4 de abril de 2019

"A Colômbia pode ser no ciclismo o que a Argentina é no futebol"

A Colômbia está na moda no ciclismo e não é passageira. As equipas do World Tour estão cada vez mais atentas aos talentos que vão aparecendo naquele país e, daqui a menos de um mês, chega mais um ao principal escalão. Sergio Higuita é um nome que já chamou alguma atenção pelo forte início de temporada em Espanha. Porém, garante que quer chegar ao World Tour e deixar logo a sua marca, tendo bem claro que olha para o topo da classificação na corrida pela qual se irá estrear pela EF Education First: a Volta à Califórnia.

A ambição é muita, mas a vontade de trabalhar e a dedicação que coloca em toda a preparação que está a realizar rumo ao World Tour é ainda maior. Não nega que toda a atenção que os ciclistas colombianos estão a receber, aumenta a pressão. No entanto, também não hesita em dizer que está preparado para a enfrentar, como está igualmente preparado para assumir a responsabilidade de estar numa equipa como a americana.

A passagem pela Fundación Euskadi pode ser curta, contudo, está a ser essencial para que possa estar em condição de surgir forte mal vista o equipamento da EF Education First. "Há que ganhar experiência aqui nesta equipa para estar preparado para as corridas do World Tour. Estas últimas provas que vou fazer aqui são para ganhar ritmo e preparar bem a temporada na EF Education First", salientou ao Volta ao Ciclismo.

Acrescentou como o cedência por meia época à formação espanhola de Mikel Landa, o ciclista da Movistar, "está a ser muito boa" para a sua adaptação à realidade europeia. Apesar de pela Manzana Postobón ter feito algumas corridas na Europa, inclusivamente em Portugal, estar na Fundación Euskadi permitiu-lhe ganhar outra experiência, como por exemplo, correr no Inverno europeu.


"Tenho muita experiência a correr na Europa e este ano ganhei mais confiança. Penso que estou preparado para enfrentar a responsabilidade que será estar na EF Education First"

As três épocas na Manzana Postobón e estes últimos meses na equipa espanhola foram a escola que precisava para dar o desejado passo para o nível máximo do ciclismo: "Creio que estou preparado. Tenho muita experiência a correr na Europa e este ano ganhei mais confiança, mais do que tinha em anos anteriores. Penso que estou preparado para enfrentar a responsabilidade que será estar na EF Education First."

Aos 21 anos, o pequeno Higuita (1,63 metros) quer seguir os passos dos ciclistas que colocaram a Colômbia como uma potência do ciclismo e que parecem estar cada vez mais perto de conquistar uma grande volta. Egan Bernal, Iván Ramiro Sosa (ambos da Sky) e o seu futuro companheiro Daniel Martínez são três das suas referências, visto também serem dos ciclistas mais jovens. Mas antes, Nairo Quintana (Movistar) e Rigoberto Uran (EF Education First) foram dos primeiros das recentes gerações a mostrarem-se, sem esquecer um Miguel Ángel López (Astana) a confirmar cada vez mais todo o seu talento, isto para falar de homens para a montanha, como é Higuita.


Higuita venceu a quarta etapa da Volta ao Alentejo
(Fotografia: © Podium/Paulo Maria)
Será que a Colômbia vai dominar o ciclismo? "Esperemos que sim", disse, deixando escapar um grande sorriso. "A Colômbia pode ser no ciclismo o que a Argentina é no futebol. Há muitos ciclistas jovens, muito fortes, como Bernal, Dani [Martínez], Sosa e mais que estão a surgir. É muito bom", afirmou.

E Higuita pode ser um desses novos talentos a emergir. Luis Fernando Saldarriaga acreditou que estava perante mais um potencial grande corredor. É um nome incontornável do ciclismo colombiano, tendo trabalhado com Quintana, Johan Esteban Chaves (Mitchelton-Scott), Jarlinson Pantano (Trek-Segafredo) e os Henao, Sergio (UAE Team Emirates) e Sebastián (Sky).

"Foi muito importante trabalhar com ele. É uma pessoa muito profissional. Ele sabe como respeitar os processos [de evolução] muito bem, sem dar saltos. Ele faz tudo bem e passa-nos os conhecimentos, as tácticas. É excelente para amadurecer e poder chegar aqui a uma equipa europeia com os conhecimentos que nos ajudam a chegar ao World Tour", explicou Higuita.

Foi em 2012 que Saldarriaga ficou convencido com Higuita, não só pelas suas características como ciclista, mas também como pessoa. Na Volta do Futuro colombiana, Higuita cedeu uma roda a um companheiro, renunciando assim a qualquer pretensão pessoal a uma vitória. No dia seguinte, a sua atitude foi em ajudar os colegas no que precisassem, inclusivamente em tratar-lhes das bicicletas.

Esta dedicação vem desde que fez a sua primeira corrida ainda como aluno da primária. Mesmo sem poder dedicar-se logo à modalidade, nunca desistiu. Com a subida ao World Tour na mira, na Fundación Euskadi tem estado a preparar esse passo e nada melhor do que andar já ao ritmo dos principais nomes da modalidade. Nas corridas espanholas, Challenge de Maiorca, Volta à Comunidade Valenciana, Ruta del Sol, Higuita somou resultados de top dez, com destaque para um segundo lugar numa etapa desta última corrida, atrás de Simon Yates (Mitchelton-Scott), sem esquecer a vitória na classificação da juventude na prova valenciana.

"Comecei muito bem a época. Era o que queria. Estar a discutir as corridas com os ciclistas do World Tour é emocionante para mim", admitiu. Nas semanas recentes baixou um pouco o seu ritmo, para depois subir novamente a forma quando chegar à Califórnia (de 12 a 18 de Maio). Ainda assim estava suficientemente bem para ganhar uma etapa na Volta ao Alentejo, em Portalegre, tendo sido quinto na geral. "Não podia andar sempre tão forte. Quero é estar muito forte na Califórnia, a primeira corrida pela EF Education First. Quero ir com muita ambição", realçou, tendo como exemplo as recentes prestações nesta corrida de Martínez e Bernal. Ou seja, o terceiro classificado e o vencedor de 2018.


"O Ricardo Vilela é uma pessoa muita tranquila, que nos passou a cultura portuguesa e a sua experiência. É uma pessoa por quem tenho muito carinho e, por causa dele, tenho também muito carinho por Portugal"

Martínez já vai passando alguns conhecimentos, pois Higuita tem treinado com o futuro companheiro. "Não falamos muito na bicicleta. Vamos sempre muito rápido", brincou. Porém, afirmou como o compatriota vai-lhe passando alguma da sua experiência, apesar de também ele ser jovem, 22 anos, tendo conquistado a sua primeira grande vitória recentemente no Paris-Nice, ao vencer a etapa no Col de Turini.

Na recta final da sua presença na Fundación Euskadi, Higuita deixa elogios ao que diz ser uma família, com directores que lhes transmitem muita experiência, além de um Mikel Landa que também é uma figura importante para os jovens ciclistas da equipa. "O Mikel Landa dá-nos muita motivação e queremos sempre aprender com ele. É uma equipa que pode pensar muito no futuro. O Mikel quer hajam mais ciclistas como ele."

Mas há outro corredor que Higuita elogia, um companheiro português dos tempos da Manzana Postobón. "O Ricardo Vilela é uma pessoa muita tranquila, que nos passou a cultura portuguesa e a sua experiência. É muito profissional. Orientava-nos nas corridas. É uma pessoa por quem tenho muito carinho e, por causa dele, tenho também muito carinho por Portugal", referiu.

Sergio Higuita está com os olhos postos num futuro cada vez mais próximo do World Tour. Mas os olhos também estarão nele, mais um colombiano a prometer: "Agora os olhos do mundo estão nos colombianos. Estão a disputar as grandes corridas. Mas isso também nos dá muita ilusão, pois há muitos jovens na Colômbia que têm o sonho de chegar aqui." Higuita concretizou o seu, mas tem mais por realizar, como ganhar uma grande volta, clássicas... 

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