30 de julho de 2017

Porque devemos entrar em modo Volta a Portugal

Rui Vinhas, o vencedor surpresa de 2016, estará na Volta para tentar repetir
o feito. E porque não? Tomou-lhe o gosto e confiança agora não lhe falta
(Fotografia: Podium/Volta a Portugal)
Volta a Itália, Volta a França, antes passámos pela fase das clássicas. Com o passar dos meses vamos entrando em diferentes "modos" para ver e viver as emoções das grandes corridas de ciclismo. Sexta-feira arranca a Volta a Portugal e é certo que talvez não tenha o carisma de outrora, algumas tradições vão-se perdendo, falta alguma competitividade das equipas estrangeiras, mas não sejamos fatalistas. A nossa Volta não é assim tão fraca. Temos adaptar o tal "modo" à realidade nacional e se o fizermos vamos conseguir apreciar uma corrida que este ano augura alguma qualidade superior, comparativamente com edições anteriores.

Comecemos pelo pelotão nacional. O regresso de Sérgio Paulinho (Efapel), Edgar Pinto (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack) e Domingos Gonçalves (Rádio Popular-Boavista) oferecem desde logo outro nível a um grupo que continuou - e ainda bem - a contar com Amaro Antunes e Gustavo Veloso (W52-FC Porto), Joni Brandão e Alejandro Marque (Sporting-Tavira), Vicente García de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé), Rui Sousa e João Benta (Rádio Popular-Boavistar) e César Fonte (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack). E a lista até pode ser maior. Que não restem dúvidas que qualquer um destes ciclistas tem muita capacidade para tornar esta Volta a Portugal interessante e com indefinição até final, mesmo tendo em conta que a nível de equipa a W52-FC Porto continue a ser a mais homogénea.

Infelizmente Joni Brandão não estará presente devido a problemas físicos. É uma pena visto que seria um forte candidato a lutar pela vitória, ainda que 2017 tenha sido muito abaixo do que é normal a nível de rendimento.

Mesmo com uma expectável supremacia da W52-FC Porto, Veloso não terá vida fácil. Já não é aquele vencedor anunciado, que só não ganhou em 2016 porque foi um colega de equipa que surpreendeu tudo e todos. Com dois contra-relógios, o espanhol tem alguma vantagem, mas na montanha poderá ter uma séria concorrência a começar por outro companheiro. Amaro Antunes não poderá ser apenas um gregário de luxo. Este é um ciclista que tem tudo para estar bem e alcançar um bom resultado. O algarvio sabe o que é ser top dez. Certamente que quererá algo mais. Sérgio Paulinho é uma incógnita. Será que a passagem de gregário para líder foi bem conseguida? Só na Volta saberemos. Edgar Pinto é um excelente trepador e os homens da Rádio Popular-Boavista... cuidado com eles. Vão estar ao ataque! Mateos está feito num trepador de luxo. Atenção a este espanhol.

Para bater a W52-FC Porto será preciso arriscar. Dar o controlo da corrida à equipa do Sobrado é deixar o director desportivo, Nuno Ribeiro, escolher com quem quer mexer, pois além dos dois ciclistas já referidos, Raul Alarcón e Rui Vinhas são outros que podem lançar a confusão nos adversários. Sim, não vamos estar só a pensar quem irá suceder a Rui Vinhas. Seja dado o mérito merecido pela vitória que alcançou há um ano e o próprio sempre admitiu saber qual o seu lugar na estrutura. Porém, não o metam de lado. Uma fuga e ainda repete a graça... Agora acredita mais do que nunca no que poderá fazer. Difícil, mas já se viu coisas mais incríveis no ciclismo.

Vamos então ao percurso. Senhora da Graça a dia de semana é uma desilusão para quem tanto gosta da tradicional subida ser acompanhada por uma peregrinação de ciclistas a mostrarem que também são capazes de conquistar a difícil ascensão. E claro, as pessoas na berma, os comes e bebes... a festa do ciclismo no seu expoente máximo numa tradição que pode não ser bem a mesma, mas continua viva. Será talvez um pouco diferente diferente, pois nas redes sociais foi possível perceber como nem todos estão de férias de Agosto e este ano não vão estar na Senhora da Graça.

Parece estar um pouco na moda não haver muitas chegadas em alto, pelo que esta subida poderá ser ainda mais importante, apesar de estar logo na quarta etapa. E atenção à sétima. Tem tudo para ser muito interessante. Aquela rampa em Santo Tirso pode fazer estragos. Falta a Torre. Tal como no ano passado apenas se passará por lá e desta feita só uma vez. Sabe a pouco. Muito pouco. É certo que depois ainda haverá três terceiras categorias para ultrapassar para tentar aumentar a emoção. Mas mais uma vez fica a sensação que falta algo nesta Volta sem uma chegada à Torre.

Olhando para as características dos ciclista candidatos, o percurso tem tudo para proporcionar bons momentos de ciclismo. Esperemos que não se entre naquele estudo mútuo e só no fim alguém mexe. Há muito ciclista que tem capacidade para mexer cedo e bem na corrida. E claro, é bom ver que há portugueses com capacidade para ganhar Volta a Portugal. Gosta-se de ciclismo seja quem for que vença, mas dá sempre um gozo especial ver um homem "da casa" ganhar.

Dispensava-se dois contra-relógios. Com tão poucos dias de corrida é um pouco de mais. O do último dia sempre tem, de facto, o potencial para animar a Volta até final. Precisamos mesmo de um prólogo? São gostos, suponho...

Não temos o Chris Froome, o Tom Dumoulin ou o Alberto Contador, mas fiquemos orgulhosos de ter um pelotão como há muito não se via por cá. O ciclismo português dá mostras de estar novamente a regressar a uma boa fase. Veremos se o crescimento continua. Esperemos que sim. Para isso é também preciso que haja receptividade de quem vê. A RTP irá transmitir como sempre a Volta a Portugal, mas porque não ir para a estrada apoiar os ciclistas. Porque não levar os filhos, os netos, os amigos e viver uma experiência diferente que não se esquece. Na Volta ao Algarve temos as estrelas mundiais (e tão bom que é), mas na nossa Grandíssima temos as nossas estrelas. O espectáculo é diferente, mas é de acreditar que quando se festeja 90 anos de Volta, haverá muito para recordar. Vamos lá entrar em modo Volta a Portugal.

O último teste

O pelotão nacional esteve este domingo na estrada no último teste antes da Volta a Portugal. Em Albergaria assistiu-se a uma corrida muito atacada, com a Efapel a deixar a mensagem que a recente subida de forma era mesmo para garantir que chegasse ao ponto alto da época no seu melhor. Jesús del Pino venceu, seguido por César Fonte e Hugo Nunes, em mais um excelente resultado para o Miranda-Mortágua. Por equipas venceu a W52-FC Porto.

Aqueceram-se os motores, agora é ir até Lisboa. Que comece a Volta a Portugal!

Pode ver as lista de inscritos provisória e as etapas neste link.

»»Volta a Portugal tradicional... mas com algumas tradições alteradas««

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