1 de novembro de 2018

Alexander Kristoff, o preterido

(Fotografia: © PhotoFizza/UAE Team Emirates)
Na Katusha tornou-se num ciclista com dois monumentos no currículo, mais duas etapas na Volta a França, além de muitos outros bons triunfos. 2014 e 2015 foram anos fenomenais para Alexander Kristoff. No entanto, quando não conseguiu manter o nível tão elevado, a equipa foi buscar Marcel Kittel. O norueguês considerou que ainda não estava na altura de se tornar num homem de trabalho e encontrou na UAE Team Emirates o espaço para continuar a ser líder. Pode não ter sido uma época brilhante, mas cinco das 12 vitórias da formação árabe são dele, uma delas no sprint mais desejado do ano: nos Campos Elísios, na derradeira etapa da Volta a França. A UAE Team Emirates quer mais. Muito mais. E assim, continua a abrir os cordões à bolsa e convenceu Fernando Gaviria a quebrar contrato com a Quick-Step Floors. Kristoff foi novamente preterido e vê-se forçado a pensar no que quer para o seu futuro próximo.

Tem 31 anos e acredita que pode continuar a ser um líder, ainda que vá enfrentando a possibilidade de ser afastado desse estatuto. A contratação de Gaviria apanhou-o de surpresa, mas, acima de tudo, Kristoff quer ser profissional, mesmo que isso signifique ter de trabalhar para o colombiano. "Há sempre novos ciclistas fortes, por isso, às vezes, tens de te afastar e passar a ser um homem de trabalho nos sprints. Não tenho certeza se estou preparado para isso, mas se a equipa me mandar ao Tour, gostaria de fazer o melhor possível. Não melhoras o teu valor de mercado se fizeres um mau trabalho", salientou Kristoff, ao site Procycling.no.

A equipa esteve recentemente reunida no Dubai, num encontro que serviu para os novos ciclistas se ambientarem à equipa. Fernando Gaviria foi, naturalmente, o destaque, não esquecendo que a UAE Team Emirates irá contar com os gémeos Oliveira nas próximas duas temporadas. Ainda não foi o momento para começar a definir as épocas de cada um dos corredores, pelo que Kristoff terá de aguardar por Dezembro, quando se realizar o estágio. "Há normalmente dois programas, o segundo inclui o Giro e a Vuelta, mas não o Tour. Vamos ver o que a equipa quer", explicou.

O norueguês referiu que a Volta a França é o principal objectivo da equipa, mas com apenas oito lugares disponíveis e com Gaviria a ter o Tour no topo da sua lista, Kristoff vai-se preparando para enfrentar o inevitável: "Não sei se alguém na equipa poderá ajudar mais o Gaviria do que eu, mas eu prefiro correr tendo as minhas oportunidades."

Kristoff recordou como a iminente chegada de Kittel à Katusha fez com que tentasse procurar uma solução para não ficar na sombra do alemão, ele que saiu da Quick-Step Floors com receio de ser ofuscado por Gaviria. O norueguês teve um 2017 muito complicado, chegando ao ponto de ser acusado de estar com peso a mais. O título europeu foi um ponto alto, mas não só é uma corrida longe de ser vista como um grande triunfo, como contou com um pelotão no qual não estiveram presentes quase nenhum dos principais sprinters. Aquele segundo lugar nos Mundiais teve tanto de honroso, como de frustrante. É difícil não pensar como teria sido se Kristoff tivesse vestido a camisola do arco-íris. De "ses" não se fazem os factos e ganhar a Prudential RideLondon-Surrey e a Eschborn-Frankfurt, não foi suficiente para convencer uma Katusha que queria muito mais. Tal como acontece agora com a UAE Team Emirates.

Kristoff rendeu bem mais e melhor do que Kittel este ano. Porém, Gaviria é o grande sprinter do momento. Ao norueguês talvez fique a possibilidade de liderar na Volta a Flandres (que venceu em 2015) e Paris-Roubaix, já que a experiência de Gaviria este ano no pavê não foi particularmente feliz. Na Milano-Sanremo - que Kristoff ganhou em 2014 - deverá ser o colombiano o preferido.

Ao contrário do que aconteceu na Katusha, Kristoff não pensa em sair da UAE Team Emirates, até admite continuar além de 2019, quando termina o seu actual contrato. "Gosto de estar aqui e sinto que a equipa está a evoluir na direcção certa", disse, admitindo que irá, contudo, analisar eventuais propostas que receba. "De momento, só me resta competir o melhor possível para ter mais poder negocial", realçou.

Kristoff não está disposto em desistir de ter mais algumas temporadas com destaque dentro de uma equipa, mas também já vai percebendo que o espaço é cada vez menor. Aos 24 anos, Gaviria é a figura do momento do sprint mundial, mas a UAE Team Emirates reforçou-se com outros jovens a pensar precisamente no sprint e nas clássicas que Kristoff mais gosta. Rui Oliveira (22 anos) tem demonstrado as suas características de sprinter, com Ivo a também saber bem o que fazer. A equipa foi buscar outro colombiano, Juan Sebastián Molano (23) que segue a escola colombiana de Gaviria nos sprints. Estava na Manzana Postobón. O belga Jasper Philipsen (20) - colega dos gémeos na Hagens Berman Axeon - é mais um corredor que pode ser incluído num sprint, ainda que as clássicas sejam o seu ponto forte.

A sucessão de Kristoff está em marcha, um ciclista que nunca foi aquele sprinter que se olhasse como dos mais rápidos, como um Marcel Kittel ou Mark Cavendish, sendo um mais poderoso, como um Peter Sagan, por exemplo, transformando essa força em grande vitórias. É essa virtude que lhe vale 71 vitórias. Contudo, o momento que conseguiu evitar há um ano, chega agora. O seu discurso é de um verdadeiro profissional, mas há que demonstrá-lo na estrada, lidando com todas as emoções de quem se vê preterido pelo segundo ano consecutivo.

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