9 de abril de 2019

O renascer das camisolas laranjas

(Fotografia: Facebook Fundación Euskadi)
Uma coisa era certa, se havia algo que a Euskaltel-Euskadi era sempre uma fortíssima candidata era em dar espectáculo. Principalmente se houvesse montanha, pois bem ao estilo do terreno do País Basco, ali estavam muitos e bons trepadores. Quando a equipa fechou portas ficou um vazio no ciclismo, pois esta era uma formação diferente, de identidade muito própria, uma verdadeira imagem de uma região. O último ano foi em 2013 e ainda hoje a herança das camisolas laranjas está bem presente no pelotão. O desejo de um dia o País Basco ter novamente a sua grande equipa de ciclismo nunca morreu e estão a ser dados passos que podem tornar esse sonho em realidade em breve.

Mikel Landa, Ion e Gorka Izagirre, Mikel Nieve, Pello Bilbao, Jonathan Castroviejo e o veteraníssimo Markel Irizar são nomes que, com maior ou menor sucesso, conquistaram o seu lugar de destaque no pelotão internacional. A escola basca deu ao ciclismo espanhol alguns dos grandes trepadores, com talvez Samuel Sánchez a ter sido a maior das figuras da equipa. Ficou a 55 segundos de ganhar uma Vuelta que acabou nas mãos de Alejandro Valverde (2009). Ganhou uma camisola da montanha no Tour (2011) e no ano antes foi segundo na geral, mas nunca subiu ao pódio, pois o resultado foi determinado depois da desqualificação de Alberto Contador e Denis Menchov. De referir que Sánchez foi ainda campeão olímpico em 2008, em Pequim, mas essa corrida foi em representação da selecção nacional.

A Euskaltel-Euskadi venceu etapas em todas as grandes voltas, principalmente na Vuelta e em muitas mais das grandes corridas mundiais. A mentalidade de atacar estava enraizada. Era sempre maior a ambição de ganhar do que o medo de arriscar e perder. Naquela equipa só entravam bascos, ou com ascendência basca. Era uma identidade muito própria, com adeptos muito próprios também. No entanto, a sua forma de encarar as corridas, tornaram aquelas camisolas laranjas muito apreciadas além fronteiras.

A crise financeira ditou que a empresa de telecomunicações não conseguisse suportar o orçamento e não surgiu um segundo patrocinador para partilhar o investimento. Foi o adeus em 2013, que não surpreendeu, pois um ano antes os sinais de problemas já eram públicos. Naquela derradeira temporada, até foram abertas portas a outros ciclistas, com Ricardo Mestre a ser um português que vestiu a famosa camisola da Euskaltel-Euskadi. Ainda hoje aquelas camisolas laranjas são recordadas, agora mais do que nunca já que com uma preciosa ajuda de Landa, a Fundación Euskadi está a fazer renascer das cinzas o projecto outrora marcante.

Em 2015 foi a actual Euskadi-Murias que deu ao ciclismo basco uma nova esperança de ter uma grande equipa. Há um ano subiu a Profissional Continental e ganhou uma etapa na Volta a Espanha por Óscar Rodríguez. O orgulho basco ganhou novo fôlego. Mas se a Euskadi-Murias quer ir mais longe, pensando no World Tour, quer também fazer da união a força. Ou seja, quer juntar-se à Fundación Euskadi e fazer uma só equipa. Uma só e forte estrutura de ciclismo basco.

"Acreditamos firmemente na força da união. Juntar forças é vital para juntos competir ao mais alto nível nos próximos anos e porque pensamos que [o projecto] pode ser algo de excepcional", afirmou Javier Lasagabaster, um dos responsáveis da Euskadi-Murias.

A proposta à Fundación Euskadi já foi feita e até com o plano de ir para a estrada já em 2020. Porém, a equipa de Mikel Landa tem prazos diferentes, devido ao compromissos assumidos para criar a actual estrutura, que inclui uma equipa feminina. Ainda assim, nos próximos cinco anos as camisolas laranjas que já por aí andam com a Fundación Euskadi (escalão Continental), poderão ser novamente uma referência do ciclismo basco e, claro, espanhol. Isto porque a Euskadi-Murias não tem problemas em trabalhar com o nome da equipa de Mikel Landa e em mudar para aquela cor.

A Euskadi-Murias faz da formação a sua aposta, assim como a Fundación Euskadi e é assim que querem que seja a base da união de forças. No entanto, também querem o apoio governo basco: "Somos a única equipa desportiva basca de elite que não recebe uma única subvenção. Somos de todas as partes e ambicionamos representar a Euskadi em todo mundo. Só pedimos carinho, compreensão e respeito, que reconsiderem as suas posições para levar o nome da Euskadi mais alto, como temos feito até agora."

Recentemente as duas equipas bascas estiveram em Portugal e dominaram a Volta ao Alentejo em termos de etapas: quatro vitórias em seis (três para Enrique Sanz, da Murias, e uma da Sergio Higuita, da Euskadi), mas com estes passos a serem dados, nesta união de esforços, o renascer das camisolas laranjas poderá estar para breve a um nível mais elevado.


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