16 de abril de 2019

Sobreviver ao Paris-Roubaix incólume não é fácil. Que o diga Benoot, Keisse, Vanmarcke, Kristoff...

(Fotografia: © Gruber Images/Paris-Roubaix)
No rescaldo do Paris-Roubaix, entre quedas, choques, furos e falhas mecânicas, a corrida ficou estragada para vários ciclistas por incidentes que acontecem em qualquer prova de ciclismo, é certo, mas nesta, é quase mais provável que aconteça alguma coisa, do que um corredor sair completamente incólume dos mais de 250 quilómetros deste Inferno do Norte. Não é à toa que é assim conhecido este monumento. Que o diga Tiesj Benoot. No seu caso, foi algo mais inesperado que aconteceu, terminando não só com a sua corrida, mas com a época de clássicas. O acidentado Wout van Aert (saída de estrada, troca de bicicleta, queda e depois ficar sem forças para seguir com o grupo da frente) foi acompanhado quase todo o tempo na transmissão televisiva, mas houve pormenores com outros ciclistas - falta de energia e de atenção incluídos - que só mais tarde se percebeu o que aconteceu.

Tiesj Benoot (Lotto Soudal) foi visto a tentar recuperar terreno, numa altura em que a câmara acompanhava um Wout van Aert (Jumbo-Visma) a mostrar toda a sua mestria na bicicleta, a passar entre carros para tentar retomar o grupo da frente, depois de ter descolado após uma saída de "estrada" (leia-se pavé) na Trouée d'Arenberg (Floresta de Arenberg). Pensou-se que Benoot até poderia ser um bom aliado para o compatriota apesar de serem de equipa rivais. Porém, Benoot desapareceu das imagens. Mais tarde viu-se que um carro da Jumbo-Visma tinha o vidro traseiro completamente quebrado (imagem em baixo). Foi Benoot que chocou com muita violência contra o veículo.

(Imagem: print screen)
"Numa certa altura, o carro da Jumbo-Visma que estava à minha frente, de repente, fechou tudo [espaço]. Não consegui responder e fui direito a ele. O vidro partiu-se completamente. Um motociclista que vinha atrás de mim, tentou desviar-se de mim e acabou por cair por cima de mim. Quando estava no chão, estava com muitas dores em todo o lado", explicou Benoot ao Het Nieuwsblad.

Resultado: clavícula partida e falhará a Amstel Gold Race, que deveria ser a sua última clássica antes de uma paragem para recuperar forças e pensar na segunda metade da temporada, que terá a Volta a França como ponto alto.

Quem também não ficou nada bem tratado foi Iljo Keisse. O belga da Deceuninck-QuickStep foi contra um poste de sinalização numa ilha de tráfego. Keisse explicou que não viu aquela divisão, pois estava tapado pelo ciclista que ia à sua frente e que se desviou no último instante. Keisse já não conseguiu fazer o mesmo. As dores eram muitas e com razão. Keisse fracturou o cotovelo e teve de ser operado. Nos próximos dez dias terá um gesso no braço.

Entre os problemas mecânicos e furos, Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) é capaz de ter ganho o prémio do mais azarado. Com três furos é impossível fazer algo de bom no Paris-Roubaix e ficou novamente bem claro como a escolha errada de equipamento pode fazer toda a diferença. Com os 29 sectores de pavé, alguns extremamente agressivos, todos os pormenores contam e Kristoff admitiu que escolheu mal as rodas e os pneus: tubeless (sem câmara de ar).

"Eu sabia que era um risco, mas estas rodas eram mesmo boas. Tive sucesso com elas nas últimas semanas [ganhou a Gent-Wevelgem e foi terceiro na Volta a Flandres] e sentia-me bem hoje [domingo] até furar. Não vou tentar de novo no próximo ano [com este equipamento]", disse Kristoff ao Cycling News, referindo-se à escolha de rodas que levam pneus tubeless. Ao fim de três furos, regressou ao sistema normal e terminou a corrida, mas a mais de 14 minutos do vencedor Philippe Gilbert.

Talvez ainda mais desiludido tenha ficado Sep Vanmarcke. O ciclista da EF Education First nem surgia como grande favorito dada a lesão no joelho que o afectou nas semanas anteriores, após uma queda. Porém, o belga apareceu em grande forma, mas com este ciclista não há nada a fazer, acontece sempre alguma coisa que o afasta de potenciais vitórias.

Quando Nils Politt (Katusha-Alpecin) atacou, levando com ele Philippe Gilbert (Deceuninck-QuickStep), Vanmarcke desesperava apontando para a sua bicicleta. No momento crucial da corrida não conseguiu mexer as mudanças, ficando preso numa que o obrigou a um enorme esforço. "Nunca me teriam deixado para trás", garantiu o ciclista, que afirmou que se estava a sentir muito bem fisicamente. A passar um dos sectores de pavé mais importantes, o Carrefour de l'Arbre, Vanmarcke ou parava ou tentava continuar até que finalmente pudesse contar com o apoio do carro da equipa que estava mais atrás.

O apoio no Paris-Roubaix é um autêntico inferno e Vanmarcke admitiu que o tempo em que teve de pedalar naquelas condições acabou por esgotar as suas forças. "Teria sido melhor ter ficado em casa no sofá. Assim não estaria tão desiludido como estou agora", afirmou, depois de cortar a meta no quarto lugar.

Para terminar temos Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) e vencedor do Paris-Roubaix em 2018 e Greg van Avermaet (CCC), vencedor em 2017. O primeiro repetiu a história da Volta a Flandres e Milano-Sanremo. Está tudo a correr relativamente bem, até parecia estar no seu melhor esta época, mas quando se deu o ataque final: "Faltou-me alguma energia no final."

Se ao eslovaco faltou energia a Avermaet faltou atenção. O belga ficou fora da discussão no ataque feito a cerca de 50 quilómetros da meta e que permitiu formar o grupo de seis ciclistas que seguiu até perto do fim. "Não estava bem acordado quando aqueles seis homens escaparam e a minha corrida ficou praticamente terminada", admitiu Cycling News, acrescentando que não estava bem colocado, estando demasiado atrás no grupo, o que lhe tirou qualquer possibilidade de acompanhar os ciclistas que ficaram na frente.

Para o ano, há mais. Mas  aqui ficam estas imagens espectaculares da perspectiva de quem vai nesta fantástica corrida e que ajudam a perceber como é difícil fazer um Paris-Roubaix sem sofrer qualquer contratempo.


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