4 de junho de 2019

"Temos um director desportivo cuja palavra que mais nos diz é 'tranquilidade'"

Para Jorge Magalhães, terminar a fase de sub-23 numa equipa mais dedicada à formação, no seu caso o Miranda-Mortágua, era algo que encarava com toda a naturalidade. Porém, abriram-se as portas da W52-FC Porto, que além de ser a equipa que tem dominado o ciclismo nacional, preparava-se para subir a Profissional Continental. Agarrou a oportunidade numa estrutura na qual há sempre pressão para ganhar, mas que também sabe retirá-la a jovens como Magalhães, para que possam desenvolver as suas qualidades calmamente, como foi o caso de João Rodrigues, recente vencedor da Volta ao Alentejo.

"Estou rodeado de muitos campeões e temos um director desportivo [Nuno Ribeiro] cuja palavra que mais nos diz é 'tranquilidade' e motiva-nos a dar o nosso melhor", afirmou ao Volta ao Ciclismo. A mensagem passada é que "a quem trabalha, os resultados vão aparecer". Ao falar-se com Jorge Magalhães percebe-se rapidamente como está integrado numa equipa que não nega sentir a responsabilidade de ter ao peito um símbolo de muita responsabilidade: o do FC Porto. "Claro que acresce a responsabilidade. Sente-se que é maior e que temos de mostrar qualidade e resultados", admitiu.

Volta-se à questão da pressão, ou neste caso, aquela que Magalhães não sente: "Pedem-me que desfrute, que vá aprendendo, que ajude a equipa e que esteja tranquilo. Não há aquele nervosismo da idade, porque sabemos que os mais velhos nos vão tranquilizar. Está sempre tudo tranquilo. Sobretudo, o que temos de fazer é aprender e adaptar-nos a esta realidade."


 uma equipa de muitos valores e futuramente, se nos sentirmos bem e se ficarmos por aqui, poderemos ser os rostos da W52-FC Porto"

Aos 22 anos, Magalhães não hesita em considerar a W52-FC Porto uma equipa muito positiva para os jovens ciclistas, tanto pelas condições que oferece, como pela forma como lida com quem ainda está em fase de aprendizagem. Com a subida de escalão, a equipa passou a ser ainda mais uma pretendida pelos sub-23, que passam a não estar tão concentrados em tentar do país, pois por cá existe uma estrutura Profissional Continental que valoriza os mais novos.

"A W52-FC Porto veio ajudar a evolução dos jovens. Portugal tem uma boa formação, com qualidade. No entanto, se formos a ver, temos três equipas sub-25 e isso acabou por cortar as pernas a muitos jovens. Essas equipas precisam de obter resultados. Já não pensam, se calhar, tanto na formação. Tanto eu e o Francisco [Campos], que viemos do Miranda-Mortágua, tivemos a oportunidade de vir para esta equipa e temos de aproveitar. É uma equipa de muitos valores e futuramente, se nos sentirmos bem e se ficarmos por aqui, poderemos ser os rostos da W52-FC Porto", explicou.

Magalhães viveu essa passagem de equipa de clube para sub-25 Continental e referiu como o maior investimento dos patrocinadores leva a uma maior exigência nos resultados. Ou seja, uma pressão que agora não sente, podendo estar mais concentrado no seu trabalho de desenvolvimento, a apontar para um futuro próximo, não tanto no resultado imediato Contudo, só tem elogios para o Miranda-Mortágua e o seu director desportiva. Salientou como Pedro Silva é uma pessoa dedicada em garantir que constrói uma família durante a época, fomentando a amizade entre os atletas, além da preocupação desportiva: "Ele trabalha muito em prol da formação. Foi muito importante para mim ter lá estado."

Naturalmente que as diferenças entre as duas estruturas são muitas: "Aqui já existe mais maturidade. Lá somos todos jovens e queremos fazer o nosso melhor, mas falta-nos maturidade. Podemos estar bem, mas às vezes cometemos erros que acabam por nos prejudicar. Aqui sabemos que nos vão dizer para fazer de certa forma porque é melhor para nós... É melhor assim e acaba por dar resultado."

Na W52-FC Porto, Jorge Magalhães está lado a lado com ciclistas que venceram a Volta a Portugal, com muitos anos de profissionalismo ao mais alto nível, até com passagens pelo World Tour, tudo o que só beneficiar um jovem ciclista. "Está a ser uma adaptação fácil de se fazer. Está a ser uma boa experiência, sobretudo o contacto com os atletas mais velhos, com quem posso aprender bastante. Estou a ter oportunidade de fazer algumas corridas fora de Portugal, provas internacionais e assim captar uma aprendizagem para o futuro."

Contou como quando chegou à W52-FC Porto tinha alguma falta de confiança para com os novos colegas: "Agora já os trato por tu! É tudo tranquilo. É como se fossem da minha idade. Alguns já são pais... têm mais 10 anos ou mais do que eu! Mas converso normalmente com eles." Magalhães assegurou que se sente mais um na equipa, não sentido que tem de lutar por um lugar.


"[O Pedro Silva] trabalha muito em prol da formação. Foi muito importante para mim ter lá estado [no Miranda-Mortágua]"

Num plantel extenso para a realidade portuguesa, muito devido também à subida de escalão, que levou a um calendário mais preenchido, Jorge Magalhães não está tanto em acção em Portugal, como acontecia na sua antiga equipa. Algo que o tem deixado satisfeito é poder competir mais no estrangeiro, mas há outro pormenor que o deixa feliz. Nuno Ribeiro dá liberdade ao ciclista de representar a selecção nacional do seu escalão, algo importante para Magalhães já que está no seu último ano de sub-23. E é precisamente uma corrida pela selecção que está nos seus principais objectivos da temporada: a Volta a França do Futuro.

É a prova de maior referência dos sub-23 e o ciclista da W52-FC Porto está entre os convocados para a Corrida da Paz, prova da Taça das Nações de sub-23, na qual um bom resultado pode dar a qualificação directa para a prova francesa.

De quinta-feira a domingo, Jorge Magalhães estará acompanhado por João Almeida (Hagens Berman Axeon), Afonso Silva (Rádio Popular-Boavista), Guilherme Mota (UD Oliveirense-InOutBuild, Gonçalo Carvalho (Mónaco) e o companheiro de equipa Francisco Campos.

E de referir que a W52-FC Porto somou mais uma vitória esta temporada, a sexta. Dois dias depois de Francisco Campos ter conquistado o Grande Prémio Anicolor, Rafael Reis ganhou o prólogo do Grande Prémio Jornal de Notícias, na sua estreia a vencer no regresso à equipa do Sobrado. Especialista no contra-relógio, foi o mais forte nos 6,2 quilómetros de Monção, com o companheiro António Carvalho a ser terceiro a três segundos. Joni Brandão Efapel ficou a dois. Samuel Caldeira, Edgar Pinto, Daniel Mestre e Gustavo Veloso ficaram todos no top dez, numa demonstração de força da W52-FC Porto. Esta quarta-feira serão 166,1 quilómetros entre Monção e Viana do Castelo.

»»Guilherme Mota regressa a Portugal para poder garantir um futuro além do ciclismo««

»»"Na Movistar eu não estava contente comigo mesmo"««

Sem comentários:

Enviar um comentário