(Fotografia: Facebook EF Education First) |
O italiano atacou na última passagem pelo Kwaremont. Nada de muito preocupante quando no grupo estavam Greg van Avermaet, Peter Sagan (em baixo de forma, é certo, mas é Sagan), Oliver Naesen, Alejandro Valverde, Wout van Aert, Mathieu van der Poel, Bob Jungels, Tiesj Benoot, Alexander Kristoff, Michael Matthews, entre outros. De seguida veio o Paterberg, curto, menos de 400 metros, mas com rampas a 20%! Bettiol passou e arrancou para os 14 quilómetros mais longos da sua carreira. Lá atrás, olhavam-se. Aceleravam um pouco, um ou outro até tentou sair, mas principalmente olhavam uns para os outros.
Ninguém quis levar um rival à disputa. Tinham mais vontade de não perder frente a um adversário daquele grupo, do que propriamente em colocarem-se numa posição de discutir a vitória num monumento! As pernas já pesavam, é certo. Ninguém ia fresco e era claro como alguns tinham as forças no limite. Também Bettiol as tinha e gastou-as todas para agarrar uma oportunidade que não sabe se poderá a surgir.
Van der Poel (Corendon-Circus) foi um dos que ainda tentou, isto depois de sofrer uma estranha queda que o obrigou a uma grande recuperação. Fechou quarto na sua estreia na Flandres. Também Valverde (Movistar) ainda fez um forcing, mas não arriscou ir sozinho. Também em ano de estreia fez oitavo e já fala em regressar em 2020.
Talvez o mais frustrante tenha sido ver Greg van Avermaet (CCC). O belga tem na Flandres a corrida da sua vida e teve uma excelente hipótese de a conquistar. Depois de ver a sua equipa ficar para trás, a 100 quilómetros da meta, no Kapelmuur, mas a eventualmente recuperar, ficou novamente sozinho, mas a mostrar mais capacidade do que muitos dos rivais. Ainda assim esteve escondido naquela fase final. Puxou aqui e ali, contudo, pareceu esperar que alguém fizesse mais esse trabalho. Sagan há muito que aprendeu a lição de não o fazer e do grupo era talvez Avermaet e Oliver Naesen (AG2R) os dois com maior responsabilidade, além do eslovaco da Bora-Hansgrohe. Kristoff também, mas é um ciclista com menos capacidade para este tipo de esforço.
No entanto, Avermaet disse que não era a sua responsabilidade puxar os homens mais rápidos para depois ser batido na meta. Curiosas palavras, de quem já aproveitou trabalho indêntico. Mas não será da sua responsabilidade colocar-se numa posição para ganhar? O tempo passa e o belga, de 33 anos, não vence a Volta a Flandres. E a correr assim, vai ser difícil. Desde que conquistou o Paris-Roubaix em 2017 que Avermaet não vence uma clássica.
Michael Matthews (Sunweb) foi mais um estreante e andou a testar-se (cuidado com ele para as próximas Voltas a Flandres, prova que deverá entrar mais vezes no seu calendário), enquanto a Deceuninck-QuickStep não foi tão dominadora como outrora, mas ainda foi colocar um jovem Kasper Asgreen no segundo lugar. O único que atacou para ir buscar um segundo lugar que nem essa posição mais ninguém pareceu querer daquele grupo. Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) venceu no sprint para o terceiro.
Numa corrida emotiva, com algumas reviravoltas, o nome a decorar é mesmo Alberto Bettiol. Afinal não é qualquer um que pode dizer que a sua primeira vitória como profissional foi num monumento. Mais, foi no monumento dos monumentos, como é considerado por muitos. Repetiu as palavras que nem acreditava no que tinha acontecido. As lágrimas de emoção chegaram a tomar conta dele.
Porém, como foi dito no início, a sua vitória não foi uma total surpresa. Já tinha estado bem na Milano-Sanremo e esteve ainda melhor na E3 BinckBank Classic, onde foi quarto. O aviso estava dado. Só teve de esperar que Sep Vanmarcke mostrasse que o seu joelho não está ainda a 100% para jogar a sua cartada na Flandres. Saiu um Ás, porque Bettiol era claramente uma aposta e não um joker.
Grande Bettiol. Aos 25 anos, este ciclista natural de perto de Florença, estreou-se no World Tour na estrutura que representa. Passou 2018 na BMC, mas foi uma época azarada na ajuda a Avermaet. O regresso à EF Education-First tem sido de afirmação e certamente que agora já não irá mais ser menosprezado. É um homem com um monumento. Depois de se mostrar em juniores, estava a demorar a confirmar-se como elite. E há melhor forma de o fazer como o fez em Oudenaarde?
A smart move on the Oude Kwaremont was enough for @AlbertoBettiol to ride to glory in Flanders 🏆🇮🇹 #RVV #RVV19 pic.twitter.com/lbqLrNQaFC— Ronde Van Vlaanderen (@RondeVlaanderen) 7 April 2019
Na corrida feminina também venceu uma italiana: a campeã da Europa, Marta Bastianelli (Virtu Cycling). A portuguesa Daniela Reis (Doltcini-Van Eyck Sport) fechou na 55ª posição, a 4:38 minutos. (Classificação feminina, da corrida de 159,2 quilómetros que começou e acabou em Oudennarde.)
Nelson Oliveira desqualificado?
O português da Movistar estava a realizar mais uma boa corrida, chegou a ir para a frente, mas, quando já tinha sido apanhado, surgiu a informação que tinha sido desclassificado por não ter respeitado os "procedimentos de segurança".
No final ficaram todos surpreendidos pelo anúncio da organização. A começar pelo próprio Nelson Oliveira. "Não sei o que aconteceu, mas alguém cometeu um erro e não fui eu. Eu terminei a corrida e não foi retirado dela", escreveu no Twitter. E na classificação surge na 45ª posição, a 2:20 do vencedor. Pode ver neste link a classificação completa dos 207,1 quilómetros, via ProCyclingStats.
Dois monumentos, dois novos ciclistas a conquistar um, depois de Julian Alaphilippe ter conquistado pela primeira vez uma destas cinco corridas na Milano-Sanremo. E agora é só esperar uma semana para o Inferno do Norte. Contagem decrescente até ao Paris-Roubaix.
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