23 de abril de 2019

Flèche Wallonne de redenção para Alaphilippe e Valverde

(Fotografia: Facebook Flèche Wallonne)
Segundo round da semana das Ardenas (agora sim, mesmo nas Ardenas, depois da passagem pela Holanda) com alguns dos mesmos protagonistas, mas sem Mathieu van der Poel. Depois do que aconteceu na Amstel Gold Race só se quer ver mais do holandês, mas lá se terá de sobreviver à Flèche Wallonne e Liège-Bastogne-Liège sem o homem do momento. Até parece um pouco estranho dizer isto, quando está presente aquele que estava a ser a figura de 2019 até àqueles metros finais da Amstel: Julian Alaphilippe. O francês não era um ciclista nada satisfeito com o que acontecido, perdendo a possibilidade de fazer a tripla na Ardenas naqueles cinco quilómetros finais, quando tanto tinha trabalhado para discutir a corrida. Mas há que levantar a cabeça e estará na corrida que venceu há um ano, batendo Alejandro Valverde num Muro de Huy que quase estava a merecer ser chamado de Muro de Valverde.

Os dois são novamente os cabeça-de-cartaz da Flèche Wallonne desta quarta-feira (transmissão no Eurosport). O espanhol soma cinco triunfos. Ia em quatro consecutivos até que Alaphilippe reclamou a pretensão a um trono que há muito se julgava ser possível ser dele. Apesar da desilusão da Amstel (terminou no quarto lugar, tendo abdicado de lutar pelo pódio ao ver Van der Poel passar por ele) e da Brabantse Pijl-La Flèche Brabançonne (foi segundo atrás do holandês), não há razões para não esperar um Alaphilippe ao seu melhor para vencer novamente a Flèche Wallonne e assim somar a nona vitória do ano.

Tem sido uma caminhada impressionante do ciclista da Deceuninck-QuickStep em 2019, que fechará esta primeira fase nas Ardenas, antes de começar a pensar na Volta a França, onde há um ano foi rei da montanha e vencedor de duas etapas. A sua forma é o oposto da que Valverde apresenta. Na Amstel, o campeão do mundo esperava tentar lutar pela corrida que lhe falta da semana das Ardenas, mas no final ficou longe (66º) e admitiu que acabou "vazio".

O próprio espanhol da Movistar começa a acreditar que a maldição do arco-íris o está a afectar, pois não está nada habituado chegar a esta fase da temporada com apenas uma vitória, na terceira etapa da Volta aos Emirados Árabes Unidos, a 26 de Fevereiro.

Tal como Alaphilippe, estar num terreno que lhe assenta tão bem e que já lhe deu tantas alegrias, poderá ser o que Valverde precisa para reencontrar-se, tendo mais uma motivação: igualar o recorde de Eddy Merckx nas Ardenas. O belga soma dez vitórias (cinco na Liège-Bastogne-Liège, três na Flèche Wallonne e duas na Amstel Gold Race), enquanto Valverde - que celebra 39 anos na quinta-feira - vai em nove: cinco Flèche Wallonne e quatro Liège-Bastogne-Liège.

Em boa forma, mas sem vitórias está Daniel Martin. O ciclista da UAE Team Emirates terá a seu lado Rui Costa, dois homens que podem jogar tacticamente, pois ambos correm bem na Flèche Wallonne. Aliás, correm bem nas Ardenas, pois é uma dupla a ter em conta para a Liège-Bastogne-Liège de domingo, com Diego Ulissi a ser um ciclista que nunca se tira da equação, ainda que tanto seja capaz do melhor, como nem se dá por ele. Tanto Martin como Rui Costa têm pretensões altas para as próximas duas corridas. O irlandês não fez a Amstel, enquanto o português foi 13º, a 46 segundos de Van der Poel.

Ao contrário da prova holandesa, a Flèche Wallonne tem um lote de candidatos muito mais reduzido. O Muro de Huy é daquelas subidas que quebra qualquer ciclista, mesmo aquele que saiba lidar com pendentes que neste caso chegam a rondar os 20%! São cerca 1300 metros que, independentemente das mudanças que organização faça, acabam por ser os que definem o vencedor. Assim tem sido quase exclusivamente este século.

Adam Yates seria um nome a lançar, sendo mais um ciclista em bom momento. Mas o britânico admite que ainda não se entende muito bem com as clássicas da Ardenas. Se se entender, é candidato. Contudo, a Mitchelton-Scott pode sempre apostar no vetereno Michael Albasini. Tem 38 anos, mas os dois pódios nesta corrida dão-lhe muito crédito. Romain Bardet (AG2R), Roman Kreuziger (Dimension Data), Michael Matthews (Sunweb) - um sprinter que se dá bem nos muros desta corrida - e Alexey Lutsenko (Astana) são nomes a ter em conta. Apesar da boa prestação de Jakob Fuglsang na Amstel, o Muro de Huy poderá ser melhor para Lutsenko, mas a Astana volta a ter mais do que uma carta para jogar.

Michal Kwiatkowski (Sky), Tim Wellens e Jelle Vanendert (terceiro classificado em 2018), da Lotto Soudal, ou Matej Mohoric e Dylan Teuns, da Bahrain-Merida, poderão estar na luta, mas atenção a estes nomes: Michael Woods (EF Education-First) já mostrou que sabe lidar com estes finais, tanto na Vuelta (ganhou uma etapa), como nos Mundiais de Innsbruck (foi terceiro); Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert) está finalmente a confirmar as expectativas e chega à Flèche Wallonne em boa forma; Brandon McNulty (Rally UHC Cycling) é o americano do momento, tendo ganho a Volta à Sicília. Tem apenas 21 anos e a falta de experiência pode ser um contra, mas não é ciclista para se perder de vista. Martin e McNulty estão em equipas Profissionais Continentais, mas a serem certamente seguidos por formações World Tour.

Além de Rui Costa, José Gonçalves e Ruben Guerreiro, ambos da Katusha-Alpecin, serão os outros portugueses em prova. Pode confirmar neste link a lista completa de inscritos, via ProCyclingStats.

Quanto ao percurso de 195,5 quilómetros, começa em Ans e o circuito final arranca a 76,5 quilómetros da meta e não a 58, como aconteceu na edição passada. Isto acontece porque haverá três passagens nos Côte d’Ereffe e Côte de Cherave e não apenas duas. O Muro de Huy continuará com as suas três passagens, a última a coincidir com a meta.

Nova tentativa para que a corrida ganhe emoção, sendo que poderá verificar-se uma maior selecção e algum ataque de um ciclista com menos capacidade a sprintar com pendentes tão elevadas como no Muro de Huy. Ainda assim, a expectativa é que sejam novamente aqueles 1300 metros finais a decidir tudo. Só falta saber quem chega lá em condições de discutir a vitória, pois muito se vê como há corredores a apresentarem-se bem até ao Muro de Huy, mas quebrarem com a meta à vista. Não é por acaso que o Muro de Huy é das subidas mais míticas do ciclismo, apesar da sua curta extensão.

(Gráfico: La Flamme Rouge)


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