11 de julho de 2017

A equipa de luxo que já não está na Volta a França

(Fotografia: ASO/Pauline Ballet)
Perante uma etapa em que nada aconteceu - sem desprimor para mais um triunfo avassalador de Marcel Kittel - e perante a perspectiva de mais um dia exactamente igual na quarta-feira, resta esperar que chegue a 12ª tirada, quando se irá voltar à montanha. Até lá podemos olhar para a lista de desistências e ver que poderíamos formar uma equipa de sonho. A Volta a França não está a ser marcadas por aquelas quedas colectivas impressionantes, mas as quedas solitárias estão a afastar ciclistas importantes de uma corrida que apesar das etapas planas bem aborrecidas, tem na luta pela geral um interesse que não tem sido comum em anos recentes. Os que já abandonaram dariam para formar uma super equipa. Alguns teriam de aceitar funções diferentes, mas vamos entrar no campo das suposições. Portanto, suponhamos que todos aceitariam o que aqui se escreveu.

Antes de mais, apenas um nota prévia: com dez etapas concluídas o Tour já viu sair 17 ciclistas, por abandono, exclusão ou chegada fora do tempo limite. Comparando com o Giro, na mesma etapa o número era oito, sendo que dois (Stefano Pirazzi e Nicola Ruffoni) nem sequer começaram a corrida devido a uma suspensão por doping, conhecida no dia antes do início da competição.

Apresentada esta curiosidade, vamos então ao nove que daria uma fantástica formação que muitos directores desportivos não se importariam de ter. De forma a criar uma equipa coesa, serão então atribuídas funções a alguns que não correspondem às que tinham de facto neste Tour, ou seja, será aqui construída uma possível táctica.

O líder para geral seria Richie Porte (32 anos). O ciclista da BMC estava numa forma invejável, provavelmente a melhor da sua carreira. Era um sério candidato a fazer frente a Chris Froome. Surgiu em França com uma equipa construída para si, algo que não tinha acontecido em 2016, quando Tejay van Garderen foi co-líder. Porte estava a corresponder às expectativas até àquela etapa nove. Teve uma queda aparatosa numa descida e partiu a clavícula e a pélvis.

Como gregários de luxo, Richie Porte teria ao seu lado na alta montanha Geraint Thomas e Rafal Majka. O britânico da Sky (31 anos) é um dos infelizes do ano. Caiu no Giro e no Tour e acabou por abandonar as duas corridas. Com Porte em tão boa forma, Thomas teria de ser o seu braço direito (de recordar que ambos já foram companheiros na Sky). Não se conseguiu perceber bem como estava Thomas fisicamente, mas seria provavelmente um homem importante. Quanto a Majka, o homem da Bora-Hansgrohe (27 anos) foi mais uma vítima da nona etapa. Acabou no domingo, mas hoje não partiu, devido aos ferimentos que até lhe dificultavam a respiração. Nesta equipa imaginária, seria um apoio decisivo para Porte, mas não é de afastar a hipótese de lhe dar uma oportunidade de integrar uma fuga e deixá-lo lutar por uma etapa, até porque há mais homens ajudar Porte.

Ion Izagirre seria mais um ciclista para a montanha. O espanhol (28), líder da Bahrain-Merida para este Tour, seria um corredor de trabalho. Talvez o primeiro a ser chamado quando o terreno inclinasse. Como caiu logo no contra-relógio é impossível dizer que estava numa grande forma. Caso estivesse melhor do que Thomas, então poderia ser ele a assumir a função de braço-direito de Porte, com o britânico a entrar mais cedo ao trabalho nas etapas de montanhas.

E claro, Alejandro Valverde. Colocá-lo apenas como gregário quase que parece desperdiçar um dos ciclistas que está em melhor forma em 2017. Um crime, mesmo! Com 14 primeiros lugares este ano, o espanhol da Movistar seria um plano B. Mesmo não sendo um voltista por excelência, com uma forma destas seria inteligente mantê-lo como candidato, ainda que também tivesse um papel de ajuda ao líder, Richie Porte. E que importância poderia ter quando chegassem as perigosas descidas dos Alpes e Pirenéus... Valverde também poderia ser aposta para ganhar determinadas etapas.

Quanto aos sprints, quando se fala em gestão de egos... Isto seria uma missão quase impossível, mas vamos tentar imaginar alguma harmonia entre estes homens. Apesar da mononucleose que afectou a sua preparação, como está tão perto do recorde de Eddy Merckx (quatro para igualar), Mark Cavendish teria a primazia, mas com um Arnaud Démare a ser a segunda hipótese, caso o britânico desse mostras que não estava em condições. O francês da FDJ (25) ganhou uma etapa, é certo, mas o currículo de Cavendish (32 anos) tem o seu peso: é uma vitória no Tour contra 30! Démare como lançador de Cavendish? Que luxo! Seria necessário mais um lançador. Após alguma indecisão entre Matteo Trentin (27 anos, Quick-Step Floors) e Mark Renshaw (34, Dimension Data), a escolha recaiu no australiano. É que em nome da tal difícil harmonia, seria um risco não ter o homem de confiança de quase toda uma carreira de Cavendish.

Para terminar, Peter Sagan. Como não é de todo boa ideia ter dois sprinters na mesma equipa a lutar pela vitória e como o eslovaco não é o chamado sprinter puro, então poder-se-ia colocar o bi-campeão do mundo a disputar etapas cujas chegadas são marcadas por rampas, ou então precedidas quilómetros antes por subidas onde Sagan consegue fazer diferenças. Ou seja, não iria aos sprints e tentar-se-ia tirar partido da explosão que este ciclista tem e da capacidade em resistir nas fugas, em solitário ou em pequenos grupos. De todos estes exemplos, dizer a Sagan que não poderia lutar nos sprints seria impensável no mundo real e mesmo no campo das suposições, a vontade é colocá-lo como o líder para as etapas, ao lado de Richie Porte que lutaria pela geral.

Caso se quisesse ter um ciclista para o contra-relógio, a escolha poderia ser para Jos van Emden (Lotto-Jumbo), mas tendo em conta a exibição de Geraint Thomas na primeira etapa do Tour, a equipa estaria bem servida, mesmo sem o vencedor do esforço individual final da Volta a Itália.

Isto tudo é no campo da imaginação. Mas se todos estivessem em forma (e se se entendessem) seria uma equipa de sonho... e certamente só nos sonhos é que existiria!

Em suma, a equipa de luxo que já não está no Tour é constituída por: Richie Porte, Geraint Thomas, Rafal Majka, Ion Izagirre, Alejandro Valverde, Mark Cavendish, Arnaud Démare, Mark Renshaw e Peter Sagan.

Em baixo fica o perfil para a etapa desta quarta-feira. Marcel Kittel vai tentar a quinta vitória e começar assim a ficar cada vez mais próximo de segurar a camisola verde que nunca pensou ser possível ganhar com Peter Sagan em prova. Sem o eslovaco, o alemão tem outra motivação, ainda que diga que o objectivo é ganhar etapas. Mas uma coisa pode muito bem resultar na outra.



Veja aqui o resultado da 10ª etapa e as classificações do Tour.

A tirada desta terça-feira não teve pontos de interesse até àquele final demolidor de Marcel Kittel. O sprinter da Quick-Step Floors recuperou a sua melhor versão e só isso faz valer a pena esperar mais de 200 quilómetros para ver uns metros de emoção.

De destacar ainda que Nacer Bouhanni foi penalizado em um minuto depois de imagens terem captado o sprinter da Cofidis a empurrar um ciclista da Quick-Step Floors. O incidente não resultou em queda, ainda que a atitude tenha sido perigosa. Ainda assim, valeu uma sanção bem mais simpática do que a aplicada a Peter Sagan.


Résumé - Étape 10 - Tour de France 2017 por tourdefrance


»»Majka é mais uma vítima de uma etapa que teve tanto de espectacular como de dramática««

»»Descidas fizeram diferenças demasiado duras e tristes««

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