convencer e já abandonou a Volta à Suíça após queda. Mas Bernal pode roubar os holofotes. Pode ganhar o Tour? Dificilmente haverá alguém a não vê-lo como fortíssimo candidato. É mesmo caso para dizer, que venha a nova geração! Grandes batalhas em perspectiva!


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