4 de julho de 2017

Para quê o cotovelo? Sagan foi expulso da Volta a França

(Imagem: Print screen)
Mark Cavendish não é nenhum santo. Entre cabeçadas e empurrões, o britânico já foi responsável por alguns sprints perigosos e que colocaram em risco a integridade física de outros ciclistas. Desta vez, Cavendish esteve do outro lado destes incidentes. Quando tentava ultrapassar Peter Sagan pela direita, junto às barreiras, o eslovaco deu-lhe um "chega para lá" com o cotovelo, provocando a queda do corredor da Dimension Data. E que queda feia! Cavendish foi desamparado contra as barreiras e ao cair ainda teve John Degenkolb a passar-lhe por cima da cabeça (alguém ainda dúvida que o capacete só traz benefícios?) e Ben Swift também não conseguiu evitar o choque, tendo também caído.

As explicações não fazem jus ao que aconteceu. As imagens mostram claramente o acto irresponsável do bi-campeão do mundo. Foi um sprint no qual quase todos fizeram algo irregular, no que diz respeito às mudanças de direcção. Cavendish tentou passar pelo buraco da agulha. Se Sagan não tem levantado o cotovelo, ambos ter-se-iam provavelmente tocado e fosse qual fosse o resultado desse contacto, tal seria considerado quase de certeza um incidente de corrida. Mas Sagan levantou o cotovelo e se lhe só lhe ficou bem ter ido directamente para junto do autocarro da Dimension Data para saber como estava Cavendish, o eslovaco sabia bem que dificilmente escaparia a uma sanção. A personalidade de Sagan é bem conhecida e a preocupação terá sido genuína, mas este será um acto que deixará uma mancha numa grande carreira que certamente irá ainda contar com actos bem mais louváveis.

Pode ver o que aconteceu no vídeo em baixo que começa segundos antes do incidente (texto continua em baixo).


Flamme rouge - Étape 4 / Stage 4 - Tour de... por tourdefrance

Inicialmente o ciclista da Bora-Hansgrohe foi penalizado com 30 segundos e 95 pontos na classificação pela camisola verde. A Dimension Data não concordou e protestou. Pouco depois, Philippe Marien, presidente do colégio de comissários, anunciou a decisão mais radical: "Decidimos desqualificar o Peter Sagan da Volta a França 2017 depois do sprint tumultuoso, aqui em Vittel. Ele colocou em perigo vários ciclistas. O Mark Cavendish e outros ficaram implicados na queda nos metros finais do sprint."

Apesar de ter ficado no chão após a queda e ter sido necessário a equipa médica ajudar no local o ciclista, Cavendish acabou por cortar a meta e antes de ir para a ambulância ainda falou com os jornalistas. "Eu dou-me bem com o Peter e uma queda é uma queda, mas gostava de saber sobre aquele cotovelo", afirmou o britânico. Logo após o final da etapa, Sagan referiu que não viu Cavendish a tentar passá-lo pela direita, considerando que tinha sido um incidente de corrida. A Bora-Hansgrohe contestou a decisão dos comissários.

As regras prevêem que um ciclista seja expulso apenas à terceira ofensa a não ser que seja considerado que tenha tido um comportamento perigoso. Foi o que os comissários acharam ter acontecido. Sagan foi ainda multado em 200 francos suíços (cerca de 183 euros).

Por volta da meia-noite a Dimension Data confirmou a pior das expectativas: Cavendish está fora do Tour devido a uma fractura na omoplata. Não terá de ser operado, mas está fora de questão continuar na corrida. O britânico esteve muito tempo afastado das corridas devido a uma mononucleose. Optou por ir à Volta a França apesar de não estar na melhor forma. O sprinter disse que se estivesse em casa então não teria mesmo hipótese de tentar ganhar uma etapa. Não se aproximou ainda mais do recorde de Eddy Merckx (está a quatro triunfos de igualar o belga) e está mesmo a ser uma temporada para esquecer.

De recordar que também na Volta a Itália um ciclista foi expulso. Javier Moreno (Bahrain-Merida) foi mandado para casa depois de ter empurrado Diego Rosa (Sky), curiosamente também durante a quarta etapa. Mas na Volta à França também já não é novidade. Em 2010, por exemplo, o lançador de Cavendish, Mark Renshaw, foi mandado embora depois de cabeceado outro ciclista durante a preparação de um sprint. Mais insólito foi o caso de Jeroen Blijlevens. Chegou mesmo a acabar a corrida nos Campos Elísios, mas os seus resultados foram eliminados depois de uma "troca de mimos" com Bobby Julich, que teve de ser interrompida pelos comissários.

E tudo muda...

Ainda há um dia aqui se escreveu como Peter Sagan parecia ter maior concorrência na luta pela camisola verde. Um cotovelo depois e o eslovaco perde a oportunidade de igualar o recorde de Erik Zabel, conquistando pela sexta vez consecutiva a classificação dos pontos. Sagan venceu a terceira etapa do Tour e até foi segundo na quarta, antes de ser desqualificado, o que faz com que o último resultado já não conte para o currículo.

O incidente com Cavendish acabou por passar para segundo plano uma vitória marcante para Arnaud Démare e para a França. O campeão nacional conquistou finalmente um triunfo no Tour e vestiu também a camisola verde. Desde 2006 que um francês não ganhava uma etapa ao sprint. A última tinha sido por intermédio de Jimmy Casper. 

"É uma vitória extraordinária, maravilhosa. Sonhava em ganhar uma etapa na Volta a França desde que me tornei profissional", afirmou Arnaud Démare. Aos 25 anos, o sprinter da FDJ soma a segunda grande vitória na carreira, depois de em 2016 ter conquistado a Milano-Sanremo.

Antes da queda que gerou toda a confusão em redor de Sagan e Cavendish, uma outra, metros antes voltou a assustar a Sky. Na segunda etapa foi Chris Froome um dos afectados, desta vez foi Geraint Thomas. O líder do Tour terminou a tirada e garantiu que está tudo bem com ele, estando pronto para enfrentar a primeira chegada em alto da corrida.

Veja aqui a classificação da quarta etapa.

O primeiro teste


Etapa curta e a pedir ataques. Depois das maratonas de 200 quilómetros dos dias anteriores, serão "apenas" 160,5 entre Vittel e La Planche des Belles Filles. Grande parte da etapa será plana, mas a cerca de 60 quilómetros do fim irá começar a verdadeira acção. Haverá uma terceira categoria para aquecer um pouco o pelotão, que terá nos últimos 5,9 quilómetros uma subida que poderá ser aproveitada para alguns homens da geral tentar recuperar o tempo perdido no contra-relógio.


De recordar que Chris Froome tem mais de 30 segundos sobre os principais adversários e é precisamente nele que se centrarão parte das atenções. O britânico da Sky teve uma época tão estranhamente discreta que há um enorme desejo em perceber como está o ciclista. Não deverá haver grandes decisões na quinta etapa, mas espera-se alguns testes.

A derradeira subida tem uma pendente média de 8,5%, mas maioria está a acima dos 10%, com a zona da meta a ser a mais difícil com 20%.

(Texto actualizado às 01:20 com a confirmação que Cavendish está fora da Volta a França e com o protesto da Bora-Hansgrohe.)


Résumé - Étape 4 - Tour de France 2017 por tourdefrance

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