21 de julho de 2017

O contra-relógio de relativa emoção

Faltam duas metas para cortar neste Tour (Fotografia: ASO/Bruno Bade)
"Tenho de correr para não perder a corrida e não para ganhar a etapa." A frase de Chris Froome demonstra bem como será encarado o contra-relógio deste sábado, a última oportunidade dos rivais em tirar ao britânico uma vitória praticamente anunciada. "Praticamente" porque há uma certa imprevisibilidade neste tipo de etapas. Por isso mesmo Froome irá jogar à defesa: "Vou correr igual ao contra-relógio de Düsseldorf, sem correr demasiados riscos, acelerando tudo quando posso e levantando o pé nas curvas." São 23 segundos para gerir para Romain Bardet e 29 para Rigoberto Uran. Sendo o britânico o mais forte no esforço individual deste trio e estando em vantagem, é natural que seja mais defensivo. Como é o último a partir, irá conseguir controlar o que os rivais vão fazendo, com a ajuda de quem estiver no carro, claro.

Pode parecer estranho que com diferenças tão curtas se tenha a sensação que a quarta vitória na Volta a França de Chris Froome seja uma inevitabilidade. Porém, mesmo com Rigoberto Uran a ser uma potencial ameaça, nestes momentos Froome não costuma falhar e tendo em conta que apareceu muito forte na terceira semana, será preciso acontecer a tal imprevisibilidade para que este contra-relógio ganhe de facto uma emoção que não seja relativa.

Resta-nos esperar para ver o que um muito motivado Romain Bardet possa fazer, ele que não está conformado em repetir um segundo lugar no Tour e prefere dar tudo por mais, mesmo que arrisque a ficar com menos. "Quero voar como um avião. Fiz um grande Tour e espero acabá-lo da melhor forma possível. Espero um combate leal, de homem a homem e que não tenha nada a lamentar", disse o francês da AG2R.

Já Rigoberto Uran estará satisfeito com o pódio e tem na mira mais o segundo lugar do que bater Chris Froome. Contudo, há uns dias deixou o aviso que o britânico tem muita razão em temê-lo. Se o colombiano da Cannondale-Drapac estiver em dia sim... Nunca se sabe o que poderá acontecer...

A emoção pode ser para já relativa, mas há sempre aquele nervoso miudinho, há sempre aquela ansiedade que tudo vai terminar. Com as diferenças tão curtas a serem tão raras nos últimos anos, pelo menos isso dá-nos de facto alguma emoção naquela que será a última etapa "a valer" do Tour, isto acreditando que será respeitada a tradição da derradeira ser de consagração para o camisola amarela.

O percurso e o fato "maravilha"

Com partida e chegada no estádio do Olympique de Marseille, serão 22,5 quilómetros para decidir um Tour marcado por maratonas de 200 em muitas etapas. A última vez que uma tirada da Volta a França terminou neste estádio foi há 50 anos, um dia antes da trágica morte de Tom Simpson no Mont Ventoux. A etapa terá uma dificuldade já perto do final, algo que assenta bem a Froome e Uran. Bardet tem o contra-relógio como ponto fraco. Mas é o tudo ou nada. Senão, terá de esperar um ano para voltar a tentar tornar-se o primeiro francês a ganhar o Tour desde 1985.


Uma outra expectativa para este contra-relógio era se a Sky iria utilizar os fatos que alegadamente valem segundos. É a tecnologia ao serviço do vestuário e que deixou algumas equipas descontentes, chegando mesmo a serem feitos protestos depois da primeira etapa em Düsseldorf. Os ciclistas da equipa britânica vão voltar a usar os ditos fatos que têm uns reforços na zona dos ombros e braços e que se diz ajudarem na aerodinâmica. Todos o terão menos Chris Froome. O líder do Tour afirmou que não tem qualquer problema em vestir o fato amarelo que for dado pela organização. Pelo menos quanto a Froome, não haverá polémicas.

A vitória mais que merecida

(Fotografia: ASO/Thomas Maheux)
Se havia ciclista que merecia uma vitória na Volta a França, esse era Edvald Boasson Hagen. Depois de ter perdido por seis milímetros para Marcel Kittel, tendo mais tarde repetido um segundo lugar, o norueguês da Dimension Data como que ganhou a compaixão de muitos. Boasson Hagen não quis esperar pela mítica chegada nos Campos Elísios na última etapa, nem sequer quis esperar por um sprint no dia de hoje. Entrou na fuga que a Sky não se incomodou em perseguir. Era o favorito do grupo, mas preferiu atacar antes. Numa rotunda escolheu o lado certo, juntamente com Nikias Arndt (Sunweb), mas o alemão rapidamente cedeu.

Tinha perdido por milímetros, mas ganhou por muitos metros desta feita, dando um triunfo muito desejado por uma Dimension Data que há um ano brilhou a grande nível com Mark Cavendish e Stephen Cummings e que em 2017 viu o seu sprinter ir para casa cedo. A formação sul-africana estava a passar um pouco ao lado da corrida, contudo, Edvald Boasson Hagen respondeu muito bem à chamada de ter a responsabilidade de alcançar sucesso.

Foi a terceira vitória numa etapa no Tour. As outras duas aconteceram em 2011, então ao serviço da Sky.

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