27 de abril de 2019

Alaphilippe um vencedor anunciado? Há candidatos para o contrariar no regresso ao formato clássico do monumento

(Fotografia: Facebook Deceuninck-QuickStep)
Alaphilippe, Alaphilippe, Alaphilippe. É o nome que mais se pronuncia na aproximação à Liège-Bastogne-Liège, o quarto monumento do ano. Numa edição, a 105ª, em que a corrida regressa ao "formato clássico", para citar Miguel Indurain, Julian Alaphilippe é o primeiro a dizer que gosta das mudanças e do final, que passa a ser em plano. Há 27 anos que Ans era o local da meta, mas agora que a decisão está de volta a Liège, fazendo jus ao nome da corrida, o ciclista da Deceuninck-QuickStep é o maior dos favoritos para quebrar uma espera ainda maior: desde 1980 que um francês não vence o monumento belga, com Bernard Hinault a ter sido o último.

De vitórias anunciadas não vive o desporto e Alaphilippe sabe que não terá missão fácil, mesmo depois de se ter afirmado como o novo rei do Muro de Huy, na Flèche Wallonne. É o ciclista do momento, só batido por um fenomenal Mathieu van der Poel (Corendon-Circus), que não estará presente. Está numa Deceuninck-QuickStep rainha das clássicas, mas na Liège, poderá encontrar uma maior concorrência do que na Flèche Wallonne em que confirmou todas as expectativas.

É que o novo percurso parece agradar a muitos dos ciclistas que apostam forte na clássica. Subir o Côte de Saint Nicolas e depois pedalar uns cinco quilómetros até à meta, em ligeira ascensão era o final em Ans. Agora será o Côte de la Roche-aux-Faucons a última oportunidade para fazer diferenças a subir, com cerca de 15 quilómetros ainda por percorrer até à meta, os últimos serão planos.

Apesar de continuar a ter muitas subidas - nove só nos derradeiros 100 dos 255,5 quilómetros - esta fase final atraiu ciclistas como Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), que entretanto e perante a fraca época de clássicas, optou por adiar a estreia na Liège. Era um dos grandes pontos de interesse, mas está a ser um 2019 para esquecer para o eslovaco. No sentido contrário está Greg van Avermaet (CCC). Não era suposto competir no monumento, mas como também ele está a ter uma fase de clássicas muito abaixo do esperado, vai tentar salvar algo da temporada na Liège.

Max Schachmann, um dos homens do momento da Bora-Hansgrohe ou um Michal Kwiatkowski que confessou há muito esperava pela Liège, sendo um objectivo para o polaco são candidatos fortes. Adam Yates (Mitchelton-Scott) tem uma relação difícil com as Ardenas, mas se fizer as pazes, é um ciclista em forma, tal como Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), que realizou uma boa Volta aos Alpes, apesar de ter sido batido pela juventude da Sky.

Daniel Martin, um dos quatro vencedores da Liège na corrida de 2019 - Bob Jungels poderia ser o quinto mas abdicou das Ardenas esta temporada -, afastou qualquer hipótese de lutar por uma vitória, devido a um vírus que diz que o está a afectar desde a Volta ao País Basco. Vai apoiar Diego Ulissi, terceiro na Flèche Wallonne, com a UAE Team Emirates a ter ainda o português Rui Costa.

Michael Woods (EF Education First), Roman Kreuziger (Dimension Data) - dependendo do estado em que está depois da queda na Flèche Wallonne -, Guillaume Martin (Wanty-Groupe Gobert), Romain Bardet (AG2R) e Tim Wellens são nomes a ter em conta, ainda que na Lotto Soudal há ainda que destacar um dos seus jovens talentos. Bjorg Lambrecht está a confirmar todo o seu potencial nas últimas corridas e há que não o perder de vista. Foi quarto na Flèche Wallonne, sexto na Amstel Gold Race e quinto na De Brabantse Pijl-La Flèche Brabançonne. Antes, na Volta à Catalunha e ao País Basco, também esteve a bom nível.

Valverde e um recorde ali tão perto

O espanhol da Movistar não é tão favorito como em anos anteriores. Ninguém se atreve a dizer que não estará na discussão, mas entre a fraca forma de Alejandro Valverde e a mudança de percurso, não será fácil igualar os recordes de Eddy Merckx. Está a uma vitória de somar dez na semana das Ardenas, tal como o belga tem, e também a uma de igualar as cinco na Liège-Bastogne-Liège, sendo o Canibal quem mais vezes conquistou este monumento.

Valverde não se mostra pessimista, mas não tem um discurso a transbordar confiança. Contou que na Flèche Wallonne engoliu uma abelha, tendo sido picado, o que o preocupou durante uns quilómetros, ainda que tenha afastado o incidente como razão para não estar na discussão no Muro de Huy com Alaphilippe e Fuglsang. Celebrou 39 anos na quinta-feira, contudo, será preciso um Valverde ao nível de anos recentes para fazer história na Liège. E esse versão do ciclista não parece querer aparecer em 2019.

Fuglsang a querer subir mais um lugar

Terceiro na Amstel Gold Race, segundo na Flèche Wallonne, só falta um lugar no pódio ao dinamarquês da Astana na semana das Ardenas. E as duas corridas nem era as que melhor assentavam ao ciclista. Já a Liège sim, pode não ser perfeita, mas tem tudo para ser a corrida em que Fuglsang fecha em grande a sua melhor temporada de clássicas.

Diz que se sente "super" e não afasta a hipótese de atacar de longe, pois aquele final em plano é a parte do percurso que pode ser preocupante para Fuglsang se tiver a companhia de Alaphilippe, por exemplo. O francês bateu o dinarmarquês na Flèche Wallonne e na Strade Bianche.

Se passarem as subidas, Greg van Avermaet, Michael Matthews (Sunweb) e Simon Clarke (EF Education First) são três homens que não se importarão de discutir um sprint.

O outro português em prova, além de Rui Costa, será José Gonçalves (Katusha-Alpecin).

Lista completa de inscritos neste link, via ProCyclingStats.

Mais pormenores do percurso

De destacar o regresso dos Côte de Wanne, Côte de Stockeu e Côte de la Haut-Levée, um trio de subidas ausente há três edições e que deverá começar a fazer uma maior selecção de candidatos. O Côte de la Redoute é sempre um dos momentos mais esperados, mas antes da subida final de Roche-aux-Faucons, há mais um regresso: o Côte des Forges, ausente do percurso desde 2014.

Bob Jungels foi o vencedor de 2018, mas este ano apostou mais nas clássicas do pavé, abdicando das Ardenas, estando já a pensar no Giro. Wout Poels (Sky) é o outro dos vencedores (2016) no activo e o holandês estará ao lado de Kwiatkowski, com Philippe Gilbert (2011) a ser outra hipótese da Deceuninck-QuickStep além de Alaphilippe. O primeiro já ganhou o Paris-Roubaix este ano, o segundo a Milano-Sanremo, o que significa que a que monumentos diz respeito, só faltou a Volta a Flandres para a formação belga.

A La Doyenne, ou a Velha Senhora - é a clássica mais antiga - espera para ver se o francês confirma o que há muito se espera dele, ganhar a Liège-Bastogne-Liège, ou se alguém tem capacidade para mostrar como não há vencedores anunciados.

A corrida deste domingo tem transmissão no Eurosport, a partir das 13:00.

(Gráfico: La Flamme Rouge)


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