10 de julho de 2017

Majka é mais uma vítima de uma etapa que teve tanto de espectacular como de dramática

(Fotografia: Ralph Scherzer/Bora-Hansgrohe)
É antagónico. Tanto se pedia espectáculo na Volta a França e assim se o teve. No entanto, parece que se teve de pagar um preço bem caro. A nona etapa foi das melhores que se assistiu, provavelmente nos últimos anos, mas a emoção ficou marcada por quedas e mais quedas. O Tour perdeu algumas figuras que eram actores principais nesse espectáculo, a começar por Richie Porte. Um dia depois e as descidas continuam a fazer vítimas. Rafal Majka cortou a meta, contudo na terça-feira já não estará na partida. Está tão mal tratado que tem dificuldades em respirar. A Bora-Hansgrohe perdeu Peter Sagan por uma decisão polémica da organização que o expulsou da corrida e agora fica sem o seu outro líder. Salva-se a etapa conquistada pelo bi-campeão mundial.

Pela primeira vez Majka era o líder na Volta a França, depois de ter estado na sombra de Alberto Contador na Tinkoff. Era um ciclista que gerava curiosidade. Parecia estar numa boa forma, sendo forte candidato ao top 10 e talvez algo mais. "Dói-me tudo, mas tive sorte por não ter nenhuma fractura. Não consigo explicar o que aconteceu quando caí", disse o ciclista polaco, citado no site da sua equipa. Majka suspeita que estivesse algo na estrada, como óleo, por exemplo, pois até o seu mecânico escorregou quando o tentou ajudar.

Apesar de ter continuado em prova, o ciclista percebeu que seria um dia muito mau e explicou que deu instruções ao companheiro Emanuel Buchmann para não ficar com ele e tentar salvar algo na classificação geral para a Bora-Hansgrohe. O alemão é 18º a 8:46 minutos de Chris Froome. Majka ainda deixou um agradecimento ao compatriota Michal Kwiatkowski. Apesar de ser da Sky, o ciclista parece que deu uma ajuda a Majka para que este terminasse a etapa, tendo perdido 36:21 minutos para o vencedor, Rigoberto Uran.

O polaco engrossa a lista de desistências liderada por Richie Porte. O australiano caiu na última descida do dia e foi transportado para o hospital. Tem a pélvis e a clavícula fracturadas. O ciclista da BMC já colocou imagens no Twitter da sua estadia no hospital tentando com alguma boa disposição lidar com a enorme desilusão de ficar de fora de um Tour em que claramente tinha todas as condições para lutar pela vitória.

Daniel Martin (Quick-Step Floors) foi atirado ao chão quando Porte perdeu o controlo da bicicleta. O irlandês prosseguiu, voltou a cair mais à frente, mas lá terminou a etapa. No entanto, não escondeu o seu descontentamento pelo que considerou uma fase perigosa da tirada, criticando a organização. O ciclista falou sobre as condições da estrada que eram propícia a quedas: "Estava tão escorregadio... Suponho que a organização teve o que queria. Não penso que ninguém quisesse tomar riscos, mas estava muito escorregadio debaixo das árvores."

Froome contra novos candidatos

A segunda fase da Volta a França começa esta terça-feira e terá novos candidatos. Porte está fora, Alberto Contador é para esquecer e Nairo Quintana tem muito trabalho pela frente se quiser ficar pelo menos no pódio. O quarteto tão falado como favorito é agora um trio, com Froome sempre como o alvo a abater e com Fabio Aru e Romain Bardet como os grandes rivais. No caso do francês nem é uma surpresa, pois Bardet sempre surgiu como o quinto homem a ter em conta nas contas deste Tour, ou até quarto se quisermos ter em conta que já muita desconfiança havia sobre a forma de Contador.

Nestas contas aparece um outsider inesperado: Rigoberto Uran. O colombiano ganhou a etapa rainha, mesmo com uma avaria mecânica que o limitou na escolha das mudanças nos últimos quilómetros e é quarto a 55 segundos de Froome. Uran sempre foi dizendo que estava no Tour para ganhar etapas. Ou foi um grande bluff, ou o então está a surpreender-se a ele próprio. O objectivo está cumprido: venceu uma tirada. A ver vamos se o ciclista da Cannondale-Drapac vai tentar um pódio, como já fez por duas vezes no Giro.

Voltando a Aru e Bardet. O primeiro tem apenas 18 segundos de desvantagem e o segundo 51. Ambos estiveram bem na etapa, com o italiano da Astana a não ficar muito bem visto quando atacou Froome ao ver que este tinha um problema mecânico. O código de ética não escrito do ciclismo divide opiniões, portanto, neste momento, o melhor é pensar que Aru ficou sozinho quando tentou deixar o camisola amarela para trás. Teve os outros candidatos a ir na sua roda, mas não o ajudaram e até o condenaram. O mais importante é que o italiano está de facto em boa forma, tal como Bardet que já está a deixar os franceses a sonhar (Thibaut Pinot está a ser esquecido?).

Outro ponto de interesse é a Sky. Quando no grupo de favoritos se atacou, a equipa desmoronou-se como provavelmente nunca se viu no Tour. A equipa está a confirmar as suspeitas que não está tão forma e tão coesa como em anos anteriores, valendo que Chris Froome esteve à altura da ocasião. Isolado, respondeu aos ataques e contra-atacou. Porém, mesmo tendo ficado sem o rival Richie Porte e ver Nairo Quintana a 2:13, o britânico está a enfrentar uma missão bem mais difícil, com esta nova geração de voltistas a mostrar-se mais do que preparada para acabar com o seu reinado. Ou pelo menos fazê-lo suar um pouco mais. E Froome não esconde alguma preocupação, ainda mais quando perdeu Geraint Thomas, mais uma vítima de queda na etapa de domingo.

Chris Froome continua a ser o favorito a uma quarta vitória, terceira consecutiva. Ainda assim, os adversários parecem ter encontrado o antídoto para o domínio da Sky: coragem para atacar, coragem para arriscar.

Depois de uma etapa de emoções tão fortes, esta terça-feira começa de forma mais calma, ou assim se espera. Só na quinta-feira se regressará à montanha.

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