1 de abril de 2019

O que se passa com Moscon?

(Fotografia: Facebook Gianni Moscon)
Pouco se tem falado de Gianni Moscon, pois pouco se tem visto do italiano. Por um lado não é mau, já que o ciclista da Sky tem nas últimas duas épocas sido protagonista de episódios negativos. Por outro, é impossível negar que é um corredor de qualidade, mas que parece nunca mais chegar a temporada de afirmação. Se era suposto ser 2019, então, para já, não tem prometido muito ou mesmo nada. Moscon não perde a esperança de dar a volta ao seu baixo rendimento já nas próximas três clássicas do pavé, com os olhos postos no Giro, corrida na qual deseja ser líder, mas esse estatuto terá de esperar.

Moscon tem apenas 24 anos, quase 25 (20 de Abril). Porém, é um daqueles ciclistas que parece que já há muito se vê e isso deve-se por ter começado cedo a mostrar-se na Sky, quando chegou em 2016. Rapidamente se percebeu que se estava perante um italiano com potencial para se tornar um ciclista de referência. Muito bom nas clássicas, mas a evoluir nas provas por etapas, o que o leva a assumir um discurso de querer liderar numa grande volta.

Essa é uma questão. Será Moscon um voltista? Numa perspectiva de ganhar, pois para ajudar o líder, em duas corridas foi importante (uma Vuelta e um Tour) deu uma excelente resposta, sendo elogiado por Chris Froome. Essa resposta foi interrompida quando foi expulso do último Tour por agressão a um outro ciclista. Primeiro pediu desculpa, mas mais tarde disse que não tinha feito nada.

Um dos episódios que, sendo tão novo, já são de mais e prejudicam a sua reputação dentro do pelotão. Em 2017, proferiu comentários racistas contra um corredor da FDJ e foi desclassificado dos Mundiais de Bergen, por ter andado "à boleia" do carro da selecção italiana, para recuperar posição na corrida.

Já se percebeu a personalidade deste ciclista, falta perceber se vai confirmar as expectativas. Capaz do melhor como atleta, mas do pior em atitudes como as acima referidas, Moscon em nada tem beneficiado a sua afirmação de estatuto dentro da Sky. Não é por falta de defesa da sua equipa, que sempre tem mantido o apoio ao seu jovem ciclista, sendo até branda nas sanções, como aconteceu no caso dos comentários racistas: seis semanas de suspensão, quando não estava previsto fazer muitas corridas, tendo ainda de frequentar um curso de consciencialização. A sanção só foi dada após o final da Volta a Romandia, não tendo a Sky retirado o ciclista da prova após o sucedido.

No caso da agressão no Tour a um ciclista da Fortuneo-Samsic, Elie Gesbert, o director Dave Brailsford destacou como iria apoiar o italiano que precisava de "aprender, desenvolver e ultrapassar isto". A UCI suspendeu-o por cinco semanas. No regresso, na recta final da temporada, Moscon somou seis vitórias entre clássicas e a Volta a Guangxi, na qual além de uma etapa, venceu a geral e a classificação da juventude.

Estaria finalmente Moscon concentrado em finalmente assumir outra relevância na Sky? A sua ambição era essa, com as clássicas a serem o seu primeiro grande objectivo do ano, apontando aos monumentos, a começar pela Milano-Sanremo. Porém, na Volta aos Emirados Árabes Unidos, a sua estreia competitiva da época, caiu duas vezes e a segunda queda deixou as marcas.

O italiano tentou estar novamente na estrada em pouco tempo, competindo na Strade Bianche, seguindo depois para o Tirreno-Adriatico. Numa entrevista ao Cycling Weekly, Moscon admitiu que não se encontrava bem. Sentiu-se mal e ficou claro que o corpo precisava de um maior tempo de recuperação. Na segunda etapa foi para casa. E a Milano-Sanremo riscada do seu calendário.

Primeira desilusão. Agora é para a Volta a Flandres a que aponta e o Paris-Roubaix. Já esta quarta-feira estará na Através da Flandres. Mas claro, é um monumento que mais quer. Moscon acredita que poderá estar bem. Participou nas três clássicas do pavé na semana passada, mas nem se o viu. Acredita que tem tempo para melhorar e que a Sky pode não ser favorita nestas corridas, mas não é para menosprezar. É a Sky, nunca se menospreza e também não se quer fazer o mesmo com Moscon.

Será uma questão de tempo até aparecer? Os seus resultados dizem que sim, tendo um quinto lugar em Roubaix e um terceiro na Lombardia, em 2017, isto além das vitórias que já somou, incluindo dois títulos nacionais de contra-relógio.

Numa altura que se vai falando de ciclistas com capacidade para ganhar os cinco monumentos, Moscon é claramente um deles. É um corredor todo-o-terreno. "Só" falta atingir todo o seu potencial. Talvez possa vir a ser um voltista e no Giro será o plano B de um Egan Bernal, esse sim, um voltista dos pés à cabeça. Contudo, liderar a equipa numa grande volta, ainda poderá ser algo que terá de esperar um pouco mais. É nas clássicas que tem a porta aberta. Está na altura de começar a aproveitar as oportunidades.


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