14 de julho de 2017

O dia em que Landa obrigou a Sky a alterar a táctica. Já não será tudo por Chris Froome

Bloco da Sky? Nem vê-lo na 13ª etapa (Fotografia: ASO/Alex Broadway)
Depois de tantos anos a ver a Sky dominar, quase se estranha escrever sobre o equilíbrio e indefinição que se vive na Volta a França. Por esta altura, em anos anteriores, Chris Froome já costumava ter deixado a sua marca e tinha os adversários à espera de algum imprevisto para sonhar em bater o britânico. Em 2017 tudo está diferente e ainda bem. Nada contra a Sky, muito pelo contrário. Esta equipa fez com que o ciclismo desse um salto qualitativo como há algum tempo não acontecia. Os ganhos marginais tornaram-se a forma de estar, com as outras equipas a serem obrigadas a seguirem os passos para acompanharem a evolução na modalidade. Porém, todas as dinastias tendem a ter um fim e podemos estar a assistir ao final do domínio da Sky no Tour.

A força do conjunto não está a ser o mais decisivo. Já não tem o mesmo efeito do passado recente. Esta sexta-feira, na rápida etapa de 101 quilómetros, a Sky correu como os manuais do ciclismo ensinavam antes desta equipa mudar o paradigma. Agora a própria Sky competiu colocando homens na frente, deixando o líder sozinho no grupo dos favoritos. A Sky não está tão forte, pois ninguém da equipa conseguiu acompanhar o ritmo da frente além de três ciclistas. O resultado foi uma equipa partida. A harmonia parece ter terminado. Mikel Landa atacou e foi para a frente. Michal Kwiatkowski ficou num grupo intermédio, tendo depois ajudado Froome quando foi apanhado, numa táctica tão comum em várias equipas, como a Movistar por exemplo, mas tão pouco habitual na Sky.

Landa foi disputar a etapa e até chegou a  aproximar-se da camisola amarela virtual. Cá atrás Froome tentava atacar Fabio Aru, o italiano que lhe tirou a liderança na quinta-feira. Para o britânico ficou tudo na mesma: seis segundos continuam a separá-lo de Aru. Já para Landa, a diferença caiu para 1:09. Será a Sky capaz de gerir esta nova situação? Ninguém duvida que Froome continua a ser o número um, mas Landa desafiou a toda poderosa estrutura da equipa e mesmo que os responsáveis não gostem desta divisão, já não podem ignorar este posicionamento do espanhol.

Quando Bradley Wiggins conquistou o Tour, Froome mostrou ser o ciclista mais em forma e terminou mesmo na segunda posição. Contudo, nunca foi colocada em causa a liderança de Wiggins. A diferença é que a concorrência este ano está muito forte, pelo que ter Landa nesta posição poderá ser uma arma e um plano B.

Depois de Mikel Landa não ter esperado por Froome na subida a Peyragudes, com o britânico a perder a camisola amarela, esta sexta-feira o espanhol comprovou que está mesmo num bom momento de forma. Se houve polémica pelo que fez, não se notou na estrada. O espanhol já tinha admito que aspira a um top dez, mas parece estar preparado para enfrentar tudo e todos para ir mais além.

Froome esteve melhor nesta etapa depois de ter fraquejado ontem. Ainda assim, Fabio Aru controlou sem grandes problemas e mesmo sem ter qualquer ajuda da equipa. O italiano vai estar entregue a si próprio na montanha. Dario Cataldo já abandonou e Jakob Fuglsang seguiu hoje o exemplo. As fracturas no braço eram demasiado dolorosas para o dinamarquês continuar. E é aqui que a Sky poderá jogar a cartada Froome/Landa. Manter a equipa toda junta como é normal não faz tanto sentido neste momento. Froome e Landa poderão atacar à vez. Aru estará sempre mais atento ao britânico, mas naturalmente que não pode deixar o espanhol fugir em demasia.

Haverá outros ciclistas com interesse em não deixar os ciclistas da Sky escaparem. Romain Bardet (AG2R) até é dos que tem tido mais ajuda. Mas quando as subidas ficam mais difíceis e a velocidade aumenta, rapidamente fica sozinho. Rigoberto Uran (Cannondale-Drapac) está por conta própria e a ser muito inteligente. Deixa a guerra para os outros e espera pelo seu momento. Ontem tinha sido penalizado em 20 segundos por abastecimento incorrecto, mas a sanção foi posteriormente anulada. Daniel Martin (Quick-Step Floors) está muito bem, a atacar e com os olhos postos no pódio. Nairo Quintana aproveitou a fuga de hoje e reentra na luta, agora com 2:07 para recuperar. Difícil, mas não impossível.

Podemos especular à vontade. Mas este ano, o Tour está numa fase em que temos de esperar para ver. A luta está acesa. A Sky já não domina, Froome mantém o respeito, mas já ninguém teme em atacá-lo.

Na etapa deste sábado é possível que se verifique alguma acalmia, pois há que não esquecer que depois dos Pirenéus, os Alpes esperam pelos ciclistas para então decidir o Tour (há quanto tempo não se escrevia isto?).


Vitória francesa no 14 de Julho 12 anos depois

(Fotografia: ASO/Pauline Ballet)
Se há dia em que os franceses querem um dos seus ciclistas a ganhar é no 14 de Julho. Feriado nacional que celebra a tomada da Bastilha em 1789, que marcou o início da Revolução Francesa. No Tour este dia é sempre marcado por uma etapa especial. Desta feita foi uma curta e rápida tirada com o final em Foix. Warren Barguil não se deixou bater ao sprint depois de ter ficado a chorar quando Rigoberto Uran o derrotou no photo finish. Foi a primeira etapa conquistada no Tour por Barguil, ele que em 2013 venceu duas na Vuelta.

Lesões, má forma, Barguil tem encontrado dificuldades em confirmar as expectativas criadas. Mas aí está ele. Tem a sua etapa e logo no 14 de Julho, além de estar a caminho de ser o rei da montanha. Desde 2005 que um gaulês não triunfava neste dia. Então foi David Moncoutié (Cofidis) o primeiro a cortar a meta em Digne-les-Bains.

Uma palavra para Alberto Contador. Foi ele que originou o ataque que acabou por ser decisivo, inicialmente acompanhado por Mikel Landa, com Nairo Quintana e Barguil a juntarem-se na última subida das três de primeira categoria do dia. O espanhol não conseguiu a desejada vitória, mas foi nomeado o ciclista mais combativo e reentrou no top dez.

Veja aqui os resultados da 13ª etapa da Volta a França.



Résumé - Étape 13 - Tour de France 2017 por tourdefrance


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