14 de abril de 2019

Gilbert a um monumento de um dos grupos mais exclusivos do ciclismo

(Fotografia: Facebook Paris-Roubaix)
"Os vencedores do Paris-Roubaix são, por vezes, bastante velhos!" A frase de Philippe Gilbert ganhou um novo destaque. Foi o que disse antes de uma corrida que sempre alertou que poderia ganhar e até parece inacreditável que, aos 36 anos, só a tenha feito por três vezes (2007, 2018 e 2019)! Mas quando se tem a classe de Gilbert, quando se é um ciclista do melhor quando se fala em clássicas, não são precisas muitas oportunidades para alcançar o seu objectivo. E a idade pode mesmo ser só um número. Ali, no mítico velódromo de Roubaix, apresentou-se finalmente a oportunidade por que tanto sonhou. Só Nils Politt (12 anos mais novo) lhe podia estragar o momento. Mas é Gilbert. Pode não ter a experiência no Paris-Roubaix, mas tem toda a experiência de uma carreira que está a apenas um monumento de o colocar num dos grupos mais exclusivos do ciclismo.

Só falta a Milano-Sanremo para o belga completar o ciclo de cinco monumentos. Durante a sua carreira, tão depressa se falava que Gilbert tinha tudo para igualar o feito de Eddy Merckx, Roger De Vlaeminck e Rik Van Looy, como rapidamente o belga entrava numa fase mais discreta e longe das vitórias. E tanto se falou deste feito depois daquela simplesmente brilhante vitória na Volta a Flandres em 2017, naquele que foi o ano do renascimento de Gilbert, coincidindo com a saída da BMC para a sua actual equipa, Deceuninck-QuickStep. O entusiasmo parecia, entretanto estar a esmorecer. Agora, depois de conquistar o famoso troféu de pedregulho de Roubaix, o assunto ficará novamente na ordem do dia. Só falta mesmo a Milano-Sanremo! Neste monumento italiano já fez terceiro em 2008 e 2011.

Feitas as contas, Gilbert tem agora duas Lombardias (2009 e 2010), uma Liège-Bastogne-Liège (em 2011, ano em que fez a tripla na Ardenas), uma Volta a Flandres (2017) e um Paris-Roubaix. É certo que já não restam muito tempo a Gilbert para fechar o ciclo dos monumentos, mas, mais do que nunca, está certamente definido o objectivo para as épocas que continuar a competir: tudo pela Milano-Sanremo.

Fala-se aqui apenas de monumentos, pois a história que o belga fez este domingo, foi numa dessas históricas corridas. Contudo, não se poderá esquecer que é um ciclista com triunfos em mais clássicas, grandes voltas e estamos perante um campeão do mundo (2012).

Na sua passagem pela BMC, uma das grandes frustrações de Gilbert foi ver a porta de Roubaix completamente fechada. A equipa dava o pavé a Greg van Avermaet. Gilbert sempre disse que poderia ganhar no Inferno do Norte. Aqui está Gilbert no topo, enquanto o seu compatriota, esse sim, ameaça estar mesmo a eclipsar-se aos 33 anos. Desde que venceu Roubaix em 2017 que não mais conquistou uma clássica e este domingo foi um dos principais derrotados. Entre um mau posicionamento no grupo, uma equipa incapaz de ser decisiva e um próprio Avermaet demasiado egoísta, a querer resolver sozinho o que talvez tivesse tido solução com alianças, deitou por terra as aspirações.

Por outro lado, Gilbert foi perfeito tacticamente. Claro que ajuda estar numa das melhores equipas de clássicas. Porém, quando foi preciso ser ele a resolver, a atacar ou responder a ataques, fê-lo na perfeição, tal como soube trabalhar com os rivais, mesmo tendo no grupo de seis o companheiro Yves Lampaert. Nunca se escondeu.

Além dos dois ciclistas da Deceuninck-QuickStep e Politt (Katusha-Alpecin), estava Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), Wout van Aert (Jumbo-Visma) - que exibição monstruosa deste ciclista - e Sep Vanmarcke (EF Education First). Foi Politt quem começou por mexer e ajudou à formação deste grupo com mais de 50 quilómetros para a meta, com Sagan a dar a "sacudidela" decisiva num grupo que ainda tinha vários dos candidatos. Foi Politt que mexeu a 14 quilómetros e Gilbert respondeu. Trabalharam para não mais serem apanhados. Depois, a experiência de Gilbert e um melhor fôlego final fizeram a diferença no velódromo. Lampaert fechou o pódio.

Na Bélgica havia uma sensação de desilusão por nenhum dos seus ciclistas ter ganho as clássicas que por ali se realizaram, Gilbert compensou indo a França fazer mais um pouco de história. Só falta a Milano-Sanremo. Quantas vezes vai esta frase passar pela mente de Gilbert?

Classificação completa neste link, via ProCyclingStats.

Van Aert e a mentalidade do tudo é possível

Num Paris-Roubaix percorrido a grande velocidade, 43 quilómetros/hora de média, a expressão "corrida por eliminação" dificilmente descreve melhor uma clássica como este monumento. Continuamos numa fase de Roubaix seco, ou seja, a espera continua por uma edição com chuva. Mas houve espectáculo. Poucas quedas comparativamente com edições recentes, mas incidentes suficientes para deixar fora muitos pretendentes. Que o diga Alexander Kristoff. Não há boa forma que resista a três furos! A UAE Team Emirates ficou Fernando Gaviria ainda antes de partir devido a uma febre e o norueguês foi um dos  mais azarados do dia.

Mas houve um homem que quis lutar contra todos os azares e se tivesse vencido teria também ele tido direito a uma história épica em Roubaix. É difícil não imaginar Wout van Aert como um futuro vencedor deste monumento. Perder tempo em Trouée d'Arenberg (Floresta de Arenberg), um dos sectores de pavé mais famoso, devido a uma saída de "estrada", mas conseguir recuperar, mudar de bicicleta e sofrer quase de imediato uma aparatosa queda no asfalto, mas recuperar mais de um minuto de vantagem, ter força e discernimento para entrar no sexteto que ficou na frente nos últimos 50 quilómetros... Quanto ciclistas serão capazes de tal.

E tudo sozinho, sem ajuda dos colegas da Jumbo-Visma. Pelo meio evitou chocar em carros, cair na berma, evitou todo o tipo de obstáculos, como se de uma corrida de ciclocrosse se tratasse. Não se lhe poderia pedir mais. O belga quis tanto finalizar em grande uma corrida monstruosa, mas acabou por ficar para trás num ataque dos companheiros de fuga. A estatística dirá que foi 22º, pois ao perder contacto com a frente, abrandou o ritmo. As forças finalmente faltaram-lhe, mas será uma exibição que tão cedo não será esquecida.

Van Aert merece ser destacado ao lado de um Nils Politt que se vai confirmando. Aos 25 anos, o alemão realizou uma tremenda época de clássicas do pavé. Foi quinto na Volta a Flandres, por exemplo. A Katusha-Alpecin ficou perto da grande vitória que tanto precisa. Politt pode não ser a estrela da equipa, mas confirmou expectativas. As clássicas terão ganho mais um excelente ciclista para discutir vitórias.

Em baixo, o vídeo do último quilómetro dos 257 (29 sectores de pavé) da 117ª edição do Paris-Roubaix.


»»Uma vitória num monumento que vale muito mais do que o nome na história««

»»Van der Poel é já um grande ausente do Paris-Roubaix e até dos seus calções se fala««

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