8 de abril de 2019

Uma vitória num monumento que vale muito mais do que o nome na história

(Fotografia: © EF Education First)
Uma vitória num monumento é sempre um ponto alto da temporada, mesmo para uma equipa como a Deceuninck-QuickStep, tão habituada em conquistá-los. Porém, para certas equipas, um triunfo destes vai muito além desse ponto alto, dessa glória que é vencer uma das corridas mais históricas e importantes do ciclismo. Para algumas equipas pode ser a fonte de sobrevivência. Há cerca de ano e meio o director Jonathan Vaughters até recorreu ao crowdfunding para tentar salvar a sua equipa. Não foi preciso e agora parece ter encontrado alguma estabilidade financeira que lhe permite pensar um pouco mais além da presente época. Os resultados começam a aparecer.

Desde 2014 que o início de época não era tão animador. A temporada está longe de estar feita só porque Alberto Bettiol venceu a Volta a Flandres, ou porque Daniel Martínez ganhou uma etapa no Paris-Nice. No entanto, a confiança pode muito bem se ter instalado numa equipa que recentemente tanto alcançava um bom resultado, como caía quase num quase esquecimento. Atravessou mesmo um jejum de dois anos sem triunfos do nível World Tour.

Em pouco mais de uma década de história - foi criada em 2007 -, esta equipa já venceu quatro dos cinco monumentos - só falta a Milano-Sanremo -, etapas em todas as grandes voltas e inclusivamente um Giro, por intermédio do canadiano Ryder Hesjedal. Já foi em 2012, numa das vitórias mais surpreendentes dos últimos anos. E recordando os monumentos: Johan Vansummeren ganhou o Paris-Roubaix em 2011, Daniel Martin deu a Liège-Bastogne-Liège em 2013 e a Lombardia em 2014 à equipa, além da Volta a Flandres de Bettiol no domingo.

A fusão com a Cannondale (antiga Liquigas) em 2015 marcaria o início de uma época difícil para a estrutura. Algumas boas vitórias iam surgindo, mas nem todos os ciclistas rendiam perto do esperado apesar do potencial como Joe Dombrowski, Andrew Talansky - ainda venceu um Critérium du Dauphiné antes de se retirar muito cedo -, Pierre Rolland e Sep Vanmarcke, um dos melhores ciclistas das clássicas do norte, mas sempre perseguido por algo que o impede de alcançar uma grande vitória.

Com a saída da Garmin no final dessa época de 2015, a equipa perdeu força financeira e segurar bons ciclistas tornou-se uma missão difícil. Daniel Martin foi o primeiro grande nome a partir para outro projecto, mas nas temporadas seguintes, além do veterano Ryder Hesjedal, jovens promissores também foram saindo, casos de Davide Formolo, Matej Mohoric, Dylan van Baarle, Rylan Mullen e até Alberto Bettiol foi para a BMC. Só por um ano, pois após o ponto final nesse projecto, comprado pela CCC, o italiano regressou "a casa". E em boa hora.

A EF Education First salvou a estrutura da Slipstream de Jonathan Vaughters no final de 2017. Primeiro fez parceria com a Drapac, mas em 2019 ficou com o naming solitário, após a saída da Drapac da equipa principal. "Durante muitos anos, lutámos para dispormos de fundos e não conseguíamos ter atenção aos pequenos detalhes que são necessários para ganhar. Com a EF Education First a tomar conta, a patrocinar e financiar, nós podemos olhar para esses detalhes, a perspectiva da ciência desportiva, do treino, da orientação, do apoio. E esses detalhes dão resultado e grandes resultados", salientou o director da equipa, no rescaldo da vitória de Bettiol na Volta a Flandres.

Rigoberto Uran tem carregado quase todo o peso da responsabilidade de dar resultados à equipa, um pouco a par de um Sep Vanmarcke, a quem parece sempre faltar algo, ou acontecer algo nos momentos decisivos. Porém, esta EF Education First talvez esteja a conseguir olhar pela primeira vez em alguns anos para um futuro que vá além de uma temporada. Já tem o seu colombiano promissor, Daniel Martínez, e já contratou outro, Sergio Higuita. Contratou também um dos grandes talentos americanos, Sean Bennett, escola Axel Merckx, ou seja, Hagens Berman Axeon, tal como Logan Owen. Ainda não perdeu a esperança quanto a Dombrowski e Hugh Carthy vai dando sinais que talvez seja 2019 o ano da afirmação. Do Equador, mas de uma equipa colombiana, chegou Jonathan Caicedo.

Taylor Phinney é a eterna incógnita, mas sem dúvida uma voz de comando. Enquanto alguns dos mais novos vão começando a mostrar-se, caso de Martínez nas provas por etapas e agora de Bettiol nas clássicas (a primeira vitória profissional ser num monumento é fenomenal), outros estão no processo de adaptação ao nível World Tour. Além destes jovens, esta EF Education First consegue segurar ciclistas experientes que ainda têm muito por alcançar. Michael Woods surgiu tarde como homem de vitórias, mas mais do que a tempo de singrar. De Rigoberto Uran espera-se mais algum pódio numa grande volta e mantém-se vivo o sonho de uma vitória. O azar de Vanmarcke alguma vez terminará? Há ainda um Sebastian Langeveld que dá indicações de estar num segundo fôlego na carreira.

Talvez faltasse um tónico para de uma vez por todas se juntar a alguma estabilidade financeira, os resultados que justifiquem o investimento do patrocinador. Não há muito melhor do que uma vitória na Volta a Flandres.


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