5 de julho de 2017

Ficou sem o Tour, mas Sagan saiu de cabeça erguida

(Fotografia: VeloImages/Bora-Hansgrohe)
Foi o assunto do dia mais falado, mas com o pelotão a tentar não o fazer. A expulsão de Peter Sagan apanhou a maioria desprevenido. Foi estranho não ver a camisola de campeão do mundo lutar pelo sprint intermédio, no momento em que se tornou bem real o facto do episódio do sprint da quarta etapa ter tirado da corrida dois grandes ciclistas. Sagan manteve-se em silêncio quando foi conhecida a pesada sanção dos comissários da Volta a França, só o quebrando durante a manhã. Com uma voz calma, muito cordial, o eslovaco optou por sair de cabeça erguida, como o campeão que é. Aceitou a decisão, ainda que não concorde.

São momentos como este que muitas vezes se percebe mais do que o ciclista, como é o homem. Sagan mostrou ser um senhor. Estar zangado, desiludido, furioso, seriam sentimentos compreensíveis e fáceis de demonstrar perante o que lhe aconteceu, mas esses ficam para o plano foram das câmaras. Era preciso demonstrar toda a categoria que tem. Assim o fez. "O que posso fazer? Resta-me aceitar a decisão do júri, mas claro que não concordo porque penso que não fiz nada de errado no sprint", afirmou num conferência de imprensa improvisada perto do hotel onde a equipa, Bora-Hansgrohe, estava instalada. Sagan salientou que o pior de tudo tinha sido a queda de Mark Cavendish, desejando que o britânico possa recuperar bem da lesão (fracturou a omoplata). "Peço desculpa por isso. Como podem ver na internet foi um sprint doido. Não foi o primeiro e não será o último. Desejo que o Mark recupere bem", disse.


A reacção foi curta, mas demonstrou como Sagan controlou as suas emoções, ele que tem como imagem de marca a sua espontaneidade e em dizer o que pensa. O momento pediu "outro Sagan", um Sagan que demonstrasse que tiraram-lhe o Tour, mas não o abateram. Agora será altura de repensar a temporada. Sair tão cedo da corrida francesa foi inesperado. Os principais objectivos passariam a ser depois do Tour os Mundiais e antes provavelmente os Europeus, com mais as clássicas no Canadá também na agenda. Agora é capaz de acrescentar algo mais, quem sabe um regresso à Vuelta.

Cavendish congratula comissários

O britânico disse que se dava bem com Sagan, mas que queria saber a razão do uso cotovelo. Os ciclistas já terão conversado depois de conhecida a gravidade da lesão de Cavendish, que ficou satisfeito com a decisão de expulsar o eslovaco do Tour: "Para ser honesto, é preciso coragem para eliminar o campeão do Mundo da Volta a França e eu congratulo a decisão do júri, que não foi tomada baseada nas influência das redes sociais ou de outro lado." Cavendish realçou que "não há ressentimentos" pelo que aconteceu.

O sprinter tem muitas vitórias, mas também já esteve envolvido em várias polémicas. Foi autor de alguns sprints bem perigosos e o próprio recorda como já tinha sido castigado no Tour, ainda que nunca foi mandado para casa. A sanção pesada a Sagan levantou a questão de como o britânico tentou "furar" junto às barreiras, querendo passar assim por Sagan. Cavendish nem querer ouvir falar de ter feito algo mal: "Sou um sprinter com experiência. Se olharem para a minha carreira não me verão tentar passar junto às barreiras desde, talvez, 2008. Tenho crianças em casa. Sei em que tipo de espaço consigo passar. É por isso que ganhei 30 etapas na Volta a França."

Kittel, Matthews e uma regra aberta a interpretações

Enquanto John Degenkolb, um dos ciclistas que também caiu no sprint, preferiu não falar muito sobre o assunto, Marcel Kittel espera que a decisão de mandar para casa Sagan possa servir de aviso que nos sprints nem tudo é permitido. No entanto, também ele não comentou se concordou ou não. Já Michael Matthews pediu uma clarificação das regras, nas declarações que deu ao Eurosport.

Ambos referem-se ao caótico sprint que antes o incidente entre Sagan e Cavendish, ficou marcado por mudanças de direcções dos ciclistas já com o sprint lançado, incluindo o eventual vencedor Arnaud Démare (Nacer Bouhanni acusou o rival de lhe ter cortado o caminho e de o obrigar a travar para não cair). Aquele sprint será sempre um exemplo de como não se deve fazer, caso se aplique a regra que determina que o ciclista não deve mudar de direcção depois de arrancar.

A primeira decisão dos comissários foi uma sanção de 30 segundos e a retirada de pontos para a classificação da camisola verde. Há outros exemplos de "levantar o cotovelo" que resultaram precisamente em perda de tempo, mas os visados continuaram na corrida. Porém, a justificação para a exclusão foi que Sagan colocou em perigo outros ciclistas. Matthews abordou o tema certo: a clarificação das regras, tornando-as mais objectivas e não sujeitas à interpretação, evitaria algumas polémicas.

O que está feito, está feito e Peter Sagan foi para casa. No Tour deseja-se que se possa regressar à normalidade, mas sem o camisola arco-íris não será o mesmo. Repetindo o início do texto, o episódio do sprint da quarta etapa tirou da corrida dois grandes ciclistas.

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