Com tantas equipas a desaparecerem neste final de temporada, surge agora um plano para criar uma nova e logo de enorme ambição. Mas ainda será preciso esperar um pouco. Em 2020 o World Tour poderá contar com uma formação chinesa, que aponta ter um orçamento maior do que a Sky e colocar um chinês no topo do pódio da Volta a França em 2025. Mais do que uma nova equipa, esta é uma estrutura que pretende revolucionar o modelo de negócio do ciclismo, que ano após ano demonstra ser frágil para garantir a continuidade sem sobressaltos até de equipas importantes e ganhadoras como a Quick-Step Floors.
A ideia do Global Cycling Project (GCP) pertence a um empresário britânico, Tim Kay, que cresceu com ciclistas como Steve Cummings (Dimension Data). Kay explicou que ao ver como tantas equipas têm dificuldades para manter os seus projectos e com muitas a terminarem - este ano já são cinco - ou a terem de procurarem fusões com outras equipas para sobreviveram, era altura de criar um modelo de negócio que possa tornar mais sustentável a modalidade.
Como? Tim Kay não quer que o ciclismo se concentre apenas em atrair patrocinadores, mas sim investidores. Ou seja, através de projectos, como por exemplo, de hotéis dedicados a ciclistas ou centros desportivos, entre outras possibilidades, Kay quer atrair o investimento que possa ter retorno para quem o fizer. Uma parte desse dinheiro irá para a equipa do World Tour e também de desenvolvimento, que será dedicada aos ciclistas chineses. O restante dinheiro será a rentabilidade do investimento.
"A Sky funciona como uma empresa e estão a fazer as coisas bem, mas muitas [equipas] estão a funcionar sem estrutura, sem uma base e estratégia empresarial. Comecei a pensar como poderia trazer uma equipa para o World Tour e criar um modelo de negócio sustentável e com longevidade. Estou familiarizado com a China e como querem investir", disse Kay, numa entrevista ao Velonews.
O empresário quer mesmo potenciar o investimento envolvendo os próprios ciclistas e até outras equipas. Isto é, estas investem nos projectos - o hotel por exemplo - e com o retorno financeiro financiam as suas estruturas, podendo assim evitar estarem tão dependentes apenas de patrocínios.
Kay assegurou que esta é uma equipa que está mesmo a ser preparada e conta já com Brian Smith como director e também com Shane Sutton, que esteve na Sky e na federação britânica, estando actualmente a liderar o projecto de ciclismo de pista chinês.
O World Tour só teve um ciclista chinês em 2018: Meiyin Wang, da Bahrain-Merida. Kay realçou que quer que se estabeleça uma ponte entre a Europa e a China para que os ciclistas deste país possam também eles começar a serem mais procurados pelas grandes equipas. O empresário referiu que existem grandes talentos chineses, faltando agora saber quem será o eleito para tentar ganhar o Tour em 2025, o que seria uma estreia para a China.
Tim Kay disse que está a estabelecer contactos com vários potenciais investidores, mas coloca-se também a questão desportiva. Para que a equipa possa entrar no World Tour em 2020 terá de contratar vários ciclistas que tenham pontos suficientes para assegurar uma licença do primeiro escalão. É que será a partir dessa temporada que a UCI irá implementar novas regras. A redução de 18 para 15 equipas já não deverá acontecer, mas as licenças passarão a ter uma duração de três anos. Isto significa que se a GCP não conseguir uma nesse ano, terá de esperar até 2023, tendo assim de competir no escalão Profissional Continental.
No entanto, se as expectativas de ter um orçamento maior do que a Sky se confirmarem, que por agora ronda os 40 milhões de euros anuais, será de esperar que haja então dinheiro para contratar alguns nomes fortes. A Bahrain-Merida é o mais recente exemplo de quem chegou de novo e apostou nesse tipo de contratações estratégicas para garantir a licença que obteve em 2017, entrando assim directamente no World Tour.
Se este projecto de Kay de facto se realizar, então a China terá uma equipa ao mais alto nível depois de uma primeira tentativa falhada. No ano passado, com a Lampre a anunciar o final de uma longa relação com o ciclismo, a solução parecia passar por um investidor chinês. A TJ Sports até fez uma apresentação, com direito a mostrar camisolas, ainda antes da temporada terminar. Parecia estar tudo bem encaminhado, mas quando a equipa deveria começar a preparar a nova época, o dinheiro não apareceu.
Foi um contra-relógio intenso para encontrar um salvador que veio dos Emirados Árabes Unidos. Surgiu então a UAE Team Emirates no lugar da Lampre-Merida.
Tim Kay, um britânico, poderá então dar à China a sua primeira grande equipa de ciclismo. Sendo o objectivo não viver através de patrocínios, isto significará que o nome poderá não ser de uma empresa. Jingshen é uma hipótese, que na tradução feita para inglês significa Espírito.
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