16 de março de 2019

Sonhou jogar no Barcelona mas o "Mini-Rigo" escolheu o ciclismo com um empurrãozinho da mãe

(Fotografia: © EF Education First)
Ainda não tinha o mediatismo de compatriotas como Egan Bernal ou Iván Ramiro Sosa, mas não significa que andasse a passar despercebido. Daniel Martínez já tinha demonstrado que também ele é mais um colombiano de grande talento e o "protegido" de Rigoberto Uran conquistou finalmente aquela que deverá ser a primeira de grandes vitórias. O menino que sofreu de excesso de peso e que quando começou a praticar desporto sonhou em vestir a camisola do Barcelona, rendeu-se às bicicletas e aos 22 anos é mais um ciclista de uma geração que tem tudo para ser de ouro.

Ser campeão nacional de contra-relógio já tinha sido uma conquista importante esta época, a sua primeira em elite. Mas foi num dos grandes palcos do ciclismo mundial que demonstrou porque tem sido apontado como o próximo colombiano a conquistar a ribalta. Na etapa rainha do Paris-Nice, Martínez foi exemplar, batendo inequivocamente um Miguel Ángel López (Astana), que acabou sentado naquele potente derradeiro e decisivo ataque. Simon Yates (Mitchelton-Scott) nem teve tempo para nada. Estava a encostar no duo da frente, quando Martínez arrancou nuns metros finais feitos quase em fúria, sem olhar para trás, sprintando após uma subida de 15 quilómetros, o Col de Turini, que deixou tantos corredores a sofrer (que o diga Michal Kwiatkowski, da Sky, que perdeu a camisola amarela).

É o princípio de uma nova fase da carreira. Martínez começa a ter margem de manobra para se afirmar a outro nível, com outro estatuto. A EF Education First perdeu Rigoberto Uran no Paris-Nice devido a uma queda. O líder partiu a clavícula. O vento intenso já tinha arruinado as hipóteses de Martínez de ir além de uma eventual vitória de etapa, mas valeu a pena esperar por um excelente momento de ciclismo, como foi o deste sábado. Recentemente a equipa americana renovou com Michael Woods até 2021. Martínez poderá ser o próximo, já que está em final de contrato, contudo, estará a aguçar o interesse de outras formações.

A caminhada rumo à afirmação no ciclismo começou com um incentivo da mãe. Em criança, Martínez, natural de Soacha (a cerca de 30 quilómetros de Bogotá), tinha excesso de peso e não ligava muito ao desporto. Devido a uma infecção que o levou a estar internado no hospital, Martínez perdeu vários quilos e foi aconselhado a praticar mais desporto, segundo conta o site L'Etapa Reina. Escolheu o futebol. "O meu sonho era jogar no Barcelona. Mas andava melhor de bicicleta do que chutava uma bola", admitiu numa entrevista publicada no site da sua equipa, a EF Education First.

A mãe preferia que Martínez escolhesse o ciclismo em detrimento do futebol e foram os pais que ajudaram o colombiano a ter um equipamento melhor do que uma velha bicicleta que tinha começado por arranjar. Aos 14 anos aplicou-se mais e seguiu as pedaladas do irmão ao entrar em provas regionais. A pista fez igualmente parte da sua formação e a sua primeira vitória de destaque foi no contra-relógio nos Jogos Pan-Americanos. Estávamos em 2013 e, em Setembro, representou a selecção nos Mundiais de Florença, de boa memória para Portugal e Rui Costa! Foi 15º na corrida de juniores, ganha por um agora senhor do ciclocrosse Mathieu van der Poel, com Mads Pedersen, da Trek-Segafredo, a ser segundo.

O salto para a Team Colombia em 2015 foi o que precisava, apesar de ter sido o último ano da equipa. O destaque foi para a conquista da classificação da montanha na Route du Sud, mas as boas prestações alargaram-se a várias corridas, tanto pela equipa, como pela selecção. A Wilier-Southeast abriu-lhe as portas da Europa e das grandes voltas, estreando-se no Giro. Não demorou muito a começar a chamar a atenção do World Tour, tendo adaptado-se muito bem à nova realidade. Foi a EF Education-First que o contratou na época passada, com o director Jonathan Vaughters a chamar-lhe de "Mini-Rigo".

Quando se falou mais no colombiano, logo em Março, não foi pelas razões que desejaria. Ao treinar em Itália, foi agredido por um condutor e chegou a ficar inconsciente. Não se deixou abater.  Pouco antes tinha terminado em sétimo na Volta à Catalunha, foi depois 12º na Romandia e terceiro na Volta à Califórnia. A equipa elegeu-o para ser um dos homens de confiança do compatriota Rigoberto Uran. O líder abandonou, com Martínez a ficar um pouco mais livre num ganho de experiência que lhe poderá ser útil quando surgir a oportunidade por que tanto espera: "Quero um dia estar na luta por uma vitória nas grandes corridas desta modalidade."

Martínez chegou a ser gregário de Bernal (Sky) quando ambos estavam na selecção, em em provas como o Tour de l'Avenir. Agora constrói o seu próprio caminho rumo ao papel de destaque numa equipa World Tour. E no dia em que venceu no Paris-Nice, partilhou a ribalta precisamente com o compatriota, pois Bernal assumiu a liderança da corrida e tem apenas de ultrapassar mais uma etapa para garantir mais uma conquista. Tem 45 segundos sobre Philippe Gilbert (Deuceninck-QuickStep) e 46 sobre Nairo Quintana (Movistar), um colombiano que vai vendo a nova geração tomar de assalto o ciclismo mundial.


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