29 de julho de 2017

As renovações mais do que merecidas

Ainda antes da abertura do mercado de transferências três dos ciclistas portugueses no World Tour viram a sua situação contratual resolvida, dando-lhes assim tranquilidade para o que resta da temporada. Foi precisamente essa a palavra utilizada por José Gonçalves quando chegou a acordo com a Katusha-Alpecin, sendo expectável que Tiago Machado e agora Nelson Oliveira sintam o mesmo. A Movistar anunciou esta sexta-feira a renovação de contrato, depois de um ano menos feliz para ciclista de Anadia. Tem apenas 28 anos, mas já está há sete no principal escalão e a equipa espanhola sabe que tem um excelente valor que ainda pode render muito, principalmente no contra-relógio e na ajuda preciosa aos líderes da equipa.

"Oliveira teve um rendimento notável, tanto na sua faceta de especialista de contra-relógio individual - campeão nacional, sétimo nos Jogos Olímpicos no Rio, quarto no último Europeu -, como no trabalho de equipa." As palavras escritas no site da Movistar não são apenas de circunstância. 2017 ficou marcado pela queda no Paris-Roubaix que o tirou da competição durante dois meses e muito provavelmente lhe custou a Volta a França. Porém, Nelson Oliveira tem demonstrado ao longo dos dois anos em que está na Movistar como é um homem importante na estrutura. No Tour do ano passado cumpriu os objectivos que lhe foram delineados, ainda que os resultados da equipa acabassem por não serem os desejados. Mas não foi por culpa de Nelson Oliveira. Este ano espera-se que esteja de regresso à Vuelta, está nos pré-convocados, e sem Quintana e Valverde, a ver vamos o que será pedido do ciclista português.

Em Junho teve um incidente nos Nacionais, quando não partiu para o contra-relógio por desconhecimento da mudança da hora de partida. Ou seja, Nelson Oliveira bem está a precisar de uma injecção de moral para a restante temporada e a renovação de contrato pode muito bem ser o impulso que o português precisava para aparecer mais motivado. A tranquilidade só joga a favor de quem sabe que irá continuar ao mais alto nível em 2018.

No próximo ano, Portugal terá também no World Tour Nuno Bico (Movistar), Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo) e Rui Costa (UAE Team Emirates), todos com contrato até 2018. Já as grandes dúvidas chamam-se André Cardoso e José Mendes. No primeiro caso, ainda se espera por saber o resultado da contra-análise, depois de dias antes do Tour André Cardoso ter sido notificado que tinha acusado EPO. Já José Mendes alimenta o desejo de se manter na Bora-Hansgrohe, estrutura que tem sido a sua casa há cinco anos. Recentemente, o ciclista afirmou ao Volta ao Ciclismo que a renovação é um assunto que não consegue deixar de pensar.

Com a subida ao World Tour e com a expectativa de crescimento da equipa, para José Mendes seria excelente se continuasse a ter espaço na equipa alemã. Ninguém questiona a sua lealdade para com os líderes e como cumpre à risca o que lhe é pedido. Foi ao Giro e mantém-se a expectativa para ir à Vuelta. Se não houver novidades até lá, é muito possível que José Mendes jogue a sua permanência na equipa em Espanha, numa missão que não se adivinha nada fácil, mas o português nunca foi de virar a cara a um desafio.

Alguém se junta ao grupo português no World Tour?

O contingente luso no principal escalão do ciclismo tem vindo a crescer nos últimos anos. Em 2017 perdeu-se Sérgio Paulinho (regressou a Portugal para a Efapel), mas entraram José Gonçalves, José Mendes e os jovens Nuno Bico e Ruben Guerreiro. Quem se segue?

Potencial há, mas daí a conseguir um contrato com uma das equipas do World Tour vai uma grande distância. Nuno Bico, por exemplo, foi uma das surpresas de final do ano quando anunciou que iria para a Movistar, provando como há certas negociações que ficam em segredo e demoram a ser concluídas. Não é possível prever com exactidão, mas também não restam dúvidas que actualmente quatro nomes geram alguma curiosidade e interesse. Os gémeos Oliveira encabeçam esta curta lista. Com o talento que lhes é cada vez mais reconhecido e com a ajuda de Axel Merckx numa Axeon Hagens Berman que tantos jovens tem levado para o World Tour, tanto Rui como Ivo podem ter um futuro muito (mas mesmo muito) risonho. Porém, não deverá acontecer já em 2018. Estando na equipa que é considerada a melhor de formação, o mais provável é ficarem por lá pelo menos mais um ano, enquanto vão despertando ainda mais o interesse de grandes equipas. Assim também podem aprimorar a passagem que estão a fazer da pista para a estrada, ainda que sem esquecer a vertente que os levou à ribalta. Ruben Guerreiro fez esse percurso e agora está na Trek-Segafredo.

Em Portugal há um ciclista que entrou definitivamente na retina dos olheiros. Amaro Antunes teve um início de temporada fenomenal. Mostrou-se em Espanha e até frente a Nairo Quintana. Venceu no alto do Malhão, numa Volta ao Algarve que agora pertence à segunda categoria mundial. Na W52-FC Porto conseguiu projectar internacionalmente uma qualidade que há muito lhe era reconhecida em Portugal. Aos 26 anos parece estar no ponto para "dar o salto", sendo certo que ainda tem margem para progredir. Quem bem que o algarvio ficaria ao lado de qualquer grande líder do ciclismo mundial.

Em Espanha está Rafael Reis. Tem tido uma carreira marcada por altos e baixos e este ano começou bem, mas uma queda estragou-lhe algumas semanas na Caja Rural. Apareceu bem nos Nacionais, ainda que tenha perdido o contra-relógio para Domingos Gonçalves. Contudo, tem dado indicações que está novamente a subir de forma, provavelmente a pensar em cumprir um dos seus objectivos de temporada: ser chamado para a Vuelta. Se conseguir um lugar no nove da Caja Rural, será a montra perfeita para se mostrar. No entanto, não seria surpresa se fizesse mais um ano na formação espanhola (Profissional Continental), que serviu recentemente de rampa de lançamento para José Gonçalves e também para André Cardoso. A qualidade e o talento estão lá, mas falta um "clique" para que Rafael Reis demonstre como pode estar a um nível muito mais elevado. Lá está, pode ser que esse "clique" aconteça na Vuelta.



Sem comentários:

Enviar um comentário