3 de julho de 2017

Jan Ullrich, o ostracizado

Há 20 anos Ullrich conquistou o seu único Tour e recordou o feito
nas redes sociais (Fotografia: Facebook Jan Ullrich)
Ninguém o quer ver ligado à Volta a França. Muitos nem ao ciclismo. Por vezes até parece que ninguém se quer recordar que Jan Ullrich existe e que foi um vencedor do Tour. Com a corrida a começar este ano na Alemanha, bem tentaram ignorar Ullrich, mas muito se falou dele nestes dias. Não se querem lembrar dele, mas a verdade é que não esquecem que ele é um dos rostos do doping de uma era negra da modalidade. Provavelmente não ajuda ter Lance Armstrong a sair em sua defesa, criticando a ASO por não ter convidado o alemão para a partida. Dado o crédito do americano...

Jan Ullrich chegou a estar afastado da vida pública precisamente para não ter de lidar com o constante recordar de ser um dos ciclistas que confessou o recurso a doping, depois de tanto dizer que era mentira. O alemão foi uma das figuras do ciclismo nos anos 90 e no início do século. Venceu um Tour e uma Vuelta, foi campeão olímpico e era uma das principais figuras da modalidade no seu país. Os seus embates com Marco Pantani e depois com Lance Armstrong - com o americano acabou por somar mais derrotas do que vitórias - entraram para a história da modalidade. Agora são varridos para debaixo do tapete, com esperança que lá fiquem esquecidos.

Quando o escândalo rebentou, Ullrich passou de herói à razão pela qual a Alemanha virou as costas ao ciclismo, de tal forma que a televisão estatal chegou a deixar de transmitir o Tour. Não foi o único a admitir o recurso ao doping, mas parece estar algo isolado no que diz respeito em ser perdoado, ou pelo menos recordado por algumas das coisas bonitas que fez, como acontece por exemplo com Erik Zabel. A prática do doping foi demasiado grave. Em Maio, Ullrich parecia que iria seguir os passos de outros ciclistas que apesar de também terem caído em desgraça, lá foram conseguindo voltar à modalidade com outros papéis. Foi nomeado director desportivo da Volta à Colónia, mas quatro dias depois demitiu-se, não aguentando as constantes críticas vindas principalmente dos meios de comunicação social.

A ASO, organizador do Tour, ostracizou Ullrich. Não há evento algum que receba um convite e nem o Tour arrancar em Düsseldorf no ano em que se celebra o 20º aniversário da sua vitória na Volta a França fez os responsáveis da corrida mudar de ideias. O antigo ciclista resolveu experimentar algo que admitiu nunca ter feito antes: ir ver ciclismo como um simples adepto, na berma da estrada. Adorou a experiência e adorou ver como os alemães reagiram à passagem do pelotão. "Sempre disse 'tragam o Tour, será um grande boom'", afirmou ao Bild. Ullrich disse que até recebeu um convite para estar na partida - não disse de quem -, mas que recusou porque a filha celebrava o 14º aniversário e queria que o pai estivesse com ela.

Agora com 43 anos, Ullrich contou ao jornal que há pessoas na Alemanha que continuam o recordá-lo pelo bom que fez no ciclismo. "Elas têm memórias boas [das vitórias e exibições]. Adoram ciclismo, como eu", salientou.

Apesar de ser uma das figuras ligadas à época negra do ciclismo, Jan Ullrich não teve problemas em falar da análise positiva de André Cardoso, conhecida dias antes da Volta a França começar: "É pena, mas é apenas um em 200 profissionais no pelotão. Há sempre uma ovelha negra, alguém que não percebe. Acontece nas melhores famílias."

De recordar que o ciclista português da Trek-Segafredo deu positivo por EPO, a substância de eleição precisamente na era de Ullrich. No entanto, foi pedida a contra-análise para então se confirmar ou não o positivo de Cardoso. Até lá, o corredor está suspenso preventivamente e não pôde participar pela primeira vez na carreira no Tour.

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