18 de fevereiro de 2017

Sprintar com os melhores do mundo. O relato de Luís Mendonça e Rafael Silva

Luís Mendonça foi o melhor português na primeira etapa (12º)
Quando terminou a primeira etapa da Volta ao Algarve, em Lagos, Luís Mendonça (Louletanto-Hospital de Loulé) procurava alguém com a classificação para confirmar que tinha sido o melhor português. Foi mesmo e o sorriso de orelha a orelha mantém-se passado dois dias. Terminou na 12ª posição e três lugares depois ficou Rafael Silva (Efapel). Ambos têm histórias bem diferentes no ciclismo, mas ambos têm algo idêntico: a admiração que viveram ao ver a seu lado ciclistas como André Greipel, Mark Cavendish, Arnaud Démare, Nacer Bouhanni, Fernando Gaviria... Foi um daqueles top 20 que dá praticamente a mesma dose de motivação que uma vitória durante a época em Portugal. Os dois não escondem como se sentem e esta tarde em Tavira, querem voltar a estar entre os melhores, mesmo que tenham de enfrentar um ritmo louco e uma agressividade a que estão pouco habituados. Afinal estão a viver uma experiência que sempre sonharam e estão também a tentar aprender ao máximo com os melhores, mesmo que só sejam duas etapas.

"É muito diferente! Começa logo pela aproximação à meta. Com 20 quilómetros para o fim, já se ia a voar e com muita agressividade. Em Portugal não é assim", salientou Luís Mendonça ao Volta ao Ciclismo. "Quando me vi nos últimos 500 metros à beira deles fiquei um bocado surpreendido, mas também com aquele sentimento que podia ter feito melhor. Bom, também podia ter feito pior e estou orgulhoso do meu trabalho e da ajuda dos meus companheiros", contou Rafael Silva.

Rafael Silva terminou em 15º no sprint de Lagos
Há uma palavra em comum quando descrevem o sprint: loucura. E como é que se enfrenta alguns dos melhores sprinters do mundo? É caso para dizer que se não os consegues bater, junta-te a eles. E foi o que fizerem. Tanto Luís Mendonça como Rafael Silva procuraram os comboios das equipas do World Tour, tentando colar-se à roda de alguns dos sprinters, pois assim tinham garantias que ficariam na frente. Rafael Silva diz que ainda contou com a ajuda de Daniel Mestre, mas depois foi "o desenrascar o melhor possível, arriscar tudo".

Os ciclistas portugueses tiveram ainda de lidar com o sentimento de admiração. Ali estão alguns dos ciclistas que idolatram e que costumam ver na televisão. "A primeira hora da corrida foi a admirá-los. Pensei que devia ter levado o telemóvel para tirar umas selfies", brincou Luís Mendonça. "Quando passei a linha de meta e vi o Greipel à minha frente pensei: 'Será que fiz um bom tempo?' E ainda na recta passei pelo Cavendish, que não se fez aos últimos cem metros, e parecia que estava um bocado a alucinar estar ali. Foi um espectáculo", desabafou Rafael Silva.

Escusado será dizer que ambos estão com a motivação muito em alta para a tirada deste sábado entre Almodôvar e Tavira (203,4 quilómetros). "Na primeira etapa tive sorte e ajuda. Não sei o que vai acontecer este sábado, mas vou tentar fazer o melhor possível", afirmou Rafael Silva. Luís Mendonça aponta mesmo tentar chegar ao top dez.

Além da motivação que já ganharam para a restante temporada, a experiência é também vista pelo lado enriquecedor para a carreira. "Uma etapa aqui equivale a dez sprints em Portugal. Se se for atento aprende-se muito com eles. Ganha-se muita experiência a correr com os melhores do mundo", salientou o ciclista da Efapel. "Aqui aprende-se a desenrascar-se muito no sprint. Ou se desenrasca ou fica-se fora. Apreciando os melhores e vendo como eles fazem, é sempre uma experiência muito importante", afirmou o homem do Louletanto-Hospital de Loulé.

Depois da Volta ao Algarve, segue-se a Volta ao Alentejo. Apesar de contar também com boas equipas estrangeiras - inclusivamente a Movistar -, será já uma corrida para os dois portugueses lutarem por vitórias e colocar em prática as lições de duas etapas entre os melhores do mundo. Luís Mendonça, que aos 31 anos estreia-se na elite nacional, depois de ter optado pelo ciclismo apenas aos 27, disse que ao conseguir estar num pelotão com corredores tão importantes e com um resultado tão positivo na primeira etapa só tem vontade "de sonhar mais". Já Rafael Silva (26 anos), que desde 2014 tem evoluído na Efapel, espera levar o bom momento que atravessa e que começou com uma excelente época de pista, para a restante temporada. No entanto, realçou que não pensa em tornar-se num sprinter puro e de referência no nosso país: "Em Portugal não se pode ser um sprinter puro porque as etapas são todas difíceis. Um sprinter cá tem de ser do meu género, isto é, passar mais ou menos bem as subidas e que ter também uma boa ponta final. Um sprinter puro em Portugal não discute sequer uma corrida."

A quarta etapa da Volta ao Algarve começa às 12:00, com a chegada a Tavira a estar prevista para cerca das 17:00.




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