3 de junho de 2019

As equipas do Giro uma a uma

(Fotografia: Giro d'Italia)
Rapidamente se vai começar a falar da Volta a França, mas aqui fica um pouco mais de Giro. As equipas uma a uma. A ordem é a da classificação colectiva.

Movistar: Estava difícil elogiar a Movistar. Desde que Nairo Quitana ganhou a Vuelta em 2016 que tem cometido erros atrás de erros nas grandes voltad em tácticas, em escolhas, em apostas... Mas quando corre bem, corre muito bem. Não foi com Mikel Landa, foi com Richard Carapaz. O equatoriano impôs-se e até conseguiu que o espanhol fosse um valioso braço direito. Mas toda a equipa está de parabéns. Funcionou como tal, teve um líder que uniu todos em seu redor e fez a diferença individualmente nos momentos certos. Ganhou o Giro com Carapaz e colectivamente, como aliás é habitual, só que desta vez foi mesmo a melhor equipa.

Astana: Mantém-se a opinião que era o conjunto mais forte, mas parece que houve um desânimo que foi acompanhando os azares que se sucederam a Miguel Ángel López. Não deixou de ser um Giro positivo, mas a equipa não foi tão coesa como se esperava. Ainda assim, três vitórias de etapa (duas por Pello Bilbao e uma por Dario Cataldo), uma classificação da juventude e o top dez com López, fazem da Volta a Itália boa para a Astana, mesmo que tenha falhado o objectivo de lutar para vencê-la.


Bahrain-Merida: Desilusão para Vincenzo Nibali por não ter discutido mais intensamente o Giro. Apresentou-se bem, mas se mostrou ser capaz de defrontar Primoz Roglic, Carapaz foi demasiado forte para o italiano. O segundo lugar é merecido e comprova que Nibali continua bem vivo e a poder ainda conquistar mais umas boas vitórias. À Bahrain-Merida faltou, no entanto, uma vitória de etapa. Ainda assim, a equipa realizou um bom Giro, tendo em conta que teve de mandar para casa Kristijan Koren, por estar envolvido no caso de doping Aderlass. Porém, destaque-se o positivo: Damiano Caruso foi um super gregário e o segundo lugar de Nibali muito se deve a este italiano.

EF Education First: Não ganhou etapas, não colocou nenhum ciclista no top dez - ficaram à porta - e ainda assim foi um Giro positivo a pensar no futuro próximo. A equipa americana finalmente ganhou estabilidade, principalmente financeira, o que lhe permite poder ter tempo para trabalhar alguns ciclistas. Hugh Carthy é um deles. Foi líder da juventude por um dia, mas apagou-se logo a seguir. Contudo, não desapareceu. Está ali potencial para muito mais. Joe Dombrowski voltou a dar o ar da sua graça. Será desta que "pega"? A EF Education First foi muito activa, desinibida e soube animar as etapas. Agora há que dar mais um passo, pois não pode continuar à espera apenas de Rigoberto Uran.

Mitchelton-Scott: Que bonito foi ver Johan Esteban Chaves ganhar uma etapa depois de um ano de martírio. Mas não, não salvou o descalabro de Giro da equipa australiana. Simon Yates engoliu as palavras que disse no início. Afinal não havia razões para o temer (disse com uma linguagem mais colorida). Há um ano "apagou-se" quase com Roma à vista, desta feita começou a desaparecer logo na média montanha. Yates esteve mal, mas a equipa também. Foi tão forte e coesa no Giro de 2018 e desta feita partiu-se, talvez desfeita por um líder que não teve nada a ver com o Yates que quase ganhou a Volta a Itália há um ano e conquistou depois a Vuelta.

Ineos: Para quem tinha perdido Egan Bernal devido a uma queda poucos dias antes do início do Giro, a Ineos não esteve assim tão mal. Na primeira grande volta com o novo nome, o destaque vai, claro, para Pavel Sivakov. Sem pressão, foi nono e foi líder da juventude, mas López apoderou-se da camisola branca. O russo foi muito regular. Não entrou em loucuras e tentou conhecer-se melhor numa grande volta em que foi líder. Foi uma pena Tao Geoghegan Hart abandonar por uma clavícula partida. Já tinha perdido tempo, mas talvez fosse o ciclista ideal para perseguir uma etapa. Iván Ramiro Sosa desiludiu, enquanto Eddie Dunbar aproveitou muito bem a chamada de última hora. A Ineos tem garantidamente mais um jovem talento.


(Fotografia: Giro d'Italia)
Trek-Segafredo: Viu-se uma das melhores versão de Bauke Mollema, mas o holandês não conseguiu manter-se entre os principais candidatos quando os grandes ataques se deram. O quinto lugar é bom para o holandês, mas o seu estatuto de líder está cada vez mais em risco. Giulio Ciccone foi irresistível. Vestiu a camisola azul de rei da montanha no primeiro dia e só um dia a cedeu ao companheiro Gianluca Brambilla. Ganhou uma etapa, andou constantemente em fugas. Deu muito espectáculo e é uma contratação com futuro promissor para a equipa. Não vai demorar muito a assumir outras responsabilidades e merece.

Bora-Hansgrohe: Pascal Ackermann não perdeu tempo em acabar com as conversas que a equipa tinha feito mal em deixar de fora Sam Bennett, uma das figuras do Giro de 2018 e um dos ciclistas que mais ganhou esta temporada. Estreia perfeita do alemão em grandes voltas. Duas etapas, ficou perto de aumentar a contagem e garantiu a classificação dos pontos. O eterno gregário, Cesare Benedetti, também venceu uma tirada e Rafal Majka foi sexto na geral. Não é mau para o polaco, mas mais uma vez percebeu-se que dificilmente este ciclista poderá disputar uma vitória numa grande volta. É homem de top dez e pouco mais, a não ser que mude um pouco a sua atitude, principalmente em assumir mais as corridas.

Androni Giocattoli-Sidermec: Quando se vê esta equipa competir pensa-se como é possível que não há muito tempo correu risco de fechar porque não recebia convites para o Giro. Excelentes ciclistas - há muito mais talento por ali além de Egan Bernal e Iván Ramiro Sosa -, uma atitude atacante que só valoriza as etapas, mesmo as mais aborrecidas e uma muito merecida vitória com Fausto Masnada. Andrea Vendrame viu um problema numa corrida tirar-lhe provavelmente outro triunfo e Mattia Cattaneo foi uma das figuras.

Jumbo-Visma: Perante a ambição que tinha e pelo que Primoz Roglic demonstrou na fase inicial do Giro, a Jumbo-Visma sai de Itália como a maior derrotada. Foi um erro o esloveno estar tão forte a abrir, claudicando por completo quando o Giro começou verdadeiramente para a geral, a partir da 12ª etapa. Colectivamente foi o descalabro. As camisolas amarelas desapareciam pouco depois das dificuldades começarem, ou mal o ritmo aumentava nas subidas. Que falta fez Robert Gesink (lesionou-se na Liège-Bastogne-Liège). E ainda mais fez Laurens De Plus, o braço-direito de Roglic durante toda a temporada, mas que na sétima etapa não resistiu e foi para casa devido a doença. As duas vitórias de etapa de Roglic e o terceiro lugar na geral são, naturalmente, excelentes resultados, mas para quem queria ganhar, ficará um ligeiro sabor amargo.

AG2R: Nans Peters venceu uma etapa, foi líder da juventude, a equipa apareceu noutras fugas, mas tendo em conta o potencial desta formação francesa, foi pouco. Tony Gallopin queria mostrar que estava mesmo preparado para ser agora um voltista. Mas não... Alexis Vuillermoz também esteve aquém, tendo sido mais notícia pelo ataque de asma no Mortirolo do que por boas razões. Mas ficou o exemplo de força. Acabou aquela difícil etapa e foi até ao fim no Giro. Ainda assim, corrida fraca para a AG2R.


(Fotografia: Giro d'Italia)
UAE Team Emirates: Para quem não tinha Fabio Aru, esperava-se que Fernando Gaviria fosse a figura. Mas nem por isso. Ganhou uma etapa e por desclassificação de Viviani. O próprio admitiu que não se sentiu um vencedor. Abandonou cedo por lesão. Porém, a equipa teve um grande Giro. Andou oito dias de camisola rosa, seis com Valerio Conti e dois com Jan Polanc. Esperava-se um pouco mais do esloveno, pelo menos que estivesse mais na luta pelo top dez, mas claramente foi para tentar ganhar etapas e não para a geral, ainda que tenha tido um enorme brinde cor-de-rosa. Bom Giro da equipa, tendo em conta que não tinha um líder para lutar pela geral.

Sunweb: Ao perder Tom Dumoulin após queda na quarta etapa, a Sunweb ficou perdida. Sam Oomen ainda conseguiu recolocar-se rapidamente numa posição de ambicionar talvez a um top dez, ou lutar pela juventude. Porém, o holandês apagou-se e foi assim com toda a equipa, até que Chad Haga salvou a honra ao ganhar o contra-relógio final, mas claro que foi muito pouco para uma equipa que estava no Giro para o discutir. De realçar que a vitória é muito especial para Haga. Em 2016 foi um dos ciclistas da então Giant-Alpecin que foi atropelado no estágio em Espanha e dos que ficou em pior estado. Três anos depois, conquistou a segunda vitória na carreira e logo no Giro. Percebeu-se bem porque não conteve as lágrimas. 

Deceuninck-QuickStep: Desilusão total. Elia Viviani queria fazer algo especial, dizia ele, mas acabou por ganhar uma etapa em que foi desclassificado por sprint irregular. Depois passou o tempo a ver os rivais serem mais fortes. Bob Jungels, que já venceu a classificação da juventude no Giro, enterrou-se na geral quando as maiores dificuldades chegaram. O jovem estreante James Knox foi perseguido por azares e abandonou cedo. Eros Capecchi e Pieter Serry ainda tentar salvar o Giro da equipa belga, mas depois de ser um hábito somar vitórias em grandes voltas, esta será para esquecer.


(Fotografia: Facebook CCC Team)
CCC: Víctor de la Parte esteve um pouco aquém, mas o top 25 não é um mau resultado. Porém, é inevitável destacar Amaro Antunes. Fez a sua estreia em grandes voltas, viu-se num surpreendente top 10 quando houve uma reviravolta na classificação, mas quando os principais candidatos começaram a tomar conta das operações, o algarvio regressou ao plano original de se meter em fugas. Excelente o terceiro lugar na 19ª etapa, com o primeiro à vista. Boa Volta a Itália e está na altura de apresentar a renovação de contrato a Amaro Antunes.

Dimension Data: A equipa sul-africana foi uma quase completa nulidade nesta Volta a Itália. Amanuel Gebreigzabhier apareceu na última etapa de montanha e fez uma exibição interessante, mas foi muito, muito pouco. Está a ser um mau ano para a Dimension Data. Esperava-se muito mais de Ben O'Connor. O australiano foi uma revelação na Volta ao Alpes em 2018, estava muito bem no Giro, mas caiu, abandonou e, um ano depois, nunca mais se viu o melhor de O'Connor. Que pena!

Katusha-Alpecin: Ilnur Zakarin tem sido assim. Tanto se pensa que o russo vai mostrar todo o potencial que tanto parece ter, como lá cai na "obscuridade". Excelente exibição na 13ª etapa, que venceu com um grande espectáculo. Um possível pódio estava na mira após esse resultado, mas um dia depois Zakarin já estava a dar trambolhões na geral. Conseguiu recuperar o suficiente para entrar no top dez. Foi 10º, a 12:14 de Carapaz. Se ainda havia dúvidas ficaram esclarecidas. A Katusha-Alpecin precisa urgentemente de um líder forte para as três semanas. E não só...

Lotto Soudal: Caleb Ewan fez o que lhe competia e venceu duas etapas. Ainda não fez esquecer André Greipel, mas o australiano esteve bem nos sprints. Thomas de Gendt foi mais um homem de equipa e não se viu tanto em fugas e muito menos na luta pela camisola da montanha, como gosta e claro que se sente a falta do belga a dar espectáculo. Victor Campenaerts falhou o objectivo de ganhar pelo menos um dos três contra-relógios. Foi segundo em dois. Um pouco frustrante para o belga, o mais recente recordista da hora.

Bardiani-CSF: Desde que há dois anos a equipa perdeu dois ciclistas importantes por doping no dia antes do Giro, que têm vivido tempos difíceis. Em 2018 Giulio Ciccone ainda foi uma das figuras, mas nesta edição, os corredores da equipa italiana do segundo escalão apareceram em algumas fugas, mas esta não é a Bardiani-CSF de tempos recentes. O destaque foi para Giovanni Carboni que andou três dias como líder da juventude.

Groupama-FDJ: Arnaud Démare venceu uma etapa, mas para quem era o líder da equipa, já que o Tour será dedicado a Thibaut Pinot, soube a pouco. O objectivo passava também por vencer a maglia ciclamino, que chegou a vestir, mas esteve muito mal na defesa desta na última etapa para os sprinters e perdeu-a para Pascal Ackermann. Démare continua a ser o ciclista capaz de grandes vitórias, mas também desilude rapidamente. A pensar no futuro, Valentin Madouas, francês de 22 anos, deixou boas indicações.

Israel Cycling Academy: Andou em fugas, Davide Cimolai tentou intrometer-se nos sprints, mas não teve pedalada para os principais nomes da actualidade. Esperava mais de Rubén Plaza e Krists Neilands, mas mostraram-se pouco. Giro discreto para a equipa do segundo escalão. Quer subir a World Tour e tem andando muito activa noutras corridas de menor dimensão, mas ainda há muito a fazer para se destacar entre as melhores.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Nippo Vini Fantini Faizanè: Teve um mau início quando o jovem japonês Hiroki Nishimura foi excluído logo na primeira etapa por ter completado o contra-relógio fora do tempo limite. A equipa esforçou-se para limpar essa má imagem e foi sempre activa nas fugas. Porém, ao vencer uma etapa, a equipa Profissional Continental sai do Giro com nota positiva, pois não se poderia pedir mais. Ainda mais porque foi um triunfo marcante, pois Damiano Cima foi o único do trio da fuga que aguentou sobre a meta o "ataque" dos sprinters, deixando Ackermann a dar murros no guiador. O outro japonês da equipa, Sho Hatsuyama (na foto), foi o lanterna vermelha, mas o que importa é que terminou.

Pode confirmar neste link as classificações completas da 102ª edição da Volta a Itália, via ProCyclingStats.

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