6 de abril de 2019

A Volta a Flandres de dois estreantes de quem tudo se espera

(Fotografia: Facebook Volta a Flandres)
Um tem 24 anos, outro 38. Um acabou de conquistar a sua primeira vitória numa corrida World Tour, outro tem mais de meia centena, só deste nível e veste a camisola de campeão do mundo, algo que o primeiro por acaso também tem, mas de ciclocrosse. Mathieu van der Poel e Alejandro Valverde tornaram-se nos dois grandes destaques de uma Volta a Flandres que, por si só, é um enorme destaque na temporada. É uma corrida vista muitas vezes como o monumento dos monumentos e o certo que nos muros da Flandres, em 102 edições, construíram-se lendas, destruíram-se sonhos e muita da história do ciclismo passa por esta corrida.

Até é algo estranho não começar um texto por Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) quando se fala de Volta a Flandres. Afinal, nos últimos anos, as atenções centraram-se inevitavelmente nele. Ganhasse ou não. Fê-lo em 2016, quando se pensou "finalmente". Não, Sagan não surge o topo das preferências, o que não significa que não seja favorito. Os problemas de saúde (de estômago) que o afectaram antes do Tirreno-Adriatico e que o obrigaram a ficar algum tempo sem treinar, deixaram Sagan aquém da forma que normalmente apresenta nesta altura. Ainda assim, anda a discutir corridas, mas falta-lhe aquela força final. Ainda assim, numa corrida feita por eliminação, Sagan não pode ser menosprezado.

Mas o eslovaco até estará algo satisfeito, pois terá mais ciclistas que os rivais serão obrigados a estar atentos. Claro que todos se perguntam o que poderá Alejandro Valverde (Movistar) fazer. Esperou pela fase final da carreira para se estrear neste monumento. No entanto, tem dado conta de si no pavé e já se sabe que rampas é com ele. Como Sagan, tem andado afastado das vitórias, mas como Sagan, pode aparecer a qualquer momento. É Valverde um favorito? Sim. A sua leitura de corrida, a ponta final e a muita experiência, mesmo que menor neste tipo de corridas, poderão levar o "Bala" a fazer um pouco de história: nunca nenhum espanhol ganhou a Volta a Flandres.

Contudo, mais favorito é o outro estreante. Mathieu van der Poel é o nome do momento. Venceu na quarta-feira a Através da Flandres numa tremenda exibição e tanto ele como a sua equipa, a Corendon-Circus, sabem que passou a ser um homem marcado. Ou ainda mais marcado. Este holandês já não estava a passar despercebido e o rei do ciclocrosse limitou-se a confirmar o que se esperava dele. Tem do seu lado o facto da pressão não ser dele. É apenas o primeiro ano a este nível e tem mais do que tempo para cumprir o seu destino na Volta a Flandres. Mas lá que na Holanda se alimenta o sonho de o ver ganhar, lá isso se alimenta. Isto um ano depois de Niki Terpstra ter quebrado o longo jejum para os holandeses. A última vitória havia sido em 1986 por Adrie van der Poel. O nome não é coincidência, é mesmo o pai de Mathieu!

Outro homem do ciclocrosse, que foi afastado do trono mundial este ano por Van der Poel, Wout van Aert está bastante contente por ser um dos favoritos, naquela que será apenas a sua segunda participação na Volta a Flandres. Porém, a pressão é bem maior, comparativamente com o seu rival holandês. O belga está agora na Jumbo-Visma e tem alcançado resultados positivos. Mas foi contratado para ganhar. Tem apenas 24 anos e também com tempo para confirmar todas as expectativas. Só que o seu salto para o World Tour dá-lhe uma maior responsabilidade. Mas para quem diz que a Volta a Flandres é menos stressante do que o ciclocrosse, só se pode esperar que vá andar ao ataque, ao seu estilo. A dar espectáculo, portanto.

E quem escolher da Deceuninck-QuickStep? Os adversários adorariam saber, mas qualquer um pode ganhar, mesmo um Tim Declercq, Iljo Keisse ou Kasper Asgreen, que estarão mais preocupados em trabalhar, mas se surgir a oportunidade... Contudo, é normal que as apostas estejam mais entre Philippe Gilbert (vencedor há dois anos), Yves Lampaert, Zdenek Stybar e Bob Jungels.

Greg van Avermaet e a sua CCC pouco têm convencido, mas o belga ainda não desistiu de conquistar a corrida da sua vida. O mesmo acontece para Sep Vanmarcke (EF Education First), mas falta perceber como estará a sua forma após lesão. Oliver Naesen (AG2R) diz que ficou doente depois de levar com champanhe no rosto no pódio da Gent-Wevelgem, mas estará à partida em Antuérpia. Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) recuperou estatuto após a vitória nessa corrida, Tiesj Benoot (Lotto Soudal) é sempre um forte candidato, assim como um Matteo Trentin (Mitchelton-Scott) que está bem melhor do que há um ano. John Degenkolb também tem mostrado melhorias, mas será desta que o colega da Trek-Segafredo, Jasper Stuyven, ganha o seu monumento?

Candidatos não faltam e aqui fica a lista de inscritos, via ProCyclingStats.

Algumas curiosidades

  • Desde Fabian Cancellara que ninguém ganha mais do que uma vez a Volta a Flandres. O suíço até tem três vitórias, a última em 2014. Kristoff, Sagan, Gilbert e Terpstra são os únicos que poderão conquistar um segundo triunfo. Mas há um que pode repetir pela terceira vez...
  • Stijn Devolder continua a competir aos 39 anos. Está na Corendon-Circus, ao lado de Van der Poel, mas numa corrida como esta, tudo pode acontecer. É improvável, mas este belga tem duas Voltas a Flandres, tendo ganho em 2008 e 2009.
  • Além de Cancellara, Johan Museeuw, Tom Boonen, Eric Leman, Fiorenzo Magni e Achiel Buysse venceram a Volta a Flandres por três ocasiões. Ninguém tem quatro vitórias.
  • Nenhum português esteve no pódio da Volta a Flandres e este ponto serve para lançar Nelson Oliveira. O ciclista da Movistar será o único luso na corrida, sendo a quinta participação numa corrida que muito gosta. Ao contrário do Paris-Roubaix, a Flandres tem sido mais simpática para Oliveira, somando dois tops 20. Um furo estragou-lhe a Através da Flandres, onde andou na frente da prova, mas mostrou como está num bom momento de forma. De destacar também a presença de Daniela Reis (Doltcini-Van Eyck Sport) na corrida feminina, que partirá antes da masculina.
  • Quanto ao percurso de 270,1 quilómetros entre Antuérpia e Oudenaarde, a principal diferença é a saída de Pottelberg, o que faz com que haja menos uma subida. Serão 17 para o espectáculo. Os primeiros 80 quilómetros serão um bom aquecimento, até ao aparecimento das primeiras dificuldades. Contudo, será já perto dos 120 que as decisões vão começar a ser tomadas, quando os ciclistas cumprirem a primeira das três passagens pelo Oude Kwaremont. São 2,2 quilómetros e a pendente média é de apenas 4%, mas chega a rondar os 11% de máxima. O Kapelmuur surge antes dos 170 quilómetros e nos 750 metros chega-se a subir a 20%! Já dentro dos 60 quilómetros finais haverá uma sequência final assombrosa, a começar no Oude Kwaremont, que volta a ser passado já perto da meta, antes do Paterberg. 360 metros infernais de pavé, com rampas de 20% e basicamente sempre acima dos 10%!
  • A chuva poderá marcar presença durante a corrida, ainda que o vento não deverá causar problemas de maior. Há alguma previsão para precipitação até para o final da corrida, mas mesmo que não aconteça, tem chovido naquela zona, pelo que atenção aos sectores de pavé.

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