30 de junho de 2019

Já podes sorrir Zé Mendes!

(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Algo cabisbaixo, de poucos sorrisos, longe dos holofotes, José Mendes foi um importante reforço para o Sporting-Tavira tendo em conta a sua experiência internacional, mas faltava algo ao ciclista, que não deixava transparecer a alegria de outrora. A saída da Bora-Hansgrohe não foi fácil de aceitar. A passagem pela Burgos-BH foi discreta e sem história. A época na equipa portuguesa estava a ser abaixo do esperado. Mas às vezes basta um momento para dar uma volta de 180 graus. José Mendes espera que esse o momento seja quando ultrapassou Ricardo Mestre e sagrou-se campeão nacional.

O grito que lançou ao cortar a meta era mais do que de alegria. Era de desabafo. De alívio. Finalmente o melhor José Mendes conseguiu voltar a mostrar-se. "Tem sido um ano em que as coisas, por muito que tentasse, não têm corrido bem, não sei... Tentei procurar explicações, mas simplesmente as coisas não correm como se quer. Com o aproximar dos Campeonatos Nacionais, os problemas que ia tendo foram desaparecendo", explicou. "A melhor recompensa", como descreveu, chegou em Melgaço, três anos depois da primeira conquista, em Braga. Um minhoto a ganhar em casa!

Quando vestiu a camisola de campeão nacional pela primeira vez, com no ano seguinte a Bora-Hansgrohe a subir a World Tour, José Mendes era um homem de muitos sorrisos sempre que se falava daquela conquista e de onde tinha chegado na sua carreira. "Todos os dias que a visto tenho um sentimento muito especial", disse então numa entrevista ao Volta ao Ciclismo. Era um ciclista orgulhoso pela vitória que nunca hesitou em considerar a melhor da carreira. Agora passa a ter uma para rivalizar.


(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Numa disputa com o seu lado clubístico, não tivesse acabado por ser um frente-a-frente entre Sporting-Tavira e W52-FC Porto, Ricardo Mestre parecia estar bem encaminhado para chegar ao título. José Mendes não deixou e António Carvalho, que realizou uma forte recuperação, não teve metros suficientes para alcançar um dos objectivos que tanto sonha na carreira. Família, amigos, sorrisos e lágrimas do lado de José Mendes e Sporting-Tavira. Desolação do lado azul e branco depois de muito trabalhar por parte da equipa mais representada nos Nacionais: dez ciclistas. Mestre e Carvalho ficaram a dois segundos de Mendes. As camisolas verde e brancas foram seis, mas duas rapidamente começaram a ver-se mais na parte de trás da corrida.

O triunfo seguiu-se a uma corrida bem animada, atacada e incerta até final. José Gonçalves (campeão de contra-relógio e ciclista da Katusha-Alpecin) e Nelson Oliveira (Movistar) eram as grande referências internacionais, com Domingos Gonçalves (Caja Rural) à procura do segundo título consecutivo e José Neves (Burgos-BH) a tentar mostrar uma boa forma que pouco se tem visto em 2019 e ainda não foi desta. Joni Brandão, Henrique Casimiro e Bruno Silva da Efapel, João Benta e Daniel Silva da Rádio Popular Boavista, houve muita qualidade num pelotão ainda assim curto.

"Temos apenas 50 e poucos corredores a participar no campeonato nacional, mas não deixam de ser de grande nível e foi uma corrida bem disputada.  Foi dura e a grande velocidade", disse um José Mendes que tinha ao seu redor muitas pessoas a quererem celebrar a conquista, a começar pelos dois filhos. A emoção acabou por tomar conta do momento. Mais palavras ficarão para depois quando, como o próprio afirmou, digerir a vitória.


(Fotografia: © João Fonseca Photographer)
Foram 197 quilómetros que deixaram marca na carreira de um ciclista que chegou a ser uma peça importante na então NetApp-Endura, depois Bora-Argon18 e por fim, já no World Tour, Bora-Hansgrohe. A época menos boa de 2017 não teve perdão - ainda que tenha concretizado o objectivo de estar no Giro e feito o pleno nas grandes voltas -, pois com a equipa em fase de mudança para se tornar cada vez mais uma de topo mundial, fecharam-se as portas para o corredor português. Porém, aos 34 anos, José Mendes ganhou em Melgaço um novo ânimo para tirar o melhor partido deste seu regresso a Portugal, onde no passado representou a LA Alumínios, Liberty Seguros e também o Benfica, antes de partir para o estrangeiro, com uma passagem pela CCC.

E ânimo também se precisa no Sporting-Tavira. É que a Volta a Portugal está aí. Falta apenas um mês para o arranque. Tiago Machado apresenta-se como líder, mas José Mendes acaba por mostrar que ser apenas gregário poderá ser pouco para quem conquistou o segundo título nacional.

Para o Sporting-Tavira esta é uma vitória de extrema importância. Acaba mesmo por ser uma das mais relevantes desde o regresso do clube leonino ao ciclismo. Tinha um triunfo numa etapa na Volta a Portugal, há três anos. Soma outras vitórias, mas ganhar o título nacional de elite dá alento a uma equipa que em 2019 tinha visto apenas César Martingil levantar os braços na Clássica da Primavera, em Março. E esta é a última temporada em do contrato inicialmente acordado entre o Clube de Ciclismo de Tavira e o Sporting Clube de Portugal.

Quanto ao ciclista de Guimarães, depois da exibição em Melgaço, é mesmo caso para dizer: já podes sorrir Zé Mendes!

Classificação completa da prova de elite, via ProCyclingStats.

Aqui fica uma ronda por outros Campeonatos Nacionais:

➤ Espanha: Alejandro Valverde (Movistar)
➤ França: Warren Barguil (Arkéa-Samsic)
➤ Itália: Davide Formolo (Bora-Hangrohe)
➤ Grã-Bretanha: Ben Swift (Ineos)
➤ Alemanha: Max Schachmann (Bora-Hansgrohe)
➤ Bélgica: Tim Merlier (Corendon-Circus)
➤ Holanda: Fabio Jakobsen (Deceuninck-QuickStep)
➤ Eslováquia: Juraj Sagan (Bora-Hansgrohe)
➤ Irlanda: Sam Bennett (Bora-Hansgrohe)
➤ Áustria: Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe)
➤ Luxemburgo: Bob Jungels (Deceuninck-QuickStep)
➤ Suíça: Sébastian Reichenbach (Groupama-FDJ)
➤ Cazaquistão: Alexey Lutsenko (Astana)
➤ Letónia: Toms Skujins (Trek-Segafredo)
➤ Polónia: Michal Paluta (CCC Development Team)
➤ Rússia: Aleksandr Vlasov (Gazprom-RusVelo)
➤ Eritrea: Natnael Berhane (Cofidis)

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