21 de abril de 2019

Simplesmente fenomenal!

(Fotografia: Facebook Amstel Gold Race)
"Eles já não vos apanham", ouviu do rádio Jakob Fuglsang. E dificilmente alguém acreditaria que, a menos de cinco quilómetros da meta, o dinamarquês e Julian Alaphilippe não iriam discutir a vitória na Amstel Gold Race. Porém, num daqueles volte-face que simplesmente nos faz adorar ainda mais o ciclismo (se tal é possível), num daqueles momentos que se há-de falar durante muito, muito tempo, Mathieu van der Poel alcançou o impossível. Ou melhor, mostrou que nada é impossível quando se tem talento, vontade, atitude e uma qualidade como ciclista que promete colocar este holandês a um nível apenas ao alcance daqueles verdadeiramente especiais.

Só este ano, Van der Poel já tinha demonstrado o que poderia fazer. Em anos anteriores foi deixando indicações que faziam com que se desejasse vê-lo finalmente dedicado à estrada, ele que no ciclocrosse só tem Wout van Aert como rival. A subida da Corendon-Circus a Profissional Continental apresentou finalmente todo o talento deste ciclista ao mundo. Van der Poel não só não está desiludir nem um bocadinho, como está a ultrapassar quaisquer expectativas. Que poder, que força naquela pedalada final, depois de mais de 260 quilómetros! Para quem tinha receio de fazer distâncias longas, o saldo ficou num quarto lugar na Volta a Flandres e nesta inesquecível vitória na Amstel Gold Race. 

Em menos de cinco quilómetros, Van der Poel recuperou qualquer coisa como um minuto de desvantagem, rebocando um pequeno grupo que nem se consegue perceber se não quis ajudar ou se era difícil fazer melhor do que o holandês. Matteo Trentin foi ultrapassado como se estivesse a fazer cicloturismo, Michal Kwiatkowski, que já tinha feito algo improvável de encostar ao duo da frente, pareceu ficar parado na estrada. Alaphilippe e Fuglsang mal conseguiam acreditar naquele homem que passava por eles, com um Simon Clarke (EF Education First) "agarrado" àquela roda como se a vida dependesse disso. Ficou em segundo lugar, num esforço que noutra ocasião lhe poderia ter dado uma vitória.

Mas com este Van der Poel a pedalar daquela forma, um segundo lugar tem de saber um pouco a vitória. O holandês, de mão na cabeça ao cortar a meta, estava incrédulo com o que tinha acabado de alcançar. A incredulidade era partilhada por quase todos. Aquele sprint, aquela recuperação fez qualquer um abrir bem os olhos perante um momento que, de repente, se percebeu que ia ser histórico.

Van der Poel disse que não acreditava ser possível chegar à vitória depois de não ter ido com Alaphilippe e Fuglsang. O holandês já tinha testado antes a concorrência, como já se percebeu que gosta de fazer, e ainda faltavam 50 quilómetros. O melhor ficou para o fim. E que final! Não se deixou contentar com um top dez. Procurou algo mais. Conseguiu o prémio maior. Um exemplo de atitude e de quem não fica à espera que façam por ele, o que ele pode fazer.

Ganhar a Através da Flandres tinha sido um marco importante na sua carreira, por ser a sua primeira conquista numa corrida World Tour. Na Amstel a história continuou a ser escrita e tantos vão ser os capítulos... Van der Poel só tem 24 anos.

A semana das Ardenas abriu com estrondo. A Amstel é na Holanda, mas pertence a esta semana e desde 2001 que um homem da casa não vencia. O último foi Erik Dekker. Como se pode imaginar a festa foi grande na corrida da cerveja. Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) parecia estar a caminho de conquistar a primeira vitória rumo à tripla. Bem se tinha dito que Van der Poel seria aquele que provavelmente poderia estragar o objectivo do francês, que acabou num quarto lugar, com sabor a frustração. Fuglsang salvou um pódio, mas foi o primeiro a assumir o erro de baixar o ritmo, acreditando nas palavras que já não seriam apanhados.

Agora é esperar para ver o próximo espectáculo de Van der Poel e até onde irá este atleta com genes de ciclista (o pai é Adrie van der Poel, que venceu a Amstel Gold Race em 1990 e o avô é Raymond Poulidor, um dos grandes nomes do ciclismo francês). As Ardenas não contarão mais com Van der Poel e ainda não se sabe qual será a próxima prova. Que chegue rápido.

Neste link pode ver a classificação completa, via ProCyclingStats, com Rui Costa (UAE Team Emirates) a ser 13º, a 46 segundos. Ruben Guerreiro (Katusha-Alpecin) abandonou. Na corrida feminina, a vencedora foi a polaca Katarzyna Niewiadoma (Canyon SRAM Racing).

Aqui fica a parte final do sprint, mas que não faz jus a todo aquele esforço de outro mundo de Van der Poel.
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