2 de fevereiro de 2017

Marcel Kittel foi agredido durante etapa e pede pena máxima para Andrei Grivko

Foi neste estado que Kittel ficou após a agressão de Grivko
Uns encostos de ombros, umas cotoveladas e até umas cabeçadas. Na luta pelo melhor posicionamento no pelotão nem tudo é pacífico. No entanto, de vez em quando, esta luta vai um pouco longe de mais. E foi o que aconteceu na terceira etapa da Volta ao Dubai. Marcel Kittel até é um ciclista com um corpo de meter respeito, no entanto, não intimidou o ucraniano Andrei Grivko. O corredor da Astana não terá gostado quando o sprinter alemão se intrometeu entre ele e o seu colega, numa altura em que todos procuravam proteger-se do vento. Kittel admite que deu um "chega para lá" a Grivko, sem tirar as mãos do guiador. A reacção foi um murro em Kittel, que ficou a sangrar do sobrolho. 

"Penso que o Grivko bebeu demasiado café esta manhã! Não sei o que lhe aconteceu", começou por afirmar Marcel Kittel, após a etapa. "Falei com ele na corrida, mas não devo dizer o que lhe disse nesta entrevista. Ele deve ser desqualificado e talvez suspenso por seis meses. É uma desilusão para o ciclismo, para a equipa, patrocinadores e para esta corrida", acrescentou, depois de explicar o que aconteceu.

Após um protesto da Quick-Step Floors, a organização analisou a situação e expulsou Grivko da Volta ao Dubai. Porém, o ucraniano enfrenta uma sanção bem mais pesada. Grivko poderá ser suspenso seis meses (o máximo) caso a UCI considere que "o ciclista se comportou de forma violenta, manchando a imagem, reputação ou interesses do ciclismo ou da UCI". Mesmo que escape à pena mais pesada, Grivko sabe que no mínimo poderá estar um mês suspenso. Contudo, há uma outra regra que, independentemente do tempo de suspensão, permite que o presidente ou vice-presidentes da UCI possam banir o ciclista dos Mundiais, campeonatos nacionais e Jogos Olímpicos.

Também a Astana e a própria federação de ciclismo da Ucrânia podem ser suspensas devido à agressão de Grivko, mas tal dificilmente acontecerá. Certo, é que o ciclista ficará impedido de competir em qualquer corrida, mesmo que a prova não pertença à UCI. Se o fizer, a sua pena pode ser agravada.

Monetariamente, Grivko não se deverá livrar de uma multa, que pode ir dos mil aos cinco mil francos suíços (cerca de 936 a 4700 euros). O ciclista ficará igualmente impedido de receber dinheiro da federação ou de patrocinadores.

A Astana reagiu no Twitter, pedindo desculpa a Kittel e à Quick-Step Floors.

No entanto, o ciclista alemão não aceitou o pedido de desculpa: "Não teve nada a ver com o ciclismo. O que o Grivko fez é uma vergonha para o nosso desporto"

A versão de Andrei Grivko

O ucraniano, de 33 anos, também recorreu às redes sociais para abordar o assunto. No Facebook, Grivko escreveu que Kittel criou "uma situação muito tensa e perigosa" que poderia ter provocado uma "grande queda no pelotão". "Eu respondi a uma acção agressiva com outra acção agressiva. Talvez eu tenha sido emocional e tal nada tem a ver com o ciclismo, mas em situações extremas, quando está em causa a segurança, é difícil ficar calmo. Acredito que este tipo de comportamento, colocando em perigo vidas e saúde dos atletas devido ao seu egoísmo, também não tem nada a ver com o ciclismo. No pelotão somos todos iguais e temos os mesmos direitos nas posições que ocupamos, não interessa se se é um sprinter famoso ou um neo-pro. Devemos respeitar-nos mutuamente", lê-se no texto que Grivko publicou (pode ler em baixo).



O ciclista pediu desculpa pelo seu comportamento aos organizadores da Volta ao Dubai, aos adeptos e à sua equipa. Grivko ainda fez uma referência às diferenças de peso entre os dois corredores - o ucraniano tem 70 quilos e o alemão 86 -, reagindo ao twit de Kittel que se tornou viral (ver em baixo).

Outros casos

Não são muitos, mas o ciclismo já teve outras situações de boxe. Um dos casos mais conhecidos envolve o português Rui Costa (então na Caisse d’Epargne) e Carlos Barredo (Quickstep-Innergetic). O espanhol não terá gostado da forma como Rui Costa tentou colocar o seu colega, José Joaquín Rojas, para discutir a vitória numa etapa da Vuelta. Algumas cotoveladas, ao que parece. No final Barredo confrontou o português e acabaram ao murro e parece que as mães de ambos também sofreram algumas ofensas... A organização permitiu que Rui Costa e Barredo continuassem em prova, mas tiveram de pagar uma multa de 400 francos suíços (cerca de 370 euros).



Recuando até 1995, e novamente na Volta a Espanha, aconteceu uma das cenas de pugilato (ou algo parecido) mais populares do ciclismo. O espanhol Ramón González Arrieta (Banesto) e o venezuelano Leonardo Sierra (Carrera Jeans-Tassoni) terão caído, mas as imagens já só demonstram o que aconteceu depois. Foi preciso os motards intervirem para separar os ciclistas que não revelaram grande talento para o boxe, mas as imagens continuam hoje a ser recordadas sempre que se fala em lutas do género no ciclismo. Os dois foram expulsos da corrida.



E também a Volta a Portugal já teve o seu momento de boxe. Foi na sexta etapa da edição de 2014 e os envolvidos foram Vicente García de Mateos (espanhol do Louletano) e o dinamarquês Asbjorn Kragh Andersen (Christina Watches). Os dois conseguiram aplicar uns bons golpes antes de ciclistas de outras equipas e um agente da polícia os separarem. A organização da corrida não hesitou: a Volta a Portugal acabou ali para os dois corredores.



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